O Sequestro
Adelaide
Dittmers
Aprisionado
em um cubículo, cujas paredes, sem reboque, mostravam tijolos mal assentados, um
homem estava sentado em um velho colchão. O rosto entre as mãos e os braços nos joelhos.
Seus
pensamentos se atropelavam e tentavam reconstituir o que tinha acontecido.
O
encontro com amigos. A saída do
restaurante. O caminhar até o carro. O
cano do revólver em suas costas. A voz do assaltante, áspera e incisiva.
— Me
dá a chave!
O
aparecimento de mais um homem, que o empurrou até a porta do passageiro. A
surpresa e a impotência que tomou conta dele. A arrancada do veículo. O
revólver encostado em sua nuca, na mão do segundo homem, sentado no banco traseiro.
O
suor, que escorria pelo seu rosto. A
sensação de irrealidade do que estava lhe sucedendo.
— O
que vocês querem? Perguntou tentando mostrar uma falsa calma.
— Seu
dinheiro!
— Não
consigo sacar dinheiro do banco a esta hora!
—
Banco? Você acha que queremos seus trocados? Sabemos quem você é. Queremos muita grana, ou você já era!
Um
arrepio sacudiu o corpo do homem. Apesar do suor, que empapava suas roupas, as
mãos estavam geladas.
O
longo trajeto, que percorreram até a periferia do sul da cidade. A tapera, onde o colocaram, coberta pela
escuridão da noite. Os empurrões. As
ameaças. Os telefonemas para a família. A tristeza pelo sofrimento da esposa e
filhos. A incerteza de que mesmo que lhes
fosse dado o resgate, ele sairia vivo dessa enrascada.
A
sensação de sufoco o tomou e ele sacudiu a cabeça para espantar a
vulnerabilidade de sua situação.
A
porta aberta com violência e a entrada dos dois sequestradores tiraram-no de
seus pensamentos. O coração
disparou. Lá vinham com mais exigências. Um deles tinha um celular e disse
ameaçadoramente:
— Diga
aí pro seu filho que, ou dão dez milhões, ou você vai para as cucuias!
As
mãos trêmulas do refém quase não conseguiram segurar o telefone.
—
Jorge, você ouviu o que ele disse. O
celular estava com a viva voz ligada.
— Dê
um jeito de providenciar o dinheiro.
Aquele dos investimentos no sul.
Fale com Jarbas. Ele dará o
dinheiro a você.
O
jovem do outro lado da linha franziu a testa.
Sul...Jarbas... O que o pai estava querendo dizer? Subitamente uma luz
acendeu em sua mente. Era um
código. Jarbas era o procurador da
justiça, amigo de seu pai. Colocaria
toda a polícia à sua procura. E sul,
sul? Lógico, o pai deveria estar em
algum lugar da zona sul da cidade.
O
filho disfarçando respondeu:
— Como
podemos saber que vão trocar você pelo dinheiro?
— Deem
o dinheiro e seu pai sai com vida. Vamos dar as instruções, onde deixar a
grana. E nada de surpresas, senão seu
pai morre.
Passaram-se
vários dias até o acerto do lugar e do dia em que a quantia seria entregue.
Enquanto
isso, um grande esquema policial foi montado.
Na entrega do resgate, policiais à paisana estariam escondidos. Seriam usados sinais eletrônicos para seguir
os bandidos.
No dia
e hora combinados, os criminosos foram até o lugar, uma estrada de terra,
cercada por um matagal. Saltaram do
veículo, com olhos atentos, que espreitavam os arredores. A mala com o dinheiro estava lá. Eles a abriram e se abraçaram, dando
gargalhadas.
—
Quanta grana, meu irmão!
— E
agora, que vamos fazer com o homem? Damos conta dele assim mesmo? Perguntou o
outro.
— Ele
não viu nossas caras. A máscara nos
escondeu. Só que temos que ter atenção,
porque podemos sofrer uma emboscada. Não
confio nessa gente.
Entraram
no carro e aceleraram, apesar dos buracos da estrada, que os faziam
sacudir. Porém, ao lado do caminho,
policiais escondidos acompanhavam o trajeto deles.
Uma
hora se passou até alcançarem o casebre.
Entraram e logo apareceu o homem com os olhos vendados. Iriam deixá-lo
longe dali.
Entraram
no carro e desceram a estrada íngreme. O
refém perguntou, forçando uma voz firme, embora seu corpo estivesse gelado:
—
Onde estão me levando? O que vão fazer comigo?
— Cala
a boca! Sem perguntas!
O
pobre homem se encolheu no banco.
Após rodarem por quilômetros e iam pegar a estrada principal, foram cercados por
um forte contingente policial. Não podiam escapar e se matassem o refém,
poderiam ser mortos também.
Desceram
do veículo com os braços levantados. O homem foi retirado do carro. O corpo
inteiro era sacudido por tremores e um choro convulsivo explodiu de seu
peito. Baixou a venda e fitou com ódio
os malfeitores. Vencera. Tinha
conseguido escapar.
Conduzido
pelos policiais, foi até uma das viaturas com passos trôpegos. Estava muito fraco e abatido. Saíra ileso e jamais se esqueceria daqueles
dias terríveis em que a morte o espreitou em cada minuto, em cada segundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.