Uma
única chance
Ana Catarina SantAnna Maues
Madrugada
fria. A neblina tomava conta do humilde e precário aeroporto que atendia
determinada região da Colômbia, rica em diamantes. Saulo era empresário de
sucesso e vinha reiteradamente realizar gordos negócios com os exploradores das
jazidas.
Não havia
hotel, pousada, sequer algum lugar digno para hospedar-se por isso acostumou-se
a rotina de esperar amanhecer, sentado, no desconfortável banco do saguão de
embarque. Excepcionalmente naquele momento não tinha vivalma no hall. Estava só
e exausto, as pálpebras fecharam, mas a cabeça sem apoio, pesava no pescoço e
cambava pra frente pra trás, insistindo em despertá-lo. Foi num desses
instantes que percebeu alguém diante dele. Uma figura singular, não
identificava se homem ou mulher. Apertou os olhos para melhor ver. Era uma
imagem tridimensional que lhe oferecia um objeto. Ele estendeu as mãos e
recebeu uma espécie de garrafa, completa até o gargalo com areia colorida. O
ícone iniciou uma comunicação telepática dizendo:
— Gire o objeto em sentido horário, primeiro dez vezes e
pare, depois quinze e pare, por fim na terceira vez gire vinte. Palavras se
formaram com os grãos coloridos. Identifique as três mensagens. Disse isto e
sumiu.
Saulo estava
confuso. Pensava com os botões, não foi sonho, pesadelo, estou realmente
segurando uma pequena garrafa.
Medo também
não teve. Era um homem frio, arrogante, autossuficiente, detentor de, podemos
assim dizer, de uma certa ... maldade.
Incrédulo
iniciou a série de giros, e surpreendentemente os grãos começaram a desenhar
palavras. Depressa procurou papel, caneta na valise de viagem.
Conforme as
palavras surgiam ele guardava, sem errar nenhuma vez a contagem. Terminada esta
etapa ali estavam elas, de maneira solta, como um jogo de quebra cabeça,
precisando serem arrumadas e assim montar a mensagem.
Demorou um
pouco, mas decifrou tudo. Uma carta
surgiu. Fazia um convite.
"Fomos
separados contra vontade, mas trazemos um ao outro na alma e
coração". "Foi-nos
permitido uma volta ao início, se atravessar o portal". "Na plenitude do
amor encontraremos a felicidade".
Com o final
da leitura, Saulo explodiu num choro compulsivo. Derreteu-se a armadura da
frieza revelando o alto grau de solidão. Quebraram-se as correntes da arrogância
exibindo a profunda necessidade de amor. Desmanchou-se a autossuficiência que
camuflava a debilidade para sobreviver. Lembrou-se do acidente na estrada, do
carro destruído, dos corpos no asfalto.
Quando parou
de soluçar e secou as lágrimas que escorriam, viu formado a poucos metros um
círculo brilhante. Sabia que era o portal da mensagem. Deveria decidir ou pela
vida que levava, de empresário, viagens, namoradas, bens e imóveis variados ou
pela aventura de confiar no que lhe foi revelado. Decidiu por dar chance ao amor. Tinha consciência do quanto sua personalidade foi afetada com o sucedido
no passado e desejava resgatar o que devia ter vivido, esperava ser o que não
era.
Inicia-se a
caminhada pelo portal. A cada passo, dentro do que comparou a um túnel, ele regridia um ano em sua idade
cronológica, com essa redução a vivência que teve também ia desaparecendo. Ele
fez uma viagem ao contrário, descendo dos trinta e três anos até a idade de
sete. Esperando por abraço, estavam seu pai e sua mãe. Ele corre para
encontra-los.
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