A PERFÍDIA
Dinah
Ribeiro de Amorim
Prim...Pirim...Pim...Pim...
Olívia
debate-se na cama e acorda assustada. Desliga o relógio e percebe que Carlos
não veio dormir. Sabia que chegaria tarde, mas não dormir em casa... nunca
aconteceu.
Suas
dúvidas e ciúmes aumentam. Logo pensa: “Está mesmo apaixonado por outra mulher.
Acho que é a nova secretária. Que tristeza! ”
Levanta-se
rápido e prepara os filhos pequenos para a escola. Era Carlos quem os levava.
—
Estamos atrasados, levantem rápido. Papai não chegou do trabalho.
Deixa
os filhos no colégio, às pressas, e pensa em ir até a mãe, aconselhar-se.
No
caminho, lembra que esqueceu o celular. Faz meia volta e retorna.
Ao
entrar, escuta o som estridente do aparelho e percebe também estranhas mensagens.
Atende
e é a secretária do marido, apreensiva, avisando que há uma reunião importante
na firma e ele está atrasado.
Olívia,
estranha sua voz e pergunta:
— Mas
não sabe onde ele está? Não voltou para casa ontem.
Margot,
responde, espantada, que Carlos não veio trabalhar no dia anterior, pensou até
que estivesse doente.
—
Nossa, responde Olívia. Vou ver algumas mensagens que estão aqui. Logo retorno.
Começa
a verificar algumas frases de desconhecidos e gravações deixadas. As mãos
trêmulas e o remorso pela desconfiança do marido começam a aparecer.
Uma
voz baixa e rouca, deixada na tarde do dia anterior, avisa-lhe que o marido
está em poder de um grupo, bem guardado e escondido. Querem resgatá-lo por uma
quantia em dólar; receberia instruções logo após. Ah! Que não avisasse a
polícia e eles poupariam sua vida. Desligam.
Mais
umas três chamadas, mais tarde, ameaçam a vida de Carlos, se não responder às
ligações.
Olívia
estremece apavorada e arrepende-se de ter saído, no dia anterior. Foi ao cinema
com Dina, sua prima, e, na verdade, odeia andar com celular. Não o levou.
Detesta modernidades.
Senta-se
no sofá e espera nova ligação dos sequestradores. Coitado de Carlos, pensa,
como aconteceu uma coisa dessa com ele! O que fazer?
Tocam
novamente e ela, quase sem voz, atende.
O
mesmo som baixo e rouco, avisa-lhe que querem devolver o marido são e salvo,
mas precisaria levar cem mil dólares, até um local que determinariam. Sem
avisar a polícia.
Olívia
pergunta como está o marido? A coragem e a revolta pela situação voltam aos
poucos.
Colocam
o marido para falar com ela.
—
Olívia, estou vivo, sem ferimentos, mas são perigosos. Pelo amor de Deus,
livra-me deles. Dá um jeito de fazer o que eles querem.
E
acaba a ligação.
A esposa
aflita, não acostumada com conflitos, fica de cabeça baixa, pensando...
Estavam
em boa situação financeira, com Carlos, advogado de uma firma de Seguros, mas
com pouco dinheiro em conta. Não possuíam essa quantia.
Sua
mãe, uma senhora viúva, aposentada, vivia modestamente, com despesas pagas e
alguns extras para alimentação e remédios.
Os
sogros, pessoas simples, de vida modesta, comentavam com orgulho terem
conseguido formar o filho advogado. Não, não poderia contar com eles.
Vai ao
quarto das crianças e, entristecida, examina os detalhes, os brinquedos, e
pousa o olhar num quadro, pintado pela mãe, com a figura de Jesus abraçando uma
criança.
Emociona-se,
ajoelha-se e ora a Deus, antes de qualquer atitude. Como resolver a situação?
Lágrimas
quentes escorrem pelo rosto e seu peito estremece em soluços fortes.
Acalma-se
aos poucos e vem à mente a figura do Joel, o presidente da Seguradora e chefe
do marido.
