O
MENDIGO OSÉIAS E O SEU DESTINO
Alberto Landi
Todos os mendigos são solitários, pois a própria
pobreza os faz desconfiar inclusive de outros mendigos à sua volta.
Quando um tinha um cobertor melhor ou um apetitoso
prato de comida, o outro mendigo já o olhava com inveja e raiva fazendo todo o
possível para inverter a situação, até roubar do companheiro aquilo que lhe
faltava.
Oséias, um mendigo sofrido e bom, morando num canto
sujo e úmido de um bairro fino, nunca levantou os olhos a quem quer que passasse
ao seu lado mesmo porque ele era invisível aos olhos de quem não queria ver a
decadência de um homem ainda jovem e aparentemente saudável naquele canto sujo
e fétido. Todo mundo o evitava, passavam longe...ninguém queria estar
próximo a um indivíduo naquela situação.
Era um dia lindo e ensolarado para todos, menos para
Oséias. Os dias eram sempre iguais, cansativos, tristes, monótonos, pois não
tinha TV para se distrair, não tinha um sofá para descansar suas pernas magras
ossudas e nem mesmo uma cama para repousar seu corpo cansado!
A única vantagem de Oséias era que a noite ele tinha
uma visão surreal do céu, que as estrelas pareciam saudá-lo. Ele conversava com
elas, lhe dava nomes... Havia a Tiquinha que parecia estar sempre sorrindo pra
ele, a Destreza que era muito séria, mas a mais brilhante. A lzinda que
ficava o tempo todo apagando e acendendo. Parecia brincar de esconde-esconde
com ele. Elas eram suas únicas amigas.
Só depois que clareava o dia é que Oséias pegava no
sono, já com os ossos tão cansados e doloridos de dormir no cimento duro, e só
acordava quando o sol já estava alto no céu. Um dia, Oséias estava muito triste,
pois se sentia muito só e abandonado, e resolveu andar...andar... Até não aguentar mais, até suas pernas
dobrarem pelo cansaço e ele partir desta vida. Estava resolvido. Quem iria se
importar com ele, um sujeito sujo e fedido?
Caminhando por aquele bairro de gente fina quando
inesperadamente a sua frente surge uma criança. Um menino magro alto, de
cabelos encaracolados, olhos muito claros me encarou e disse:
— Tio, olha o brinquedo que eu ganhei. E ficou ao
meu lado, sem nojo, sem a repugnância que causava nos adultos, me mostrava tudo
do novo brinquedo, como funcionava, com bastante euforia como se amiguinho dele
ele fosse. Com voz embargada e comovida Oseias perguntou:
— Qual é seu nome?
— Gabriel. Na sua inocência nem imaginava que mostrou
a Oséias o caminho a seguir.
Há anos Oseias havia deixado a mulher e seu filho
numa cidade muito longe dali e na época ele achava que era um irresponsável e
inútil pois estava desempregado. Envergonhado decidiu sair pelo mundo e nunca
mais teve notícias da família. Resolveu voltar para casa. O seu lar o seu lugar
de onde nunca devia ter saído.
Ao chegar, de longe com os olhos embargados viu seu
filho jogando bola e a mulher no portão que parecia estar à espera. Ao verem
Oseias, eles correram e o abraçaram com o coração cheio de alegria. O mendigo
sentiu-se tão acolhido e amado que não parava de chorar.
Agradeceu aos prantos na mente, aquele garoto que
surgiu no seu caminho como por encanto lhe mostrando sem perceber que tinha que
voltar a vida da família. Tinha que lutar e nunca, nunca desistir dos seus
entes queridos.
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