Decepção
Adelaide
Dittmers
Jussara
pegou a bolsa com força. Piscava para
disfarçar as lágrimas que teimavam em desabar pelo rosto contraído.
Saiu
abruptamente do escritório. Com passos
rápidos chegou até o carro. Abriu a
porta e se jogou no banco. A bolsa voou
para o assento lateral. A cabeça
latejava.
Como
puderam fazer aquela palhaçada e dar a promoção à Mariana. Ela é que merecia aquela posição. Trabalhara como uma louca, dedicara-se
totalmente, esquecendo sua vida particular.
Atravessara madrugadas, montando aquele importante projeto. E agora, só
porque Mariana era sobrinha do diretor, fora escolhida para tocá-lo. O trabalho dela era mal-elaborado, cheio de
falhas, o que prejudicaria a empresa.
Estava inconformada. Era uma grande injustiça.
Ligou
o carro. O pé apertou o acelerador. Os
pneus guincharam com a arrancada violenta.
Percorreu as ruas automaticamente. Fechou outro carro, cujo motorista
buzinou, gritando um xingamento. Passou por um sinal vermelho.
Com
sorte, chegou ilesa ao prédio em que morava. Afundou com força o botão do
elevador, rezando para estar vazio. Não
queria ver ninguém e ter que fingir que estava tudo bem. Soltou um suspiro
profundo ao chegar ao seu andar.
Abriu
a porta e se jogou no sofá. “Não vou suportar essa sacanagem. Amanhã peço minha demissão.”
O
celular tocou. Era Lúcia, sua grande
amiga. Hesitou em atender, mas precisava
desabafar com alguém.
Uma
voz preocupada soou do outro lado da linha.
— Ju,
querida amiga, nem vi você sair. Já sei
o que aconteceu. A notícia está correndo
solta por aqui. Você não merece
isso.
— Vou
sair da firma. Estou decidida. Sei que
tenho capacidade para trabalhar em outro lugar, onde reconheçam meu valor.
—
Acalme-se! Não se precipite!
— Estou
tentando digerir minha decepção, mas não fico nem mais um dia nessa empresa.
Perdi o Fred pela loucura do meu trabalho.
Adiei férias. Passei fins de
semana no computador. Perdi o chão.
—
Estou indo aí para tomarmos algo e você espairecer. Ah! O Jorginho está ao meu
lado e também quer ir.
Jussara
ficou por uns segundos em silêncio e respondeu com uma voz entrecortada pela
emoção.
—
Venham sim! Estou precisando de boa companhia.
Um
pálido sorriso aflorou em seus lábios. Pelo menos tinha amigos.
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