OLHANDO
ATRAVÉS DA JANELA
Leon Vagliengo
Uma crônica do estágio urbano crônico.
A
tarefa parecia simples: fotografar a paisagem através de uma janela de meu
apartamento e depois escrever um texto sobre as imagens observadas. Essa
proposta me fez lembrar que escolhi morar em andar alto justamente buscando uma
visão panorâmica privilegiada, mas também me fez realizar que havia muito tempo,
muito tempo mesmo, que eu não me detinha para apreciar a vista pelas janelas.
Para
a escolha das imagens eu tinha quatro alternativas, uma para cada lado do
prédio. Escolhi a que me pareceu mais promissora, uma janela voltada para o
Parque do Ibirapuera, levantei a persiana e abri os vidros, preparando-me para
me encantar com o que veria.
Não
foi o que aconteceu.
Fiquei
decepcionado ao constatar o que eu já deveria ter imaginado: No espaço onde a
paisagem outrora oferecia boa amplitude e alguma vegetação, vê-se agora a
prevalência quase absoluta do concreto, amontoado na forma de prédios de
moradia. Nenhuma passagem visual para o Parque do Ibirapuera, como havia antes.
No começo da Rua Tuim, há, sim, várias árvores. Vistas de cima, parecem um
pequeno bosque. Porém, estão sufocadas pelos prédios, e parecem estar em plena
e renhida batalha contra eles. Uma imagem muito estranha, provocando até, no
observador, certo desconforto estético, se é que se pode dizer assim.
Tentei
as outras janelas, não encontrei nada melhor em nenhuma delas, todas as
paisagens com horizontes limitados pelos prédios. Voltei então para a primeira
escolhida, pois a tarefa mal fora iniciada, e capturei a imagem.
A
seguir, observando a foto, nela procurei alguma inspiração que alimentasse o
pretendido texto. Mas o meu pensamento recusava-se a produzir ideias
interessantes.
Resolvi
suspender essa tarefa para aguardar um momento de maior inspiração e aproveitei
para sair em busca de um presentinho para a fisioterapeuta que tem me atendido,
pois ela anunciou que está esperando o seu primeiro bebê.
Andando
pelas ruas de Moema, tranquilas e bem arborizadas, diluiu-se completamente
aquela má impressão causada pelas imagens vistas das janelas. As ruas boas para
passeios, o comércio variado e de boa qualidade, os bons restaurantes, a
proximidade do Parque, tudo isso compondo um ótimo bairro para residir. Assim
deveriam ser todos.
Voltando
para casa examinei novamente a foto que não pode captar a antiga paisagem,
prejudicada que fora pela barreira de concreto formada pelos prédios. Logo
pensei nas vantagens oferecidas pelo bairro e me veio à mente o conhecido dito
popular: “tudo tem o seu preço”.
Adorei o texto e a forma habilidosa de usar as palavras para descrever emoções. Me senti como se fosse o observador da paisagem. Parabéns!!
ResponderExcluirMuito bom, papito!
ResponderExcluirMe senti na janela observando através do seu olhar!