LEMBRANÇAS
DO PASSADO
Henrique Schnaider
Esta foto que tirei da minha janela me remete ao
passado e a vontade de fazer um conto memorialista, quando em São Paulo havia
prédios apenas no centro velho de São Paulo hoje minha querida cidade não para
de crescer, me lembro de uma antiga vinheta da rádio Jovem Pan, vamos embora,
vamos embora olha a hora, olha a hora, deixa São Paulo crescer.
Vejo a miríade de prédios, enxergo muito ao longe o
estádio do meu querido Palmeiras, clube do coração, vejo um guindaste a direita,
sinal da subida vertical de mais um arranha céu, à noite o céu se ilumina com
tanta luz de lusco fusco de centenas de prédios. Vejo as torres iluminadas da
Band e da Gazeta.
Parafraseando o cantor da minha preferência Zeca
Baleiro. Estou aqui na minha janela, não me sinto um solitário paulistano, não
me sinto só sozinho, não quero dar um beijo no português da padaria e nem vou
receber um telegrama nem do Aracaju nem do Alabama.
Na parte baixa da foto visualizei três casas. A da
esquerda é a do Luiz e da Lúcia, ele é meu massagista e assim foi durante
alguns anos toda sexta feira, lá ia eu cair nas mãos dele para relaxar e sair
pisando nas nuvens.
Veio a Pandemia e ele ficou meses sem ver ninguém e
faltou seu ganha pão, o aluguel vencendo o dinheiro não chegando. Aos poucos os
clientes foram voltando, só que eu sou dos grupos de risco e fico quietinho na
minha casa.
Da casa de frente a minha no centro, morava a Yara
mulher difícil geniosa, era complicado se relacionar com ela, morava sozinha,
nunca foi para a beira do fogão, recebia comida em casa, não se relacionava
bem, nem com filha única.
Aos poucos foi chegando à decadência, o Alzheimer
pegando, esquecia chaves, não falava coisa com coisa e dizia que todo mundo
queria o mal dela e assim ela ia no candomblé fazer um trabalho contra todos. Teimava
em sair com o carro não batia por milagre.
Por fim faleceu sem reconhecer ninguém e agora eu
olho para casa abandonada cheia de mato crescendo e é triste de se ver.
A direita fica a casa da pimenta italiana Domênica e
do marido Petras, filho de lituanos, aí eu penso que só o Brasil conseguiu esta
miscigenação de raças, de povos imigrantes vindos de todos os cantos do mundo.
Eu me relaciono bem com eles, ajudamo-nos mutuamente
nas horas de necessidade. Domênica é cozinheira de mão cheia e vira e mexe lá
vem ela, toca a campainha toda sem graça me trazendo macarrão com porpeta e
outros pratos da cozinha italiana.
Como sou chegado na cozinha e o Petras também,
ficamos trocando figurinhas, eu faço pratos da cozinha judaica, levo para ele e
tenho a retribuição dele, trazendo para mim da cozinha lituana.
Enfim com tudo que eu vi da minha janela, me sinto
feliz pois não estou só sozinho e nem sou um solitário paulistano, pois tenho
muitos amigos onde moro e curto eles sempre que posso.
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