Ariano
Suassuna foi um dos mais importantes escritores brasileiros, conhecido por sua rica
contribuição à literatura nordestina. Suas obras refletem a riqueza cultural e
a diversidade do Brasil. Ele uniu tradição e modernidade, criando histórias que
encantam crianças e adultos.
Nasceu em 16 de junho de 1927, na Paraíba. Nasceu no palácio do governo de João Pessoa, pois na época seu pai era "Governador". Seu Pai, João Suassuna, foi assassinado por motivos políticos, e essa tragédia modificou avida do filho. Ariano cresceu em um ambiente cultural rico de tradições e folclore, histórias contadas pelos familiares, um amante da arte popular, e foi esse ambiente que influenciou a literária de Suassuna. Ainda menino foi morar em Taperoá, e lá ficou por um bom tempo. Tempo suficiente para observar as pessoas que seriam um dias seus personagens.
Grandes escritores
nasceram no Nordeste e muitos teceram enredos sobre o sertanejo: Ariano Suassuna, Euclides da Cunha, Jorge Amado, Castro Alves,
Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, e outros.
Ariano era advogado e se formou
também em Filosofia, era professor, e escreveu peças teatrais, romances, poesias.
Suas obras foram representadas em vários países, e os romances, alguns viraram
filmes.
Uma das obras mais icônicas dele, 'O Auto da Compadecida' é originalmente uma peça teatral que mistura humor, crítica social, religião, poder e misticismo. A história aborda a vida simples dos habitantes do sertão, utilizando elementos do folclore. Os personagens são cativantes e a narrativa é envolvente.
A escrita de Suassuna é
caracterizada pela musicalidade e ritmo, refletindo a cultura oral nordestina.
Ele utiliza uma linguagem rica e cheia de imagens, que transporta o leitor para
o ambiente de suas histórias. Essas características tornam sua obra única e
inesquecível.
O sertão, com sua paisagem
árida e pessoas lutadoras, é um cenário constante em suas histórias. Essa
ligação com a terra enriquece sua literatura.
Suassuna sempre se posicionou como um
nordestino autêntico, bem-humorado e corretíssimo. Tinha medo de andar de avião, e
por causa disso, não fazia viagens longas demais.
Ariano era um cativante contador
de histórias, e por causa disso sempre era convidado para palestras, para
programas de entrevistas. Suas histórias sempre encantavam a plateia e rendiam
boas risadas. Era essa a imagem que pretendia deixar: um homem honesto, com fé em
Deus, e com histórias prontas para fazer o outro feliz.
No vídeo abaixo temos uma boa seleção de de causos, piadas, mentiras, gracejos que Ariano gostava de contar:
Suassuna na Academia Brasileira de Letras - foi o sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989.
No vídeo abaixo Livia Piccolo nos traz uma rápida panorâmica do autor, material suficiente para fazer qualquer um se apaixonar por Ariano Suassuna.
Sobre a literatura de Ariano, digo que criava enredos e personagens traçados na cultura nordestina. Ele mesclava poesia, teatro e prosa, criando uma narrativa rica e dinâmica. Essa mistura de gêneros faz com que suas histórias sejam variadas e atrativas. Os leitores podem sentir a emoção e a musicalidade em cada obra.
Suassuna tinha a preocupação com os personagens, eles tinham que ser o retrato do sertanejo nordestino, e para isso cuidava do cenário, do figurino, do vocabulário, dos trejeitos.
E por falar em vocabulário, veja algumas palavras usadas pelo sertanejo (ao final desta postagem, um dicionário nordestinês):
·
Abestalhado: abobado, ignorante;
·
Arretado: alguém bravo ou algo bom;
·
Buliçoso: alguém que mexe nas coisas
sem permissão;
·
Fuleiro: de baixa qualidade ou não
confiável;
·
Gabiru: rato grande;
·
Mangar: rir de alguém;
·
Pantim: criar caso, dificuldade;
·
Tabacudo: bobo.
Há de se notar também a importância que dava aos títulos das peças e romances, muitos deles já remetiam o leitor para o conflito ou para o sertão:
O castigo da Soberba
O rico avarento
Auto da Compadecida
O santo e a porca
A farsa da boa preguiça.
O casamento suspeitoso.
