SINTRA, UM LUGAR FANTÁSTICO
Alberto
Landi
Foi terra de príncipes,
princesas, castelos encantados, mitos.
Era
o destino da nobreza e das elites portuguesas do passado, e a sua arquitetura
romântica deixada, ajuda a recordar e criar certo carisma.
Escondidos
entre a vegetação da serra ou bem no centro da vila, hoje conquistam visitantes
de todo o mundo, encantado com a arquitetura singular e o ambiente de contos de
fadas.
Elizabeth,
uma professora americana, fascinada por castelos, palácios, gostava muito desses
temas. Era professora de Geografia, na Universidade de Los Angeles, Califórnia.
Sempre foi aficionada por Portugal do século XX, e sempre gostou de homens
intelectuais.
Desde
pequena tinha o habito de ler e sua preferência era por castelos e lugares místicos.
Numa noite, teve um sonho interessante, onde se transportou para a vila de
Sintra.
Em
seu sonho voltava ao passado, início do século 20 por volta do ano de 1902.
Ela
se viu percorrendo as ruas estreitas dos incríveis palácios e conheceu o
respeitado escritor Ramalho Ortigão. Após conversarem, ele se mostrou muito
gentil, e se propôs a acompanhá-la mostrando os lugares interessantes e
místicos.
Ortigão, era professor de Frances, escreveu
junto com Eça de Queiroz “O Mistério da Estrada de Sintra” e em seus livros
sempre faziam finas observações sobre a sociedade, a política, os costumes de
Portugal.
—
Este aqui, dizia Ramalho, é o Palácio da Pena e o parque em redor é o expoente máximo
do estilo romântico em Portugal. D. Fernando em meados do século 19 transformou
um antigo mosteiro no colorido e rebuscado palácio em um conto de fadas. No seu
interior destaca-se a decoração ao gosto dos reis da época, a capela e as belas
pinturas mural. Dalí se obtém uma vista deslumbrante sobre o Cabo da Roca e
toda a costa até Cascais. A vegetação contemplada de pinheiros e ciprestes, com
alguns carvalhos, embeleza a floresta que envolve a serra.
— E essa
floresta? Ela pergunta. Elas são mesmo encantadas? Há duendes e fadas?
— Sim,
há muitos deles, em cada canto deste lugarejo.
Desceram a colina na mata sombria, até
chegarem ao palácio Monserrate.
—
Este é o palácio, residência de verão de Francis Cook, uma das mais belas e
incríveis criações do romantismo. O interior com espaços elegantes e faustosos,
a sala de música, de jantar e a biblioteca. Em seus jardins uma notável coleção
botânica com várias espécies.
Um
pouco mais a frente, a Quinta da Regaleira e o seu palácio, o local mais
enigmático e místico da vila, exemplo de estilo romântico junto a elementos
góticos, manuelinos, renascentistas, mas também muita simbologia esotérica. Sobressai
a capela da Santíssima trindade e o poço iniciático, com a sua icônica
escadaria em espiral.
— Vamos
agora em direção ao Palácio Nacional, de origem árabe que foi residência da
família real portuguesa desde o século 12. Revela diversos estilos
arquitetônicos, do gótico ao mudejar, passando pelo manuelino.
As cozinhas com suas grandes chaminés cônicas,
as salas do cisne, brasões e das pegas. Estas são aves que nos caminhos grasnavam
na passagem do casal real a caminho da fresca Serra de Sintra.
Este
aqui é o Palácio de Seteais, construído no século 18, oferece vistas incríveis
que vão desde o Palácio da Pena ao mar. Seus jardins são deslumbrantes.
—
Por hoje é só, disse Ortigão, amanhã poderemos percorrer algo mais, se não
estiver cansada, pois o pintarroxo com o seu mavioso canto da tarde, escondido
nas matas espessas, já soltava os prelúdios de um suave som melancólico,
anunciando o anoitecer.
No
dia seguinte bem cedo, Elizabeth acordou. A luz da manhã dissipou os sonhos da
noite anterior e arrancou de sua alma a lembrança do que vivenciou. As flores de
seu jardim se abriram aos raios do sol e as aves já cantavam.
