FUGA
Hirtis
Lazarin
O
estresse do dia-a-dia acabou comigo. O
corre-corre no escritório, clientes impacientes, horas extras a perder de
vista, as horas perdidas no trânsito transformaram-me num trapo de gente. Robotizada.
Não
acredito em quem diz que as pessoas param de sonhar porque envelhecem. Eu estou envelhecendo porque parei de
produzir sonhos.
E,
num momento de rara lucidez, joguei tudo pro alto. Pedi demissão, arrumei as malas, não dei
adeus a ninguém e voei. Voei pra
Firenze. Um cantinho acolhedor que
respira arte, comida boa e ótimos vinhos.
O
mês era julho. Dias longos, cheios de
vida, cheios de poesia, cheios da alegria de milhões de turistas.
A
lua ansiosa não encontra seu espaço e vê-se obrigada a expulsar o sol que ainda
esbanja cores. Teimoso, despede-se
querendo ficar.
Em
cada canto, flores, flores e mais flores.
Uma
abundância colorida que amansa a alma, que nos inspira e nos faz sonhar. E não é que nos sonhos há espaço até para o
amor?
Andei
o dia todo, sem pressa nem hora pra voltar.
Caí bem cedo na cama e adormeci como não fazia há séculos.
Era
madrugada. Acordei bruscamente como se
um meteorito tivesse caído sobre mim.
Gelei
dos pés aos cabelos. Seria mais que
normal um grito assustado, um pedido de socorro.
Não
sei explicar o porquê, mas permaneci imóvel, de olhos fechados.
Senti
um corpo desnudo e quente roçar o meu debaixo dos lençóis. Com esforço mantive a respiração controlada
na espera atenta e angustiante do que viria depois.
Seria
um louco? Um assassino de mulheres? Ou um estuprador?
Um
perfume masculino amadeirado penetrou-me as narinas, caminhou até meu cérebro e
o cérebro passou a emitir ondas de prazer.
Braços
másculos enlaçaram-me com a força de Hércules e a delicadeza de Romeu.
Mãos
grandes alisaram meus cabelos negros e fartos.
Eu
já não me dominava mais. Liberei os
desejos, os mais sensuais, os mais pecaminosos.
Perdi o pudor.
Lábios
ávidos úmidos encontraram os meus
receptivos. Bocas ardentes.
Ainda
de olhos fechados, desfrutei a magia daquele momento único.
Entregamo-nos
de corpo e alma. Não sei por quanto
tempo... Até que gritos prazerosos
explodiram barulhentos.
Pausadamente,
a respiração ofegante voltou à calma, os braços se afrouxaram e a cabeça tombou
no travesseiro abandonado.
O ar
tinha gosto de felicidade.
Senti
a paz de criança embalada no colo materno.
Caí
num sono profundo.