A caseira e a Catarina.
Uma mulher vestida de sol.
A pena e a lei
Ao sol da onça Caetana
A pedra do Rei
O homem de barro
O sedutor do sertão
E tantas, e tantas outras...
As 3 obras mais importantes:
Auto da Compadecida – Repleto
de bom-humor, ele conta as aventuras de João Grilo e Chicó no sertão. É
uma mistura de elementos populares, religiosos e humorísticos, retratam a vida
no sertão nordestino. Era peça e virou filme. Quem já viu esse filme?
O santo e a porca - A história centraliza-se em
Eurico, um velho avarento que guarda um tesouro num porco de madeira, e as
intrigas que surgem quando seu dinheiro é posto em risco. Era peça e virou
filme. Quem já viu esse filme?
O rico avarento – Um homem rico, avarento
e egoísta, que enfrenta situações absurdas e divertidas devido à sua obsessão
pelo dinheiro. A peça explora o conflito entre o amor e o dinheiro, a ganância
e a natureza humana, com diálogos afiados e críticas sociais.
É impossível falar em Ariano, sem mencionar o Nordeste. É impossível mencionar sua voz de escritor, sem citar o Auto da Compadecida.
Ele mesmo gostava tanto e acreditava tanto nessa obra, que ele produziu um filme, o primeiro filme dessa obra. Ele produziu, e ele mesmo dirigiu. Os atores que faziam João Grilo e Chicó, foram Armando Bogus e Antonio Fagundes.
Vejam um trailer do filme:
Sempre guiado pela fé e pelo coração.
E, infelizmente teve
a carreira foi interrompida, exatamente pelo coração, Ariano sofreu uma parada
cardíaca em 23 de julho de 2024 aos 87 anos.
O sertão perdeu esse defensor,
esse representante da cultura sertanista, assim como perdeu todos os outros
escritores que se deixavam inspirar pela vida do sertanejo.
Outros virão?
A diversidade linguística é uma das maiores características do Brasil e ela deriva da pluralidade cultural encontrada no país. No nordeste, a coisa não é diferente. Nós possuímos uma cultura extremamente rica e diversificada, além de um regionalismo muito forte, que reflete bastante na nossa forma de falar e no nosso sotaque, que muitas vezes é alvo de preconceito.
A língua é uma entidade social que se modifica ao longo do tempo. Alguns termos caem em desuso e outros surgem à tona, tudo isso é possível porque a língua é viva e vai se adaptando de acordo com as novas gerações. O “oxente” se tornou “oxe”, e novas gírias vão surgindo e tomando conta do vocabulário da sociedade.
Para ajudar na disseminação das expressões nordestinas, foi criado o “dicionário nordestinês”, nele constam várias palavras e termos utilizados na nossa região. Os autores que produziram e organizaram a lista de palavras contidas nesse dicionário estão espalhadas pela internet. Nenhuma delas foi de minha autoria, apenas reuni algumas com o intuito de exemplificar e difundi-las:
A
- Aperrear: encher o saco.
- Arengar: brigar, encher o saco.
- A pulso: a força, contra a vontade.
- Agoniado: aflito, afobado, amargurado, angustiado.
- Alumiar: iluminar.
- Arrudiar: dar a volta.
B
- Borocoxô: sem ânimo.
- Bruguelo: criança pequena.
- Baixa da égua: lugar distante.
- Baleadeira: estilingue.
- Buliçoso: pessoa que mexe em tudo.
- Beiço: lábio.
C
- Cabra: qualquer indivíduo, pessoa destemida.
- Chumbado: doente.
- Cipuada: pancada forte.
- Carão: repreensão, bronca.
- Confeito: bala (de comer), guloseima.
- Cocorote: cascudo.
D
- Derradeiro: último.
- Distrenado: sem graça, sem preparo.
- Dar o grau: caprichar.
- De hoje a oito: daqui a uma semana.
- De hoje a quinze: daqui a 15 dias.
- Debochar: desprezar, menosprezar, zombar.
E
- Enxerido: atrevido, intrometido.
- Estribado: indivíduo cheio de dinheiro.
- Empanzinado: empanturrado.
- Empatar: atrapalhar, dificultar, perturbar.
