O
VELHO SOBRADO DE ARMINDA
Henrique Schnaider
Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil
de navio em 1870, e devido a abolição da escravatura, o Governo deu incentivo a
imigração, devido a necessidade de mão de obra para a lavoura de café.
A família dos Rosset veio para o Brasil, no primeiro
navio que trouxe imigrantes, de nome Andrea Julia, nele vieram o casal Roberto
e Gina, bisavós de Arminda, com dois filhos Armando que viria a ser pai de
Arminda, e o irmão Romulo.
Subiram para São Paulo de trem, encantados com tanta
vegetação verde, chegaram à Estação da Luz, encantados com tudo que viam,
pegaram o trem de Prata, foram para a cidade de Araraquara, depois viajaram
muitas horas numa carroça puxada a burros, para fazenda São Luiz, onde
trabalhariam na colheita de café.
Foi uma vida dura, trabalharam alguns anos como meeiros,
a noite era um doce prazer, comer polenta, angu, polenta frita, doce de
polenta, ninguém ligava que era tudo da farinha de milho, para eles abençoado
ouro dourado, o almoço era nos campos da plantação de café, comida fria, triste
e amargo sabor da miséria, mas a fome ignorava este detalhe, a energia gasta e
suada, era muito grande, comiam sem nenhum prazer, pura necessidade de
sobrevivência.
Com o tempo as coisas começaram a melhorar, tinham
uma horta com muita hortaliça, legumes, passaram a criar porcos, galinhas,
ovelhas, perus e assim, os sábados e domingos passaram a ter um sabor de festa
deliciosa, porquinho assado, pururuca, um franguinho, polentas de todos os
jeitos, os sonhos dourados da América estavam se realizando.
Com o tempo, Roberto conheceu o prazer de ganhar
dinheiro, Gina começou a vestir-se muito bem, ganhava roupas da moda do marido,
Armando e Romulo, foram para a capital estudar e tentar melhorar na vida.
Romulo foi em frente nos estudos, conseguiu formar-se Advogado, já Roberto meio
cabeça dura, parou no Ginásio.
Roberto comprou um sitio com a ajuda do pai, próximo
de São Paulo, plantava de tudo, legumes, hortaliças e frutas, tornou-se
feirante no bairro da Mooca, comprou um velho caminhão, motor no fim, fazia
room room, não o chique de um motor novo, rum rum, mas dava pro gasto, e o
italiano foi melhorando de vida.
Com o passar do tempo, ampliou sua barraca que ia de
vento em popa, comprou um caminhão novinho, e uma casa na Mooca, trouxe seus
pais Roberto e Gina para morar com ele, já tinha dois empregados,
Agora era hora do coração pulsar mais forte, dinheiro
no bolso, anima o amor que vem do coração, Armando apaixonou-se por Helena,
filha do feirante vizinho, que viu com bons olhos aquele romance, a garota se
desmanchou pelo feirante, e do namoro ao casamento foi um pulo.
Depois de um ano nasceu Arminda, criança linda, alegria
do casal, felicidade tomando conta, assim ela cresceu, numa família católica,
ia todos os domingos à igreja, estudou num colégio de freiras, foi só até o
Ginásio, mulher naqueles tempos era para se casar e ser dona de casa, e nisso ela
era muito boa, foi educada para ser uma esposa exemplar e a melhor dona de
casa.
Arminda se casou com Adelino, feirante, para manter
a tradição da família, o casal teve dois filhos, que estudaram, se formaram, um
Advogado, o outro Médico. Ela está com 85 anos, já não tem os pais. Agora se
diverte com os quatro netos que são a alegria da vida dela. Há faz dois anos ficou
viúva. Agora virou concheteira de vez, quando não está com os netos, passa o
tempo todo na janela, xeretando a vida dos outros.
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