O TROPEIRO
GASPAR
Claudionor Dias da Costa
O
que teria acontecido comigo e por onde eu taria, se naqueles meus vinte anos a
Maria da Glória não “houvesse” fugido com meu amigo Fagundes?
Hoje
tô eu aqui pensativo e ainda sortero ruminando uma solidão mas, tô até
consolado por esse charuto gostoso. Caramba, fazia 3 dias que não fumava um
trem tão bão...
Parece que foi ontem. E passou 50 ano...Eta Maria da Glória. Ela me
tirava o sossego.
Nos
meus 25 ano que eu tinha que me engraça tanto pro lado dela? Era aquela brancura de pele macia, o sorriso
tímido olhando prá baixo, os cabelos lisinhos naquelas tranças ou aqueles oios
castanhos da cor da rapadura que o Zé Mineiro fazia no seu sitio? Ela era
aquela formosura Era como disse o locutor otro dia no rádio elogiando o
compositor sertanejo: ”o conjunto da obra” Ah! Ah! Ah! Só rindo memo sô...
E
isso aconteceu naquela minha querida Varginha das Minas Gerais.
Naquele
dia gostoso com baita sor, tava na praça
com a turma do Bento Folgado jogando conversa fora , quando surgiu o Dotor Bermiro . Eta home rico. Esse tinha parte com tudo que
é anjo de proteção prá ganha tanto dinheiro. Dono da Fazenda Estrêla, aquela
grandeza de terra que os oios não alcança o fim. Tanto gado que precisava de
200 anos prá conta tudo.
Ele
surgiu do nada, com aquele chapelão de firme americano, camisa enxadrezada e tão
apertada que o barrigão de prosperidade chegava antes dele em quarquer lugar .E aqueles suspensórios
bonito com fechos dorados que brilhavam mais que o sor daquele dia. E aí ele
sortou aquele vozeirão:
- Bom dia pessoar!
O Bento inté
aprumou e nóis respondemo que nem corar da igreja:
-Bom dia, Dotor Bermiro.
E ele
engatou logo no assunto dizendo que precisava de 2 troperos prá leva 40 cabeça numa fazenda lá prós lado de "
Carmo da Cachoeira”. Eu e o Camargo logo
falamo que queria ir.
O dificir foi fala prá Maria da Glória que eu fica uns 15 dia
longe dela.
Mas, eu fui. Precisava demais, inté porque eu tinha combinado de juntá um tanto a
mais prá casá . Eta meu Deus...Eu tava apaixonado demais, sô...
Depois de tanta dificurdade eu e o Camargo vortemo
cumprindo aquela missão.
Fui direto procurá a Maria da Glória. A Dna Rosinha,
mãe dela olhou prá mim com a maior tristeza e vergonha do mundo, cos cabelo
desalinhado e com a boca tremendo e nervosa, que inté aparecia as faias dos dentes:
— Gaspar, a Glorinha fugiu com o Fagundes, aquele
desgraçado...
De repente o mundo desabou...Eu não consegui falá
nada.
Virei as costas e fui direto pro bar do Raimundo.
Acho que naquele dia tomei todo o estoque da cachaça dele. E devo ter contado
inté demais que nem lembro...
Dormi tudo que podia e no dia seguinte principei a
lembrá como o Fagundes olhava pra ela, e aqueles cumprimento com bocão que
escondia o bigode. Que raiva!
Nunca imaginei...O Camargo me falo com aquele
jeitão tímido dele prá tomá cuidado com o Fagundes, que ele farso e tal e
coisa. Eu sabia que ele custumava pega dinheiro emprestado e enrolava prá pagá
o pessoar. Achei que era esse o
probrema.
Comecei a ser olhado na cidade e ninguém disfarçava
os risinhos quando eu passava.
Num guentei... Saí de lá depressa e tô aqui a esse
tempão em Bragança Paulista.
Só vortei prá mor de carregá minha mãe comigo. Coitada,
não duro muito.
Fico sempre a amizade do Camargo, que não esquecia
de me procura cum cartas ou no telefone
do Bar do Raimundo, contando os causos
da nossa Varginha. E ele inté me contou do destino da Maria da Glória e do
desgracento do Fagundes. Outro dia vo alembra de mais história desse vidão.
Olhando pro céu agora, parece que a chuva vem. Vô me recolhe e acabá de fumá esse
charuto abençoado e num fica lembrando disso. Nessas baforadas, parece que o
sorriso dela está no meio...Eta, memória birrenta ,sô!
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