A
noite estava frio e chovendo muito. Ela encontrava-se prostrada no sofá da
sala, mudava, insistentemente, os canais da TV, mas não encontrou nada interessante
para ver. Inquieta, pegou a Revista Grande Hotel, especializada em fotonovela,
que estava largada próximo ao abajur, então resolveu ler. Não era muito chegada
a esse tipo de periódico. Suspirou mais uma vez, antes de se levantar e
caminhar pela casa, à procura de algo para fazer.
Não
encontrando nada interessante, foi dormir. Mais uma vez teve um sonho.
Encontrou-se
com Eça de Queiroz, num café no hotel Lawrence. Aproximou-se sem acreditar,
tocou-lhe os ombros e ele num sorriso lhe disse
—
Boa noite linda jovem! Você é do estrangeiro? Pelas suas feições e porte
elegante, de onde é?
— Sou
professora de Geografia, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
— Em
que poderia ser útil a jovem professora? Antes de tudo, deixe-me apresentar,
sou Eça de Queiroz, nascido em Povoa de Varzim, em Portugal.
Formei-me
em Direito pela Universidade de Coimbra, e me dediquei entre outras atividades,
a literária, que sempre me agradou. Sou representante do realismo português,
romancista e diplomata. Escrevo para o
Jornal A Gazeta de Portugal, faço também relatos de viagem. Fui cônsul em
Havana, Bristol e New Castle.
Atualmente
vivo um pouco cá em Lisboa e Paris, e sempre que posso venho aqui, pois este é
um lugar que sempre me fascinou.
Em
minha literatura faço críticas à elite burguesa, análise de comportamentos
coletivos e outras mais.
Ela
tinha conhecimento do escritor através de livros, mas nunca poderia imaginar
estar com ele, nem em sonho!
— Você
gostaria de conhecer alguns mistérios que envolvem a vila? Posso lhe acompanhar
e a medida que caminhamos posso mencionar algo interessante. Há várias lendas e histórias de assombração.
—
Ficaria grata, disse Elizabeth
— Aqui,
onde estamos, no Palácio Nacional, costuma ser visto um cocheiro, com uma
cartola do século 19, a passar com sua charrete. Apenas se sabe que é avistado
de tempos em tempos, mas é na estação de comboios que habitualmente é visto.
Nas
cozinhas há quem diga que ainda se ouvem os choros e gritos das crianças e
ajudantes que lá morreram devido a inalação de fumos. Essas chaminés parecem um
grande par de binóculos virado para o interior da terra que permite ver os
mundos intraterrenos.
A
Quinta dos alfinetes, conta em certa ocasião, que um noivo foi alvo de uma
magia de morte, no dia de seu casamento. Um pássaro teria surgido, no dia da
boda. Ao lado da ave, havia um pequeno papel com a palavra noivo. Mas ao que
contam que tudo decorreu normalmente com o casamento, só que dois meses após, o
mesmo morreu. Dizem que o espírito dele ronda o local.
Vamos
agora percorrer a Quinta da Regaleira, que em minha opinião é o palácio mais enigmático
e místico. Na entrada há um túnel secreto que liga diretamente ao poço iniciático.
No subsolo de Sintra, há alguns túneis, janelas com gradeamento, que é uma
espécie de respiradouro dos famosos túneis dos templários, que dá acesso a essa
Quinta.
É um
exemplo de estilo romântico, junta elementos góticos, manuelinos, renascentistas,
mas também muita simbologia esotérica. Sobressai a Capela da Santíssima
Trindade e o poço iniciático, com a sua icônica escadaria em espiral.
Mais
adiante, há o Palácio Valença que serviu de residência ao Conde de Valença.
Dizem que vivia um fantasma, a Palmira, antiga criada que se suicidou nesse
local.
Toda
a vila era chamada de O Éden de Lorde Byron. Poeta inglês deixou-se encantar
pelo lugarejo até mais que os nativos, tendo ficado maravilhado com o ambiente
de neblina e mistério que envolvia os arredores e a vila.
Vamos terminar a caminhada de hoje na Quinta
do Relógio, edificada em estilo árabe supostamente assombrada, porque se ouviam
os cânticos tristes dos escravos, pois o proprietário enriqueceu com o tráfico
deles no Brasil.
Repentinamente em seu sonho, ela desapareceu no local mais sombrio do bosque. O sol ainda pairava suspenso no viso da serrania.
Ela
escutava ainda o silêncio profundo do final da noite, já ao amanhecer, desta
bela fantasia...
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