A lagarta e a flor.
Adelaide
Dittmers
O
jardim brilhava banhado pelos raios de sol, que envolviam a vegetação, tornando
sua cor mais vívida.
Uma
pequena lagarta rastejava pela terra avermelhada, comendo avidamente as
folhinhas e as ervas que encontrava pelo caminho.
Ao
parar embaixo de uma folhagem, onde um belo e raro lírio azul se aninhava,
ouviu uma voz que vinha lá de cima:
— Oi,
bichinho! Você não se envergonha de ter que se arrastar por esse solo barrento
e devorar tudo o que encontra.
A
lagartinha levantou os olhos de preguiça e fitou languidamente a flor:
— Não
é porque você é bonita, perfumada e mora no alto, rodeada por folhas verdes,
que realçam sua beleza, que deve desprezar aqueles que você não conhece. Posso ser tão bela quanto você.
A flor
soltou uma gargalhada, que balançaram suas pétalas e disse zombeteiramente:
— Você
não se enxerga mesmo!
A
lagartinha olhou com indiferença para o lírio e seguiu seu caminho.
Mais
adiante, parou e avaliou um tronco de árvore.
Era forte, pensou. Agarrou-se a
ele e ali ficou estática. Depois de
algum tempo, um fio de seda foi se enrolando e se tornando mais e mais duro até
formar um casulo.
A flor
observou de longe aquela transformação. “Que triste fim. A natureza é sábia em
se livrar do que é insignificante e feio.” Pensou.
Um
vento suave fez suas pétalas dançarem, realçando sua beleza.
Dias
se passaram e, em uma manhã de céu azul, salpicado de nuvens brancas, o casulo
começou a quebrar e, de seu interior, surgiu uma belíssima borboleta, cuja cor
preta salientava o lilás, o azul, o amarelo e o branco, que formavam desenhos
perfeitos em suas asas.
Ela
parou um pouco para se recompor daquele novo nascimento e alçou um voo elegante
e sereno, dando volteios pelo ar azulado do dia.
Ao
passar pelo jardim, avistou o lírio azul e, com um sorriso maroto, pousou nele
com delicadeza.
— Oh,
linda borboleta, que alegria tê-la em minhas pétalas!
— Não
me reconhece, flor? Sou a lagarta rastejante de uns dias atrás.
O
lírio emudeceu. Como isso foi
possível. Depois que o casulo se formou,
ignorou-o por completo.
A
borboleta então acrescentou:
— Nem
toda a aparência define um ser. Depende
do que carregamos dentro de nós.
E voou
para longe.
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