CURIOSIDADES
DE MENINA!
Dinah Ribeiro de Amorim
Ao viajar em criança,
pelas estradas, com seu pai, Celinha sentia muita curiosidade ao observar as
casinhas encontradas, ao longe, escondidas entre árvores ou morros. Geralmente
pequenos sítios ou chácaras.
De dia, banhadas pelo
sol, isoladas, distantes umas das outras. À noite, escuras, fechadas, com
pequenas frestas de luz, anunciando pessoas.
A imaginação da menina
questionava sempre: como viveriam, seriam mais felizes ou não, assim distantes
da cidade grande. Acreditava que sim, em meio à quietude e à natureza. Nunca
sentiu-se bem com barulhos. Ficava inventando histórias e contos de fadas, com
príncipes que cavalgavam entre as montanhas e princesas que colhiam flores,
enquanto seu pai dirigia.
Aconteceu, uma vez, à
noite, entrarem numa pequena cidade para pouso e comida. Não guardou o nome,
mas era muito escura, quieta, só iluminada por alguns lampiões de rua.
Ruas estreitas, poucas
casas, totalmente fechadas, sem barulho de pessoas, denunciavam uma cidade
triste, nada acolhedora, ouvindo-se, de quando em quando, uivos de alguns
cachorros.
Pararam à frente da maior
delas, um sobrado alto, velho e rústico, altivo em meio às outras antigas,
pequenas e baixas. Deveria ser o hotel da cidade. Atendeu-os um senhor gordo,
idoso, nada hospitaleiro, de cara zangada, parecendo preocupado. Indicou um
quarto em cima e nada para comer. A cozinha já estava fechada.
Assustou-os, de repente,
enquanto subiam as escadas, o som de um tiro. Pararam, aturdidos, no último
degrau e gritaram chamando o dono.
Ele aparece todo
atrapalhado, avisando que não houve nada, só o tiro habitual do dono da casa ao
lado, incomodado com o barulho dos cachorros.
O pai, intrigado,
pergunta-lhe se não seria melhor chamar a polícia, mas ele responde que
polícia, àquelas horas, só na cidade próxima e cedo.
O povo da cidade já
estava acostumado com esses tiros e assim reagiam, quando eram incomodados.
Que fossem deitar
sossegados. No dia seguinte, resolveriam essa questão.
Muito amedrontados, pai e
filha fecharam a porta do quarto e mal dormiram, esperando logo o amanhecer.
Na manhã seguinte, ao
descerem, encontraram o dono todo amável, hospitaleiro, convidando-os para o
café.
O pai, com pressa em
sair, agradeceu e rumaram em direção à saída, mas ele, muito insistente,
apresentou-os ao administrador da cidade, que queria dar as boas-vindas, um
homem de chapéu largo, bigodudo, com cinturão a tiracolo.
Olhando-o, o pai reparou
logo que costumava andar armado. Havia um espaço no cinto para uma arma a
tiracolo. Achou melhor tratá-lo com gentileza e foram tomar café.
Até que era um homem
agradável, sabia improvisar simpatias, iniciando logo um papo agradável sobre a
cidade.
Contou ser comum ouvir
tiros, ocasionalmente, pois estavam surgindo muitos cães com doença raivosa, um
perigo para a população e todos andavam temerosos e armados.
O pai concordou com isso,
meio desconfiado, respondendo: “E nem estamos em agosto, não?” “Qual será a
causa?”
O administrador respondeu
rápido: “Pois é! Isso está nos amedrontando.” “Gostaria de conhecer melhor
nossa cidade?”
Tanto insistiu que foram,
apesar da pressa.
Lugar pequeno, casas de
quintais largos, cheios de plantações, bonito de se ver. Pessoas sérias, não
amáveis ou alegres, antipáticas com estranhos.
Reparando bem nas
plantações, acharam um pouco estranhas, mas não falaram nada. Não havia uma
flor ou uma verdura. Sem comentários deles. A única coisa que o pai falou foi:
“E a matriz? Onde fica? Gostaria de visitá-la.”
— Ah! A matriz! Não
existe mais. Foi destruída por uma chuva forte que deu, o ano passado. Estamos
pensando em construir logo outra. O povo precisa de uma crença, não?
— Claro, responde o pai.
Ainda mais com tantos problemas, no mundo atual. O senhor me desculpe, mas
preciso correr, tenho horas para chegar a Ribeirão das Graças e sou esperado.
Foi um prazer conhecê-los e pernoitar aqui.
E virando para Celinha:
“Vamos, filha, senão chegaremos tarde!”
O administrador
perguntou: “São esperados? Que pena! Quando quiserem voltar, teremos prazer em
recebê-los. Tomara que essa doença dos cachorros já tenha passado.”
— Com certeza, sim,
responde o pai. Precisam chamar a vacinação contra a raiva. É muito triste
isso. Talvez passemos por aqui na volta.
E foram rápidos para o
automóvel, após as despedidas obrigatórias.
Assim que iniciaram a
estrada, Celinha perguntou ao pai o que eles plantavam? Os quintais eram todos
iguais. Não conhecia aquela planta.
Ele respondeu: “Não eram
flores nem verduras, filha, parecia maconha, ou outro tipo de erva para fazer
tóxico. São drogas que fazem para vender. Deve ser uma cidade clandestina. Que
bom que saímos ilesos!”
Ainda avistaram, ao
longe, um campo alto, o cemitério da cidade. Estava em movimento, um enterro.
Talvez o resultado do tiro na noite anterior.
— Não eram cachorros,
pai? Pergunta a menina, intrigada.
— Acho que não,
filha. Foi a desculpa que deram. Escapamos de boa!
Chocada, Celinha aprendeu
a não observar mais os lugares escondidos pelas estradas. Pelo menos, a não
achar serem mais felizes que ela e ficar inventando histórias.
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