A
ESCOLA DA MINHA VIDA
Claudionor Dias da Costa
Nos meus sessenta anos e
carente de sentimentos de resgate de momentos passados, tomei a decisão e fui
para a rodoviária a caminho de minhas memórias.
Após algumas horas de
asfalto irregular, mudei para aquele ônibus sacolejante na poeirenta estrada
para reviver minha juventude feliz.
A cidade onde nasci é
pequena e pacata, bem diferente do tamanho da emoção que senti quando
cheguei. Um turbilhão brotou rapidamente em minha cabeça e procurei
me acalmar , fixando o olhar na igreja
do padre Jerônimo , tão generoso e melhor conselheiro das famílias de lá, que fez história com suas
andanças e amizades .Aquela torre amarelada que na época me parecia tão alta, de repente tornou-se tão pequena como o meu olhar perdido naquele transe ao lembrar o lugar que deixei
um dia.
Entrei num dos bares que rodeiam a praça Florença e enquanto me dedico a
saborear um sorvete de limão, pergunto ao rapaz atendente sobre as
oportunidades de estudo na cidade. E ouço o que parece palavras já de a muito tempo:
- Tem apenas uma escola pública de dois andares, recentemente reformada
antes da eleição, que fica colorida durante o ano letivo pelos uniformes azuis
que sobem a escadaria
Naquele instante, não perdi mais tempo, pedi para guardar minha mala e
caminhei em direção à escola. Passei pela rua lateral da praça, desci a ladeira
passando atrás da igreja e olhei à frente. Surgiu imponente ainda conservando a
fachada antiga.
A escadaria em frente à porta principal é a própria saudade do tempo
vivido ali.
Os amigos com seus apelidos malucos pareciam ainda circular ruidosamente
por aquele prédio e não mais que de repente lembrei dos olhos azuis da Maria
das Graças que causava inveja até para seu uniforme daquela cor.
Entrei nos corredores largos por onde corria tantas vezes, recebendo
broncas da Dona Albina, a severa inspetora de alunos. Acho que esta profissão
de bedel nem existe mais. Ou existe? Bem, segui em frente olhando aquele piso
de cerâmica quadriculada, confuso como boa parte de minha vida. Parei em frente
da sala em que fiz o quarto ano. As carteiras são mais modernas, coloridas e anatômicas,
bem diferente daquelas de nosso tempo de madeira envernizada com vãos nos
assentos e duras. As janelas altas são as mesmas e fiquei olhando para fora
contemplando as arvores e o gramado lateral, como se os anos não tivessem
passado.
Aquelas paisagens não muito diferentes de tantos lugares, mas, que nos
namoricos pelos cantos com a Maria das Graças traziam visões esfumaçadas como
se o paraíso fosse ali.
Com a formação no colegial parti para a cidade grande e com sacrifícios
consegui trabalhar com Contabilidade e prossegui pela vida, conseguindo depois
meu próprio escritório.
Após dois anos, casei-me com a Maria das
Graças e aquela menina dos olhos azuis radiante com alma generosa caminhou pela
vida ao meu lado. Tudo isto parecendo um pequeno instante mesmo após trinta
anos. E um dia de Outono aquele Amor se foi...Era um anjo que voltava para algum
lugar naquele imenso céu.
Nossos dois filhos que nos deram muitas alegrias partiram como águias em
suas asas de aventura para tentar a vida no exterior. Eu me aposentei.
E agora, estou aqui refletindo na escola que parece
parou no tempo e eu junto com ela. Conclui que é o cenário de fundo da minha
vida.
De repente parece que acordei. Caminhei apressado pensando em pegar
minha mala no bar e chegar à casa de meu primo que me acolheria.
Na rua, não resisti e olhei para aquele prédio onde
ainda parecia morar a felicidade como se quisesse fixar na memória e voltar a
viver aquelas grandes emoções novamente. E falei sozinho com a garganta engasgada:
- É... foi a escola da minha vida.
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