Duas irmãs
Ana
Catarina S. Maués
Oh! Que dia
lindo. Oh! Que dia lindo! Era assim que Norma entrava pela manhã no quarto
escuro da irmã mais velha. Sempre cantarolando uma canção, puxando o edredom
que descansava suavemente por sobre o corpo de Sônia e esta, como querendo
fugir daquela alegria contagiante, enroscava-se cada vez mais para dentro do
cobertor.
— Levante minha irmã, mas desperte
feliz, certo. Deixe aí no travesseiro essa cara fechada. O sol está frio, a
brisa sopra suave, teremos uma manhã gostosa.
Irmãs, com
diferença de dois anos da primeira para a segunda, tudo dividiam, desde uma
fatia de bolo até roupas, sapatos e bolsas.
— Norma, não sei que sapato usar pra
missa, se este fechado ou essa sandalinha baixa, talvez você me empreste aquele
de salto rampa marrom, que se acha?
— Claro minha irmã pode pegar.
— Ah! Deixa. Vou com este aqui mesmo.
Respondeu Sônia, mas ainda com cara de indecisa.
Estudavam na
mesma escola, em séries diferentes, mas isso não as impediam de irem e voltarem
juntas para casa, numa amizade elogiável a quem observasse.
Os pais eram
atentos com as notas das filhas no colégio principalmente com as da mais velha
que, segundo eles, era lenta e preguiçosa.
— Norma, fiquei com nota vermelha. O que faço?
Disse com as lágrimas já escapulindo dos olhos.
— Calma, daremos um jeito. Mas por favor não
chore. Eu vou imitar a letra da mamãe no caderno de avisos e aí você não mostra
pra ela, só mostra quando a nota vier azul, pois você vai tirar nota melhor da
outra vez não vai?
Em casa ajudavam
nas tarefas, porém quando algo saia errado para não ver Sônia
choramingando por causa da bronca a ser recebida, Norma logo assumia a culpa.
De alma doce e
angelical Sônia, era protegida pela irmã mais nova com personalidade arrojada e
determinada.
Uma vez, na
saída do colégio, elas se encontraram com umas meninas de outra escola que começaram
a puxar encrenca. Dizer coisinhas sobre o cabelo delas que era desarrumado, que
elas exalavam mau cheiro, coisas desse tipo. Foi Sônia com sua humildade
natural que segurou a irmã para que não saísse uma briga de socos e pontapés.
O coração de
ambas não havia despertado para o amor até que um dia, chegou um aluno novo no
colégio. Rapaz alto, corpo atlético, braço robusto, cabelo bem cortado, modelo
ideal das meninas.
Norma
investiu forte na conquista. Primeiro mandou um bilhetinho anônimo. Depois
mandou recadinhos audaciosos pelas amigas, depois propôs um encontro, mas ele
não dava atenção.
Em casa ela
contava tudo para a irmã, que calada ficava sem revelar o sentimento de amor
que nutria pelo mesmo rapaz.
Até que devido
a insistência de Norma, eles iniciaram um namorinho, mas na verdade era para
ele se aproximar de Sônia que cada vez mais dominava e avançava dentro do
coração dele, que, pelo seu jeito inseguro de ser, não tinha coragem de se
revelar para ela e se viu no emaranhado promovido por Norma.
O
envolvimento dos dois só durou uma semana. Logo, logo o sentimento verdadeiro
por Sônia explodiu e sem poder segurar se declarou.
Com o tempo
a paixão se consolidou, Sônia mesmo recatada, conseguiu roubar o coração do
moço, para tristeza de Norma que passou a perseguir o casal fazendo muitas
intrigas. Dissimulada enchia a cabeça de Sônia falando de infidelidade do moço
que se chamava Paulo. Mas não adiantava as mentiras de Norma, o casal era bem
estruturado, apesar da pouca idade.
O
tempo passou e as coisas se ajeitaram. Não sei se Norma conseguiu olhar para
Paulo como cunhado, pois era muito engraçado ver ele caminhando de mãos dadas
com as duas, vindo do colégio, ou indo à missa aos domingos. Os três pareciam
muito unidos.
E deu casamento. Paulo e Sônia casaram, logo depois da formatura do colegial. Ele conseguiu um bom emprego e não perdeu tempo. No papel o casamento foi a dois, mas entre quatro paredes será que não ficou a três?
Norma sempre tomou as iniciativas, defendendo Sonia, que era mais frágil. Tentou namorar Paulo, mas este preferiu Sonia. Sonia também gostava dele, mas não teve iniciativa para namorá-lo. A iniciativa foi dele, e ela aceitou, mesmo sabendo que Norma o queria mas não por antagonismo e sim por paixão. Isso despertou o antagonismo de norma, que passou a fazer intrigas.
ResponderExcluirNesse quadro, entendo que Norma, sempre protagonista nos fatos narrados na história, tornou-se, ao final, antagonista de sua irmã.