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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O VELHO TREM! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



O VELHO TREM!

Dinah Ribeiro de Amorim

 


É um velho trem, ou uma carcaça de vagões, encostado num campo aberto da cidade, fora dos trilhos.

Pelo modelo, foi útil e ligeiro muitos anos atrás.  Bastante longo. Através de suas janelas, algumas ainda em bom estado, observa-se que foi uma locomoção muito usada e elegante.

De longe, é triste, solitário e abandonado. De perto, aparenta um resto de vida e contentamento.

Crianças aparecem para brincar e entram nele. Readquire, então, vontade de voltar ao que foi, lembra-se de viagens passadas e dá um meio sorriso.

Facilita como pode a correria delas, por entre seus corredores e bancos.

Já foi um trem muito utilizado pelo pessoal mais antigo. Pessoas ilustres se locomoviam, através dele, pelas estradas de ferro do nosso estado.

Ouvindo os gritos alegres da meninada, recorda-se das senhoras elegantes que traziam seus bebês gorduchos e risonhos ao colo. Adormeciam logo, assim que iniciava seu trajeto de barulho rápido e ritmado, ondulado e único, sem sair dos trilhos. Amava vê-los. Parecia-lhe uma comunicação com o futuro que já ameaçava chegar, cheio de inovações.

Antigamente, os transatlânticos lideravam as viagens internacionais. As terrestres, somente os trens, iguais a ele, imperavam entre os viajantes.

Eram chiques, bem acolchoados, forneciam estabilidade e conforto aos que os utilizavam. Até refeições ofereciam.

Em pouco tempo, tudo mudou. O chamado progresso, desenvolvimento das cidades, aumento de população, transformou nosso domínio. Surgiram os ônibus para transportes, as viações, acabaram conosco. Fomos deixando, aos poucos, de funcionar.

O aumento dos automóveis particulares, as facilidades das compras também contribuíram para que ninguém mais usasse os trens. Ficamos sem nada, ou melhor, a ver e ouvir também aviões.

Com tanta inovação, acabamos sendo utilizados como ferro-velho, um ou outro, como museu, exibido como antiguidade. Ainda alguns tiveram essa sorte.

“Ah! Que pena, a criançada vai embora! Adeus, crianças, esperem, quero abraçá-los. Voltem sempre para eu me alegrar um pouco.”

Uma mãe vem buscá-los e ainda grita:

_Cuidado, crianças, não corram aí dentro. Podem se machucar com algum prego solto ou ponta de ferro.

O coração do velho trem se fecha, endurece, não deve sentir o presente. Ficou no passado, mas pequena lágrima rola do teto e escorre pelo vagão do maquinista.

O passado, difícil de esquecer totalmente…

 

 

 

 

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