O NOVO SHERLOCK HOLMES DO BRÁS
Claudionor Dias da Costa
Aquele emigrante argentino que deixou a cinco anos
“La Boca” na sua Buenos Aires e veio arriscar a vida em São Paulo, passou a
morar no bairro do Brás.
Seu nome Ramon Gregório Hernandez. Com seus
cinquenta e cinco anos e ainda sonhador e romântico, conservava uma ingenuidade
nata e declarava com seu sotaque imperdível:
− Por favor, “mi nombre es” Gregório.
E explicava que preferia ser chamado assim, devido
sua mãe ser de origem grega e este nome significava “o vigilante”, o “alerta”.
Com isto, queria apresentar uma altivez que não combinava com seu jeito simples
e inocente.
Após sobreviver com alguns “bicos”, conseguiu o tão
ambicionado emprego de zelador naquele edifício velho com dois blocos de
cinquenta apartamentos no fundo da rua de paralelepípedos do tradicional bairro
paulistano.
Os dias passavam numa rotina modorrenta naquele
edifício de moradores calmos e disciplinados, grande parte aposentados.
Ele aproveitava esta tranquilidade e tirava
cochilos após seu almoço no pequeno cômodo ao fundo onde residia.
Num dia no meio da manhã, o Sr. João, morador do
terceiro andar e síndico do prédio apareceu histérico chamando pelo Gregório.
Este apareceu rápido, o que não era normal e com os olhos esbugalhados ouviu o
berro dele apontando para um “cocô” no corredor:
− Quem fez essa sujeira?
− Procure imediatamente o responsável por essa imundice.
O zelador gaguejando prometeu resolver o problema e
descobrir o meliante.
O fato de se encontrar fezes no prédio em lugar de
uso comum, se espalhou rapidamente e começou a gerar fofocas e acusações.
No dia seguinte bem cedo, Gregório em seus
aposentos, vestiu sua capa e chapéu, que usava nas noites de boemia pela fria
Buenos Aires, pegou sua lupa que usava para ver melhor quando fazia palavras
cruzadas e olhando no espelho, estufou o peito e sentiu-se o próprio Sherlock
Holmes. Até mudou a expressão e confiante e célere saiu à caça do “criminoso”.
Parou no corredor de repente e, completamente
embasbacado ficou olhando para tudo em volta, porque novamente apareceu mais um
“serviço” do malfadado meliante.
Com sua lupa observou cuidadosamente e começou a
pensar qual teria sido o roteiro para tal delito. Principiou a levantar que
pessoas tinham “pet” e de que tipo no edifício. Por eliminação e devido ao
exame feito, pelo tipo, tamanho e circunstâncias, chegou à conclusão de que
seria algum cachorro e não muito pequeno.
Identificou oito moradores nessa situação.
E matutando:
− Seria da Dona Filomena, ou do Sr. Petrônio, ou
ainda da bonitona do quinto andar...Hum...hum...
E lá ia o nosso detetive andando para tudo que é lado,
inquieto e intrigado, analisando os donos dos “suspeitos”. Sabia que não
poderia acusar ninguém previamente sob pena de até ser despedido por falta de
respeito.
O síndico aumentou a tensão quando colocou nos
elevadores avisos enérgicos sob os procedimentos e mencionando explicitamente o
ocorrido e alertando para as multas que seriam fatais, principalmente porque
aquilo ocorria várias vezes.
Como o prédio por medida de economia somente tinha
câmeras nas entradas, não havia possibilidade de identificar precisamente o que
ocorria.
Gregório resolveu ficar vigilante, principalmente
no período da manhã quando os moradores saem com os cães para passeio. Assim, escondeu-se
atrás da parede em que ficavam encostadas as lixeiras no corredor entre os
blocos.
Parecia escutar aquelas músicas em filmes de
suspense. Sua respiração ficou ofegante. Até suava, esperando o grande desenlace,
para resolver de vez aquela situação que era cobrado a solucionar.
De repente, lá vem Dna. Eufrásia, caminhando
calmamente com seu cachorro labrador, já não muito novo. O nosso Sherlock tinha
uma certa reserva com ela devido à sua implicância com tudo. Ela reclamava de
tudo com ele e sempre discutiu com outros moradores e era avessa a respeitar as
regras do condomínio, bem diferente da grande maioria que era educada.
No seu íntimo sentiu que só poderia ser ela a
responsável. Nunca levava recipientes para recolher as fezes.
E de repente, suas suspeitas se confirmaram. O cão
parado repetindo no mesmo lugar o que fazia e a Dona Eufrásia parecia até ter
satisfação em ver o que ocorria. Rapidamente, Gregório preparou o celular e foi
tirando fotos.
Caminhou em direção a ela que já ia saindo e disse:
− No es
possible Dona Eufrásia tal procedimento.
Vou informar o Sr. João.
Ela ficou muda por instantes e xingando bastante se
dirigiu à rua.
As providências foram tomadas com punição com multa
e os moradores aliviados passaram a olhar o zelador Gregório com mais respeito.
Ele todo orgulhoso pendurou seu disfarce num cabide
bem evidente em seu quarto e ficou aguardando ansioso por novo caso a
solucionar, já que agora sua fama se espalhou como o novo Sherlock Holmes do Brás.
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