Dirige-se
a ele, ao entrar na firma, e expõe, trêmula, a situação.
Joel
recebe-a amistosamente e, ouvindo-a, endurece o semblante e medita sério no
assunto.
Carlos
era amigo, bom advogado, já havia resolvido vários problemas financeiros da
firma, gostaria muito de ajudá-los. A quantia era grande. Não dispunham dela,
no momento. Ainda mais em dólar. Difícil comprar.
— Dona
Olívia, não seria melhor avisarmos a polícia? Esses casos de sequestros,
geralmente, mandam comunicar à polícia, em primeiro lugar.
Olívia
reage com susto e medo.
— Eles
ameaçaram matá-lo!
Joel
entende bem a gravidade e acha melhor esperar nova ligação dos sequestradores.
Queria falar com eles.
Olívia
dá um suspiro profundo.
Nova
ligação é feita e Joel atende no lugar de Olívia. Afirma ser um amigo da
família a combinar a troca. Impossível em dólares, mas talvez conseguisse em
real.
É
feita a combinação da hora e o local da entrega, fora da cidade, em terreno
solitário, indo somente ele e a esposa de Carlos.
Prometiam
entregar o refém logo que pegassem o dinheiro. E nada de polícia.
Nesse
mesmo dia, à tarde, Olívia pede à mãe para buscar as crianças e ficar com elas.
É uma emergência. Depois explicaria.
Acompanhada
de Joel, aguarda em casa, o horário combinado: dez horas da noite.
Joel
avisa Olívia que irá voltar ao escritório para conversar com o contador.
Como
não era esperado, depara-se com Margot falando ao telefone, assunto sigiloso.
Disfarçadamente,
procura escutar o que fala e ouve qualquer coisa sobre dinheiro e hora.
Esta,
ao vê-lo, encerra rápido a ligação e, branca de susto, pergunta de Carlos.
Joel,
desconfiado, acha melhor não dizer nada. Chama às pressas, Fernando, um amigo
detetive, experiente, e pede para inquirir a vida dos seus funcionários,
principalmente Margot, a nova secretária.
Fernando,
sabedor do sequestro, avisa a polícia e descobre dados importantes: Margot tinha
passagem pela polícia por roubo, usava um nome falso, embora tivesse diploma
superior. Hélio, da Contabilidade, era jogador e, no momento, devia grande soma
de dinheiro a agiotas. Márcio, dos Recursos Humanos, sabia bem sobre a situação
financeira de todos. Maior ou menor seguro de vida.
Enfim,
Fernando, em poucas horas, descobre várias pessoas que poderiam estar ligadas
ao sequestro.
Decide
pedir à polícia que os interrogue e que também acompanhe Olívia e Joel, no
momento do encontro, às escondidas.
Nenhum
dos suspeitos têm ordem de deixar o local ou falar ao telefone.
Dez
horas da noite, dirigem-se ao encontro dos sequestradores munidos de dinheiro,
e percebem que Carlos não se encontra.
A
polícia aparece e cerca o local, acompanhados por Margot. Colocam algemas em
todos, obrigando-os a falar.
Margot,
a maior suspeita, vendo que o sequestro de Carlos não deu certo, leva-os até
ele.
Um
Carlos amarrotado, dopado e amarrado, encontra-se jogado num colchão sujo e
fedorento.
Carregam-no
para fora, prendem toda a quadrilha, encabeçada por Margot que, realmente,
tentou seduzir Carlos, com má intenção.
O
tempo passa. Nos dias seguintes, a casa de Olívia é momento de brindes e
reconciliação, animados por Joel e Fernando que, felizes, haviam resolvido o
caso.
A esposa,
ainda trêmula, beija o marido que se recupera abraçado aos filhos. Agradece ao
Joel e Fernando pela solução do sequestro e lembra-se da presença de Deus em
suas vidas, quando orou por socorro.
“Quando
a gente pensa que Ele está longe, é quando Ele está mais perto! ”
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