- Emperiquitado: enfeitado demais.
- Encangado: indivíduo que anda sempre junto com outro.
F
- Fuxico: fofoca.
- Filar: colar na prova, olhar as respostas de outra pessoa.
- Farda: uniforme escolar.
- Fastio: falta de apetite.
- Fuleiro: sem valor, insignificante.
- Findar: acabar, concluir.
G
- Gazear: faltar aula ou trabalho.
- Gasguita: voz fina, esganiçada.
- Gastura: aflição, mal estar.
- Gibão: casaco de couro (do vaqueiro).
- Gaiato: engraçado.
- Gaitada: gargalhada.
I
- Iça: formiga com asas, que aparece após as chuvas.
- Inhaca: mal cheiro.
- Invocado: estar com raiva.
- Istripulia: travessura.
- Ispritado: enfurecido.
- Inteirar: completar.
J
- Jerimum: abóbora.
- Jagunço: segurança particular, capanga.
- Junir: arremessar, jogar com a mão.
- Jabá: carne de charque.
- Jante: roda do carro.
- Jabiraca: lenço usado no pescoço.
L
- Liso: sem dinheiro.
- Lascado: cheio de problemas, em má situação.
- Laranja-cravo: mexerica, tangerina.
- Lambedor: xarope caseiro.
- Lambança: arruaça, bagunça.
- Ligeiro: ágil, rápido, veloz.
M
- Massada: espera, fazer alguém esperar.
- Mangar: rir de algo ou alguém.
- Massa: que é bom, de primeira.
- Munganga: careta, trejeitos.
- Muriçoca: pernilongo.
- Magoar: machucar, ferir. Ex: magoei meu dedo.
N
- Na tora: à força, na valentia.
- Nas brenhas: bem longe, lugar distante.
- Na lona: em situação difícil, sem dinheiro.
- Na vera: pra valer (o jogo agora é na vera).
- Nas carreiras: às pressas.
- Nera: não era?
O
- Oxente (Oxe): expressão usada quando a pessoa sente espanto.
- Obrar: evacuar, defecar.
- Oiteiro: quintal.
- Onde o vento faz a curva: bem longe.
- Ondonde: onde.
- Os anos: aniversário.
P
- Pisa: surra.
- Pirangueiro: pão duro, mão de vaca, muquirana.
- Peba: algo ruim, de má qualidade.
- Porreta: bacana, excelente.
- Paia: ruim.
- Papeira: caxumba.
Q
- Quartos: cadeiras, quadris.
- Quengo: cabeça, crânio.
- Quietei: fiquei quieto, acalmei.
- Quebra-queixo: cocada que gruda nos dentes, puxa-puxa.
- Quentura: calor.
- Quenga: prostituta.
R
- Ronxa: hematoma.
- Remela: sujeira no olho.
- Relar: ralar.
- Réstia: sombra.
- Roçar: passar junto, tocar de leve.
- Ruma: grande porção.
S
- Secura: desejo intenso, ansiedade.
- Sarrar: dar um amasso, namorar.
- Sustância: que tem substância, energia.
- Sacolejar: sacudir, agitar, balançar.
- Sangrar: transbordar água do açude ou tanque.
- Sentido: aborrecido, magoado.
T
- Trupicão: topada.
- Tamborete: banco pequeno.
- Timbú: gambá.
- Teretetê: conversa fiada.
- Tampo: pedaço da pele cortada ou quase solta.
- Tapear: enganar.
V
- Visagem: assombração.
- Velhaco: caloteiro, devedor.
- Vôte: exclamação de expanto.
- Vadiagem: brincadeira, vagabundagem.
- Venta: nariz.
- Voinha/Voinho: avó/avô.
X
- Xoxo: pequeno, franzino.
- Xexeiro: caloteiro.
- Xeleléu: puxa saco.
- Xepeiro: indivíduo que vive pedindo as coisas.
- Xotar: enxotar, expulsar.
- Xerém: resíduo de milho (depois de peneirado, permanece na peneira).
Z
- Zoada: barulho alto, gritaria.
- Zona: bagunça.
- Zuretado: nervoso.
- Zerado: artigo/produto novo.
- Zuadento: indivíduo barulhento.
- Zumbido: ruído forte.
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