JOÃO
LOROTA
Henrique Schnaider
Na grande praça de touros, idos de 1800 e nada,
atual Praça da República. Era um dia com plateia cheia. Bem lá no meio do povão
agitado, querendo ver sangue na arena, estava o João Lorota. Levava a fama de
grande mentiroso. Devido a isso o apelido.
Ele era totalmente desacreditado, pois só contava
histórias do arco da velha. As pessoas queriam ouvir o que ele tinha para
contar, apenas para se esborrachar de rir.
O pessoal queria mais é ver o Touro Tan Tan enfiar
aqueles chifres afiados no ventre do pobre toureiro. “Puxa, algo injusto”. Até
parece que o touro era o herói, e o toureiro o vilão daquela batalha. O povo
gritava, pega ele Tan Tan, pega ele Tan Tan. O João na concorrência, tentando
arranjar plateia, falava, falava e falava, um papagaio.
Ele nem se interessava pelo que acontecia na arena
onde a tourada pegava fogo. O que será que o João falava? Para ele quem
ganhasse aquela luta não era nem herói nem vilão, situação sem interesse. O povo
torcia e o João distorcia.
O touro Miúra muito bravo. Foi ficando cada vez mais furioso. Raspava sem
parar os cascos no chão cheio de pedriscos que pulavam para todos os lados.
Rap, rap, rap. Os olhos eram de puro ódio, vermelho ardente. Verdadeiras
centelhas de fogo do diabo.
O que deixava o Tan Tan cada vez mais irado soltando
fogo pelas ventas, era o pano vermelho sangue, nas mãos do toureiro balançando
para todos os lados, vamp, vamp, vamp. O povo, pega ele Tan Tan e o João aos
gritos pedindo para o povo ouvir suas histórias absurdas.
João Lorota olhava para todos ali, esperando,
esperando, esperando até alguém se dispor a prestar atenção. Paciente, apesar
da gritaria, João um professor, queria dar a sua aula, afirmando com convicção
e conhecimento:
– Este homem que tudo consegue, um guerreiro alado,
este homem vai longe. Este homem vai chegar à Lua com certeza. Irá até lá numa
nave que terá foguetes poderosos para levá-lo e depois trazer de volta.
Estará vestido com uma roupa especial para poder
respirar e protegê-lo daquele lugar sem vida da Lua. Com certeza irá nos
mostrar do que ela é feita. Voltará nas asas do seu foguete para contar tudo
que viu lá e trazendo pedaços do satélite. Vontade de ferro, vencerá todos os obstáculos.
Este homem estará lá no futuro. Ele ainda vai nascer
daqui a muitos anos e muitos anos, filho de um casal de cientistas. Ele será
chamado de astronauta. Será capaz de muitas coisas e de muitas coisas será
capaz. Nós não poderemos presenciar esta façanha pois ainda vivemos em tempos
muito atrasados.
Quem quiser acreditar pode acreditar, pois quem me
ouvir verá a verdade. Não duvidem e nem riam de mim. Apenas eu vejo tudo com os
olhos do futuro. Não sou um mentiroso, apenas eu tenho um pressentimento, que
me deixa enxergar aquilo que vocês desconhecem.
Alguém do lado do João falou com ar de deboche:
– Esta história tem um cheiro de mentira - e todo mundo riu. Deixando o João Lorota entre
um sentimento de constrangimento e ressentimento. Foi embora dali, pois ninguém
mais queria ouvir suas histórias.
Mal sabiam todas aquelas pessoas. Nem nós nunca
saberemos. Como o João poderia saber, lá naquele passado tão distante, de tanta
coisa que, dezenas e dezenas de anos depois, se concretizaria e tornariam
verdade a história do João sobre a viagem a lua. Só podemos dizer que ele era um visionário.
Sempre que ouvirmos alguém prevendo coisas lá no
futuro. É bom a gente por um pé atrás antes de duvidar.
Excelente!!! Gostei muito do final sobre previsão. Creio que duvidamos, pois ainda não temos capacidade para imaginarmos o futuro.
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