LEMBRANÇAS
DA INFÂNCIA
Henrique Schnaider
A pequena cidade de São Jose da Barra era um lugarejo
de coração bom, onde havia paz e tranquilidade. Uma igreja matriz, e lá todos
se conheciam, havia algumas lojas em volta da praça, todos estudavam na única escola
inclusive eu, com o nome pomposo de Prudente de Morais, passei pela professora
Alma, figura marcante, que ficou para sempre na memória de nossas vidas.
Passei lá minha gostosa e doce infância, meu pai, homem
rústico, trabalhador do campo, saía com o despontar do sol brilhante, de um amarelo
dourado, voltava suado, cheirando a trabalho duro, no pôr do sol de cores pálidas,
que terminava a lida diária de dar vida ao nosso planeta.
Minha mãe, todos a
chamavam de Ritinha, um doce de criatura. Fomos criados eu e minha irmã Sonia,
por ela, que nos transbordou de tanto amor e carinho, dedicava toda atenção,
para que tivéssemos do bom e do melhor, quando papai voltava da luta diária, lá
ia ela se desmanchar toda para ele, preparar seu banho de água morninha
cheirando a rosas.
Moravam conosco, meus avós, adorávamos ouvir as
longas histórias que ele contava, sempre com final feliz, sentado na cadeira de
balanço. Suas histórias prendiam nossa atenção, e nos enchiam de medo, durante
a narrativa, com seu longo cachimbo preto, do qual saiam longas baforadas de
cheiro forte do fumo trançado.
A vovó cheirava a vovó, que delícia de pessoa, com
seu vestidinho de chitão vermelho rubro, como quem fosse uma pessoa antiga. Durante
as histórias do vovô, ela trazia guloseimas dos deuses, aquele bolo de fubá
cremoso quentinho, um aroma que dominava o ambiente.
À noite, todos com banho tomado, eu e minha irmã,
corríamos para cozinha grande, com fogão cheio de lenhas, que pululavam e
crepitavam barulhentas labaredas, crept, crept, crept, para ver e sentir a
mistura de sabores e aromas que enchiam o ambiente de delícias. A negra Paulina
ajudando mamãe e dando o toque final nas iguarias.
Todos, na sala grande onde havia estofados em
capitonê, tapetes felpudos de tom vermelho maçã, uma cristaleira com muitos
cristais e louça portuguesa, talheres de prata, tudo herança de pai para filho há
muitas gerações. Meus pais e avós eram católicos fervorosos, iam todos os domingos
na missa, rezavam antes da refeição e ao término também. Papai depois do
jantar, deixava eu e Sonia, bebericarmos o licor de jabuticabas, feito em casa,
aroma inconfundível, e sabor inigualável. Nesse momento a conversa rolava
solta, o ar tomado pela fumaça dos cachimbos dos homens da casa, enquanto nós
dois corríamos em volta da mesa numa brincadeira de crianças felizes.
Depois de uma boa conversa, íamos para nossos
quartos, onde havia duas camas, com colchões recheados com paina e travesseiros
com pena de ganso, mamãe vestia nossos pijamas coloridos e com desenhos
infantis, contava histórias de duendes, fadas brilhantes e reluzentes, até a
gente pegar no sono, depois saia pé ante pé para não nos acordar.
De manhã lá vinha a Ritinha nos acordar, com a
delicadeza de um veludo, nos ajudava a trocar de roupa, íamos para cozinha
degustar um café da manhã com tudo que gostávamos, depois como íamos para
escola só depois do almoço, dava tempo para que eu e Sonia fôssemos brincar no
jardim encantado de nossa casa, com flores dos mais variados perfumes, horta, árvores
frutíferas, podíamos brincar de pega-pega e esconde-esconde.
Tempo bom que não volta mais, nos mudamos para a
capital, mas meus pais, nos deixaram esta herança preciosa, esta casa
maravilhosa que nos deu um passado que está preso aos nossos corações, sempre
que podemos, voltamos à nossa casa querida, onde ficamos por horas lembrando do
passado.
maravilhoso texto. parabens ao amigo Henrique.
ResponderExcluiro texto nos leva a doces lembranças de nossos avós e da infancia, que certamente estao armazenados em nossa memoria.