O PEQUENO PARAÍSO.
Leon Vagliengo
Um lugar para ser feliz.
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A pequena e agradável cidade de Lindo
Vale tem apenas uma praça, grande e acolhedora, que se estende em frente à
igreja matriz, cortada por algumas ruelas. São pequenas ruas bem calçadas, que
servem para a passagem das pessoas e para organizar a distribuição de um
belíssimo jardim, muito bem cuidado. Ao
longo dessas ruelas, muitos bancos de madeira maciça, sempre impecavelmente
pintados de verde, atendem ao conforto dos frequentadores. A praça é a paixão e
o orgulho dos moradores da cidade, que demonstram muito prazer em colaborar com
sua conservação.
Existente há
quase trinta anos e obedecendo a uma disposição harmônica e bem planejada de
jardim, a praça ostenta árvores frondosas e bem copadas, que proporcionam
sombra fresca e temperatura agradável nos dias de maior calor. Entre elas, dois
ipês amarelos e um rosa encantam a todos na época de floração.
O mesmo ocorre com os grandes arbustos de primaveras, de cores variadas, como o
sulferino, o lilás e a cor de tijolo. Também não lhe faltam plantas menores,
desde as rasteiras marias sem-vergonha que multicolorem canteiros mais
sombreados, até outras maiores, como os hibiscos e as azaleias. Um canteiro
especial de lírios da paz, bem protegido pela sombra das árvores, é
simbolicamente o preferido do senhor vigário.
Muitos pássaros
se abrigam e constroem ninhos entre os ramos das árvores maiores, longe dos
espinhos ameaçadores das primaveras. São sabiás-laranjeira e bem-te-vis,
pintassilgos, pardais e maritacas. Desde cedo, pela manhã, enquanto se
alimentam com as sementes dos ipês e com os frutos das amoreiras e das
pitangueiras que vicejam num canto da praça, a cantoria dos pássaros e o
palrear das maritacas vão transformando o silêncio da madrugada em uma alegre e
barulhenta sinfonia natural.
A missa das oito,
anunciada pelo convidativo badalar do sino da igreja, todos os dias atrai
várias pessoas, principalmente idosos que desejam ficar de bem com Deus,
preparando-se para o que vem depois. Ao saírem da missa já encontram bastante
movimento na praça, um ambiente familiar em que algumas jovens mães conversam
animadamente entre elas, acomodadas em algum banco à sombra, enquanto observam
os filhos pequenos que, alegremente, brincam ao sol, muitos jogando bola no
gramado da praça, os minis Pelés e Ronaldinhos, outros se encarapitando
corajosamente nos brinquedos do “playground”, os Homens-Aranha. As meninas,
mais comportadas, usando normalmente as gangorras, balanças e escorregador, sem
muitos delírios da imaginação.
Por volta das
onze horas o movimento da praça diminui, está chegando a hora do almoço. No
inverno a garotada fica com uma fome de leão. No verão fica muito quente, um
forno. As pessoas voltam então para as
suas casas e a praça vive algumas horas de sossego, que se estendem até o final
da tarde, quando se encerram as aulas do colégio e é a vez dos estudantes a ocuparem,
encontrando-se para alegres e animadas conversas e muitos namoricos.
Às dezessete
horas, religiosamente, o vigário assume sua posição num dos bancos, sempre o
mesmo. Logo tira do bolso o seu breviário negro e inicia a sua leitura e as
orações diárias. Quando termina, deixa-se ficar mais um pouco, às vezes em
silêncio, apenas sentindo o prazer de estar naquele ambiente tão acolhedor;
outras vezes, participa de conversas com os jovens, sempre muito proveitosas. A
sua presença infalível, nesse período, já faz parte do cenário da praça.
Um pouco mais
tarde, às dezoito horas, também religiosamente, o vigário retira-se para o
jantar e mais algumas práticas antes do repouso. O barulho dos pássaros
torna-se ensurdecedor, enquanto se recolhem para o período noturno. É quando
também começa a se desfazer a rodinha de jovens, normalmente restando apenas
alguns casais de namorados, que aguardam um momento mais romântico, ao
escurecer e com menos testemunhas, para proferir as suas juras de amor e para
intimidades mais ousadas, protegidas pela pouca iluminação das lâmpadas antigas
da praça. Em breve, mais um presente da Natureza, o perfume de dama-da-noite
toma conta do ar deliciando a quem o aspira.
Próximo à
meia-noite a cidade dorme, esquecida da praça, onde a luz mortiça provinda das
velhas lâmpadas projeta sombras fantasmagóricas, que parecem movimentar-se ao
sabor da brisa que balança os ramos das plantas. A Praça torna-se um local
triste, lúgubre e assustador. Ninguém ousa passar por ela, há muitas histórias
e muitas lendas. Contam que antigos moradores da cidade, já falecidos, vagueiam
pelas suas ruelas, esgueirando-se também entre as árvores. Houve quem dissesse
ter ouvido gemidos lamentosos, plangentes, sinistros, vindos de lá.
De repente, com
um soar macabro, o relógio da Igreja bate as doze badaladas da meia-noite,
causando arrepios a quem o escuta. É a hora dos mortos, o alerta para que os
vivos não se arrisquem a transpor os umbrais da Praça. Não há registros do que
lá acontece depois.
Pela manhã os
pássaros despertam, retomando a sua atividade alegre e buliçosa, sinalizando
que é um novo dia, e tudo recomeça na encantadora praça de Lindo Vale.
LEON gostei dos detalhes. Também da frase “um lugar para ser feliz”. Talvez as praças tenham sido construídas com essa intenção. Pois servem para que pessoas de todas as idades desfrutem de momentos, que certamente, irão proporcionar-lhes saudosas lembranças. Eu confirmo.
ResponderExcluirHelio Fernando Salema