Leméria
- o planeta
Hirtis Lazarin
Leméria é o menor planeta da galáxia
Andrômeda, iluminada pela estrela Syrius, de um brilho azulado e
exuberante. É habitada por seres
pequenos e de coloração verde. Nos
rostos magros e afilados, chama atenção a presença de dois faróis negros, olhos
protuberantes e desconfiados. A testa
larga protege um cérebro inteligente e de raciocínio rápido.
Era um dia comum quando se percebeu
que os ponteiros dos relógios dispararam fazendo o tempo correr. Os dias somados às noites reduziram-se a
apenas cinco horas. A temperatura,
sempre amena, aumentava gradativamente.
Telescópios gigantes e de máxima precisão mostravam que a estrela Syrius
deslocava-se no espaço, aproximando-se cada vez mais do planeta. O calor insuportável levantava ondas de vapor
dos rios e mares, formando densa névoa acinzentada misturada a uma poeira
agridoce sufocante. Era um fenômeno que
abrangia todos os cantos. Não havia onde
se esconder. Animais definhavam e desistiam
da fuga. Esparramados pelo chão,
inauguravam verdadeiros velórios negros atacados e consumidos por bando de
urubus esfomeados.
Mares recuados das orlas ofertavam o
lixo engolido. Eram destroços de
satélites, naves, peças de experimentos que fizeram parte de explorações
espaciais.
O céu azul escondia a chuva e a crosta
da terra, antes fértil e produtiva, tornava-se mais dura e sólida. As plantas desmaiavam ressequidas.
No alto das montanhas, o interior do
planeta abria-se, gritando por "LIBERDADE". Vulcões já extintos ou adormecidos ejetavam, furiosamente,
magna, gases, partículas ferventes. Um
tsunami em ebulição engolia e destruía tudo que aparecia à sua frente. Corpos desfalecidos transformavam-se em bolas
de fogo que se desfaziam em nuvens de cinzas...
A glamourização, o fascínio pela tecnologia,
pelas conquistas espaciais levaram o povo " lemeriano" a uma cegueira
crônica.
Roubaram-lhes os sentimentos que
brotam do coração.
Tornaram-se
obcecados por viagens pelo espaço, pelas descobertas, pelas conquistas e pela
supremacia sobre novos povos. Enquanto
isso, milhões de problemas, tão perto e tão simples, padeciam sem solução. A falta de consciência isentava-os da
culpa.
Mas não havia volta. Não cabia
arrependimento... Restou destruição.
Uma raça foi extinta, e o planeta
"Leméria" desfez-se na imensidão do cosmo.
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