O CRIME DA
RUA BRETAS.
Do Carmo
A
luz difusa do sol matinal de outubro forçava entrada, pela veneziana estreita,
do antigo sobradinho da Rua Bretas.
Meire se espreguiçou na cama com os lençóis
brancos entremeados nas pernas nuas. A claridade insistente a aborrecia.
Esticou os olhos sonolentos para o criado
mudo. Lembrou do namorado que partiu tão de repente deixando-lhe o relógio e
outras bobagens.
Dez
horas, putz, é tarde! Mas precisava de mais cinco minutos de sono, ajeitou os travesseiros
e aterrissou. Nesse instante a campainha soou distante.
Ah,
não! Pensou, mas não reagiu, tinha o corpo mergulhado na tentativa de voltar a
dormir, os olhos dormentes se negavam a despertar. No entanto as batidas fortes
na porta de madeira fizeram-na pular, ainda zonza.
—
Já vou, já vou! Gritou a caminho da entrada. É domingo, não se pode descansar
em paz?
—
Abra, é a polícia! Gritou lá de fora uma voz de tenor.
—
Polícia? O que você quer comigo? Trabalho gigantescamente a semana toda, só
tenho as saltitantes e alegres manhãs de domingo e feriado para dormir até
tarde, e você, aos gritos e batidas na porta acorda-me assustando? O que quer
de mim?
—
Onde está seu namorado? É ele o que vim buscar, pois temos evidências de que é
o autor de um hediondo assassinato.
—
Desculpe-me, mas não creio nisso, ele é um rapaz religioso, formado em Ciência
Biológica, descendente de família conceituada no México, para onde, presumo que
esteja indo. Saiu um tanto nervoso, sem comentar nada, depois de receber um telefonema,
ao qual respondeu em um dialeto incompreensível. Mas, senhor, qual crime de
assassinato ele está sendo suspeito?
—
A senhorita ouviu os comentários vulcânicos a respeito da morte da família do
Embaixador do Condado Asteca, aqui no Brasil?
—
Sim, são sinistras notícias cavernosas em todos os jornais, televisão, rádio e
internet. Mas o que o meu namorado tem a ver com isso?
—Foi
encontrado junto aos corpos, destrinchados com esmero, este anel com a
inscrição de seu nome, na parte interna. Você não tem o nome de Izabel; e
carinhosamente chamada de Bebel?
Um
nevoeiro de pavor e uma torrente de lágrimas banharam o rosto céreo da moça,
que num rodopio desfaleceu caindo delicadamente no chão.
O
policial apavorado pede socorro, enquanto
o assunto era relatado ao socorrista, Bebel retoma a consciência, e aos prantos
telefonou para seu irmão, pedindo que viesse vê-la, pois necessitava,
avidamente, de seu apoio. Pediu ainda, que não comentasse com os pais nesse
momento, somente quando inteirado dos fatos.
Os
dias foram passando e Bebel sendo crivada de interrogatórios, os quais a
deixavam cada vez mais desnorteada, pois seu namorado, Eduardo, não era em nada sequer, semelhante ao meigo, amoroso,
poético e impecável Dudu, que amava e a conquistara com o doce clarão de uma
noite enluarada.
Esses acontecimentos ainda estão obscuros,
mesmo tendo decorrido vinte anos.
Bebel
nunca quis averiguar o que realmente acontecera, ela queria guardar a imagem
sedutora e mística do Dudu que talvez não fosse real.
Há
situações em que o melhor é ignorar a verdade.
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