O
medo de Rebeca
Adelaide Dittmers
A tartaruguinha Rebeca
estava na relva escondida em sua grossa carapaça. Só se podiam enxergar os
olhinhos brilhantes.
Dona Orelhas Compridas, uma
simpática coelhinha saltava por ali, quando a viu toda encolhida.
— Rebeca, está um lindo dia!
Por que não sai daí para dar um passeio.
— Não quero! Tenho medo!
— Do que tem tanto
medo? Quase sempre que a encontro, você
está dentro dessa sua proteção.
A pobre tartaruga começou a
chorar.
— Você não sabe como sou
perseguida. Todos adoram fazer
brincadeiras maldosas comigo.
— Que tipo de brincadeiras?
— Um dia um passarinho bicou
minha cabeça. Outro dia, um macaco
jogou uma casca de banana em cima de mim.
Como sou vagarosa e não consigo me defender, os bichos adoram fazer
essas brincadeiras e depois saem rindo muito, quando me escondo em meu casco.
Orelhinhas Compridas ficou
com muita pena de Rebeca. Não era justo
se divertirem à custa dela. Resolveu
ajudá-la.
— Fique tranquila. Vou acabar com isso. E saiu saltitando.
Chegando à sua toca, fez um
grande cartaz, convidando todos os animais para uma grande festa no dia
seguinte. Para Rebeca, ela entregou o
convite pessoalmente, dizendo que ela não poderia faltar.
No meio da floresta, uma
grande mesa feita de bonitas folhas estava repleta das mais variadas e apetitosas
frutas. Ao seu redor, havia uma banda,
que tocava as músicas preferidas da bicharada.
Um portal, feito de galhos e flores indicava a entrada para a festa.
Rebeca chegou e passou
devagar pelo portal e foi de encontro da coelhinha, que a levou para um lugar
de destaque, onde poderia apreciar tudo à sua volta.
Os bichos foram chegando,
mas ficaram surpresos por que antes de entrar tinham que passar por um
teste. Na entrada, havia pesadas caixas
de vários tamanhos, feitas de pequenos troncos de árvores, que eram postas em
suas costas para serem carregadas até o centro da festa.
As reclamações foram muitas,
mas a vontade de se divertir fez com que eles aceitassem o desafio. Com dificuldade arrastaram-se até o lugar da
comemoração. Chegaram cansados e
incomodados pelo esforço.
Orelhas Compridas então
subiu em um pequeno monte e disse:
— Foi difícil, não foi?
Andar com essas caixas atrapalhando seus movimentos.
Todos concordaram e um deles
perguntou?
— Por que você fez isso?
— Para mostrar a vocês que
não se deve brincar com a dificuldade do outro.
Cada um é de um jeito. Precisamos
respeitar as diferenças. E apontou para
Rebeca, que se refugiara no seu grosso casco.
— Vem para fora, Rebeca!
A tartaruga foi colocando as
perninhas e a cabeça para fora. Os
olhinhos cheios de medo.
Os animais olharam uns para
os outros muito envergonhados e prometeram nunca mais mexer com ela e lhe
pediram desculpas.
A tartaruguinha sorriu feliz. Estava sendo aceita e iria ser
respeitada. Finalmente, iria fazer
muitos amigos.
— Vamos começar a festa,
gritou a coelhinha! E a alegria durou a noite inteira.
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