UM
PEDIDO DE PERDÃO!
Dinah Ribeiro de Amorim
Orei,
orei muito, perto da sua morte. Queria salvá-lo, pelos filhos, por ele que
amava a vida, por mim... pela falta que faria depois...
Sabia, no fundo, que ainda dependia dele. Num momento mais sério, algum
infortúnio, na hora da dor, estávamos ainda juntos como um fio não
interrompido, um elo não totalmente desfeito.
Não sei explicar o que senti! Dor pela perda, compaixão pelo seu
sofrimento, pela sua solidão num momento tão difícil, apesar dos filhos e
irmãos. Raiva, também, por ainda me fazer sofrer...
Tentei ser forte, animá-lo, orar por ele; fazer pedidos de prece a
pastores, dar-lhe alguma esperança. Quando percebi que a doença implacável
tomava conta, falava-lhe de Jesus, de paz, de uma outra vida, outro tipo de
salvação! E ele creu!
Juntos no seu final! Não era bem isso que eu queria, não era o que tinha
imaginado. Queria-o vivo! Terminar com ele nossa vida na terra. Eu o tinha
afastado. Gostaria de corrigir meu erro!
Amor,
compaixão, interesse, com certeza não, mas, respeito, compreensão da vida,
amizade, num amadurecimento que só se adquire com a idade, com certeza sim!
Chorei, chorei muito quando decidiu ser sedado, despedindo-se de tudo e
de todos.
Nunca imaginei que pudesse ser tão corajoso. Mais que todos nós à sua
volta.
Senti-me fraca, impotente, quebrada, como se nada mais importasse.
Veio naquele exato momento, uma lembrança à minha memória: quando
decidimos pela separação havia dito: “Você ainda vai chorar muito, lágrimas de sangue.
”
Lágrimas de sangue não, mas lágrimas de uma mulher ferida, machucada,
vencida, sim, principalmente quando ouvi um pedido de perdão, perdão pelos seus
erros e agradecimento pelos filhos que tivemos juntos!
Guardo em minha
Bíblia o bilhete que me deixou e é um conforto saber que está
livre, totalmente livre dos sacrifícios impostos por essa doença maligna...
Sinto muita tristeza ainda! Lágrimas me vêm aos olhos quando lembro seus
momentos finais. Pareço uma mulher viúva, apesar de anos de separação.
Se o perdoei? Com certeza, perdoei-o sim!
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