Imigrando
Henrique Schnaider
Rodolfo Crespi conheceu Mirna durante a viagem do
imponente Vapor Conte Grande ao Brasil, trazendo dezenas de imigrantes
italianos. Durante esta viagem, o amor típico italiano, explodiu em duas
pessoas, Rodolfo e Mirna. Nada os impedia de se unir em matrimônio. Como era
costume da época, pediram ao Capitão do navio Senhor Giovanni que os casasse e
sob intensa emoção e encantamento, a cerimônia foi realizada.
Chegaram da Itália no ano de 1920. O navio branco levado
pelo rebocador, encostou no Porto de Santos, soltando suas grossas amarras para
que, aqueles negros estivadores lustrosos, com os dorsos amostra, suados com o
calor do sol do meio-dia, prenderem firme aquele imenso
Vapor.
Na chegada, a emoção tomou conta de todos os
passageiros. Na sua maioria vindos da Itália. Cantavam muitas músicas da
saudosa terra natal. América! América! Lágrimas rolaram nos rostos grosseiros
de lavradores que trabalhavam a terra na região de Puglia.
Depois de todo trabalho para passar na Alfândega e
na Imigração, pegaram um trem da Cia Paulista de Trens em direção a São Paulo.
Viagem que pareceu uma eternidade, até chegarem na Estação da Luz. Rodolfo e
Mirna foram de ônibus para o bairro da Mooca, veículos estes, que haviam
recentemente substituído as carroças.
Foram morar no bairro da Mooca numa pensão barata
que pertencia à italiana Bruna, fofoqueira de primeira, uma chiveta como diziam
os italianos. Os primeiros meses foram muito difíceis para o casal de
imigrantes. Tinham alguma reserva para viverem de forma bem simples.
Depois de um ano de muito sofrimento e uma vida
dura, Mirna grávida do primeiro de seus 10 filhos, (O italiano era fogo na
roupa). Assim, cada ano nascia um filho Maschio. Conseguiu comprar, com muito
sacrifício, a barraca de frutas do seu conterrâneo Aristide, que queria se
aposentar.
Rodolfo era muito alegre e comunicativo. Buscava
frutas muito bem escolhidas no Mercado Central. Montava a barraca às seis horas
da manhã. Logo nos primeiros raios de sol. Os primeiros clientes chegaram.
Rodolfo cantava as músicas da velha Itália e, ajudado por Mirna com aquela
barrigona, prestes a dar à luz ao primogênito Armando, vendiam as frutas. O
burburinho já era grande de pessoas indo e vindo. A gritaria dos feirantes era
enorme e cada um querendo vender o seu produto. Pega três e paga duas, leva uma
dúzia paga só 6. O aroma era uma mistura enorme do cheiro de frutas da estação,
verduras e legumes. Era uma alegria só, e a feira ia até as 13,30 horas. No
final era a hora da xepa. Hora de comprar barato, tudo liquidando.
O paisano conhecia este trabalho como poucos. Desde
as plantações e colheitas de frutas lá da sua amada Puglia. Assim a vida foi
melhorando e a barraca aumentando e o dinheiro entrando. Depois de dois anos de
trabalho intenso, Rodolfo comprou sua casinha de pintura fresca cheirando a
tudo novo. O casal não cabia em si de tanta felicidade.
Os anos foram passando, a família aumentando. Além da
feira, Rodolfo começou a frequentar o Clube Atlético Juventus. Tempos depois,
tornou-se o Presidente do Clube. Barraca de frutas indo cada vez melhor e a
família tornou-se abastada.
Rodolfo e a esposa Mirna e os dez filhos
presenciaram uma homenagem que o Clube Juventus fez. Condecorou Rodolfo com o
título de Conde e o Estádio do Clube Atlético Juventus, passou a se chamar,
Estádio Conde Rodolfo Crespi.
A idade foi chegando para o velho imigrante
italiano. Assim finalmente com muita tristeza, depois de cinquenta anos de
muito trabalho naquela feira. Onde todos os feirantes e os clientes,
tornaram-se uma grande família de imigrantes italianos e após centenas de
feiras realizadas.
O filho primogênito Armando, passou a tomar conta
da barraca de frutas, estabelecida no querido bairro da Mooca. Quanto ao Conde
Rodolfo e a esposa Mirna, depois de uma viagem nostálgica a querida Puglia,
começaram a usufruir da merecida aposentadoria, ambos já próximos dos noventa
anos.
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