Balé fantástico
Ana Catarina SantAnna Maues
Tenho vários nomes, sou muito
conhecido, quem me vê jamais esquece, tremendo só em lembrar. Aguardo ansioso o
período em que sobe o calor do oceano e da água que evapora, acelerando-me.
Como mágica surjo doido a girar e girar, encorpando a cada volta, com excepcional
coreografia a meu bel-prazer. Ano
passado alcancei três pontos na escala, saí em noticiários, fui capa de
revista, mas este ano será melhor, superarei em muito o rastro que deixei, já me
sinto forte, imagina daqui uns dias.
Passado algum tempo o calor aumenta e a
evaporação cresce acentuadamente.
Acordei bem-disposto, com
sorrisinho no canto da boca, presságio de deleite. Hoje bailarei por sobre o campo, arrancarei
árvores, postes de luz, derrubarei casas, destelharei outras, erguerei pesados
caminhões e tratores, e os lançarei longe só pra escutar a ferragem se
quebrando ou o fogo da explosão quando tocarem o chão novamente. Folhas, galhos
e muito pó irão fazer-me companhia num bailado inebriante. O furor me levara a
extrema satisfação. Alcançarei o auge e inchado de prazer vou dissolver-me. Mas
o melhor de tudo é ver o rosto pálido dos humanos diante da devastação total.
Inertes ficam assim por dias. Suas vidas tão bem organizadas de uma hora para
outra reviradas. Nivelo a todos, rico, pobre, velho, jovem, preto ou branco.
Como um severo juiz, condeno-os à ajuda mútua por bem ou por mal. Levo-os a
refletir conceitos e valores, forçosamente terão que meditar sobre o que
realmente vale a pena. Dou-lhes a magnânima oportunidade de reiniciar.
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