A abelhinha Izzy
Hirtis Lazarin
Era uma vez, numa floresta encantadora,
um urso que morava numa toca acolhedora de uma árvore bem antiga.
Acordou animado numa manhã ensolarada.
Sentiu um cheirinho apetitoso de frutas e flores respingadas de
orvalho. Espreguiçou-se demoradamente e contou até vinte.
Caminhou por todos os cantos. Viu
passarinhos em bando, coelhos saltitantes cheios de alegria, borboletas de
todas as cores e até ajudou uma tartaruga que tentava chegar, mas não
chegava.
De repente, o seu nariz grande e
aguçado sente um cheiro que foi ficando cada vez mais doce, mais doce… Uma
doçura deliciosa. Sua boca não consegue guardar tanta saliva.
Vira pra cá, vira pra lá. Procura por
todos os lados e descobre a coisa que ele mais ama. Descobre uma colmeia cheinha
de favos de mel pendurada num galho verdinho de folhas.
Suas patas enormes e peludas, num gesto
faminto e destrambelhado, atingem a colmeia e matam, acidentalmente, todos os
filhotes de abelhas. Um desastre horrível.
Foge desesperado, ao saber que seria
atacado pelas abelhas-operárias. Já tinha experimentado a dor da ferroada.
A única sobrevivente foi a abelhinha
Izzy.
Atordoada e sem saber o que estava
acontecendo, busca ajuda da Abelha Rainha.
— Abelha Rainha, o que aconteceu?
Minhas irmãzinhas estão dormindo?
— Não, meu amor. Elas se foram…
— É igual ao sol? Ele vai embora todos
os dias e de manhãzinha ele volta.
— Elas não voltam nunca mais. Todos
nós, um dia, vamos morrer. A gente nasce, cresce e depois morre. A gente vai e
não volta.
— E pra onde a gente vai?
— Essa pergunta é difícil de responder.
Muitos dizem que vamos para o céu. Um lugar cheio de amor e paz. Vamos então
pensar que vamos para o céu.
— Estou muito triste porque não as verei nunca
mais.
— Eu também estou muito triste. Todos
nós ficamos tristes quando perdemos alguém. Isso é natural.
— Posso então chorar?
— Claro, minha querida. Todos choram
quando alguém vai embora e não volta nunca mais.
— O que faço se eu sentir muita
saudade?
— Quando sentir saudade, ficar triste,
sentir falta das abelhinhas, você conversa comigo. Conta tudo que está
sentindo. Não tenha vergonha, pois sou sua melhor amiga.
— Obrigada, Abelha Rainha.
Izzy sentiu-se protegida pela Abelha
Rainha e foi dormir.
(Clarice Lispector)
“Morri de muitas mortes e mantê-las-ei
em
segredo até que a morte venha e alguém.
adivinhando, diga:
Esta, esta viveu”.
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