Através
da minha janela
Adelaide Dittmers
Sempre as janelas se abrem
para o mundo lá fora, para a vida que corre pelas ruas, muitas vezes frenética,
outras, tranquila ou carregando tristezas.
Da minha janela posso ver
uma pequena amostra da minha cidade.
Avisto as cisalpinas, que nesta época do ano não estão cobertas de
flores, mas mesmo assim, verdes e bonitas embelezam e refrescam as ruas.
Vejo o céu, que ao
entardecer, tinge-se de um tom azulado e rosa.
As ruas estão vazias. De vez
em quando passa um carro.
Abaixo, pequenos sobrados se
unem como irmãos siameses. Num deles uma
linda primavera florida sobe pelo muro, talvez querendo alcançar as nuvens, que
se movem lentamente, formando inúmeras figuras.
Há um sobrado com pintura desbotada e muito maltratado. Quem será que mora lá? Talvez uma pessoa
solitária, sem condições financeiras para torná-lo mais bonito e arrumado.
Vejo também um prédio, cuja
fachada está com várias falhas, pois as pastilhas que a recobrem caíram. Parece
abandonado, mas pertence a uma só família, que, segundo sei, vivem lá, e é
endinheirada. Será que o descuido com
ele é por causa de algum desentendimento familiar?
Mais adiante, por um pequeno
pedaço, posso avistar a grande avenida, que quase corta a cidade de norte a
sul. Carros passam correndo por ela,
levando pessoas de um lado para outro.
Quantas histórias carregam. De
ambições, frustrações, conquistas, esperanças.
Seus ocupantes passam indiferentes, focados nos seus objetivos. Não vêem
nada em sua volta, preocupados em chegar logo a algum lugar, e para isso, mudam
constantemente de faixas. Por que tanta
pressa, pergunto-me, aonde querem chegar?
Passam correndo pela vida, não a apreciam por inteiro. Agem como se
fossem máquinas, não homens.
Ouço o barulho de um avião levantando
voo. Para onde irá?
Um vento fresco entra pela
janela, amenizando o calor do dia.
Através da minha janela,
vejo a natureza, as construções humanas e a vida que passa lá fora.
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