O
MANÍACO DA RUA BRETAS
Isabel Lopes
(...)
Abriu a porta num impulso e só então se deu conta de que devia ter confirmado
pelo olho mágico se realmente tratava-se de um policial.
Fitou
o agente com interesse, enquanto deixava escapar um riso discreto no canto dos
lábios: tamanha voz não era compatível com a minguada estatura do homem.
O
policial foi logo sacando o distintivo e dando início a um interminável
interrogatório.
Meire
ia respondendo mecanicamente, sem dar muita importância ao que se perguntava...
aquilo já se tornara uma rotina na Rua Bretas: noites ruidosas, tiros perdidos,
gritos abafados.
Aos
moradores cabia dar sempre as mesmas respostas: “não vi, não sei...”
O
policial, impaciente com o olhar sonolento e disperso de Meire, ia despejando
perguntas e mais perguntas com voz vigorosa, repetindo algumas para ver se
haveria contradições.
Tudo
que Meire queria era despedir o soldado e voltar a dormir...
Para
manter os olhos abertos, passou a olhar por cima do quepe do policial, enquanto tentava adiar o bocejo que insistia
em abrir-lhe a boca vigorosamente.
Foi
assim que viu a sombra de uma figura se movendo no corredor, que ora se
encolhia, ora se esticava toda, feito uma lagartixa acuada.
Ficou
atônita! Seria ele o suspeito procurado pelo policial?
Continuou
ali conversando com o soldado, mas já não ouvia mais nada...
Corria
os olhos disfarçadamente pelo corredor tentando identificar a figura que se
esquivava.
Foi
então que um raio de sol penetrou pela janela e ai não teve mais dúvida: era
seu namorado, fugindo da polícia.
O
que ele teria feito? Isso explicava sua partida tão sorrateira e inusitada...
Seria
ele o maníaco da Rua Bretas?
Meu
Deus! Ela o conhecia há dois meses e haviam iniciado um namoro despretensioso
até que sem mais, ele resolveu partir.
Analisando
a situação, Meire viu que tinha duas opções: denunciá-lo e viver sob a sombra
do medo ou manter o protocolo “não sei, não vi” e usufruir da benção da
ignorância.
O
policial a observava. Perguntou se tinha mais perguntas.
Ele
a despediu.
Meire
fechou a porta e voltou a dormir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.