SIMPLICIDADE
Hirtis Lazarin
Cheguei finalmente ao vilarejo incrustado bem no
alto da montanha. O caminho pedregoso e
escorregadio, cheio de curvas estreitas e serpenteantes, fez o táxi demorar
mais do que o previsto.
A chuva havia cessado e a lua crescente, num
sorriso cheio, apareceu entre nuvens velozes e banhou-nos, instantaneamente,
com sua luz incerta. Algumas estrelas
atreveram-se a aparecer. O céu ouvia e
via tudo calado: os grilos a trinar saltando, às escondidas, entre a vegetação
rasteira; as cigarras irritantes envolvidas numa cantoria monótona, a coruja a
postos fingindo ser a guardiã dos animais.
A pousada onde passaria os dias era toda de madeira
e com um só andar. Rodeada de salgueiros
e hortênsias parecia mais um ateliê de artista.
Adormeci cedo junto com os pássaros. Os lençóis brancos, fios egípcios,
acariciavam-me o sono cheio de pensamentos bons.
Assim que o clarão da manhã primaveril entrou no
meu quarto por um vacilo das cortinas mal ajustadas, saltei da cama. Tinha muito a desfrutar.
À primeira vista, o lugarejo cabia num só
olhar. Mais parecia um quadro pintado ou
um cenário fotográfico.
Uma paisagem pitoresca e cheia de magia como se
tivesse parado no tempo. Conservava o
charme bucólico do passado. As casinhas
seguiam padrão arquitetônico. Todas
pintadas de branco com sacadas suspensas e ornadas com floreiras
ornamentais. Passava-me a impressão de
competição prazerosa entre os moradores.
A Igrejinha... Ah! A igrejinha, não cabiam mais que
trinta pessoas. Na sua lateral leste, a sombra adocicada de uma castanheira em
floração. Atração aos pássaros e
borboletas. Foi construída em estilo
local, tijolos pintados de vermelho e um telhado que descia bem baixo sobre as
janelas como um chapéu a protegê-la do sol.
No final da rua principal, lá embaixo, o mar
espreguiçava em seu momento de sesta para não espantar um bando de gaivotas que
caminhava indiferente ciscando entre as pedras em busca do que comer.
Era início de temporada. Poucos turistas, quase só moradores
transitavam pelas ruas estreitas e calçadas com paralelepípedos. Gente simples e hospitaleira, de fácil
conversa. As pessoas andavam devagar, o
cachorro e o gato também, o dia passava devagar. Não havia pressa. Dava tempo para apreciar o café da manhã,
conversar com hóspedes, brincar com as crianças.
Momentos propícios para se valorizar a
simplicidade. Encontrar alegria no
simples que expõe a beleza crua e o gosto pela vida do jeito que ela é. Ter tempo para ouvir nossa alma.
Uma
borboleta amarela?
Ou uma flor
seca que se desprendeu e não quis pousar?
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