AS TRAGÉDIAS
DAS GUERRAS!
Dinah Ribeiro de Amorim
Edward era gerente da
estação de trens, em Vassenovitch, uma povoação pobre, perto de Varsóvia, na
Polônia.
Pessoa calma, bonachona,
realizava seu serviço com simpatia e amabilidade, sempre disposta a um dedo de
prosa nas horas fora do expediente. Contava piadas e dava gostosas gargalhadas,
amassando o uniforme e coçando os cabelos, apertados no chapéu. Parecia querer
tirá-lo da cabeça o tempo todo.
Com o início do ano 1940,
o país foi ameaçado de entrar em guerra, invadido pela Alemanha, que pretendia
dominar o mundo europeu, com a imposição do Nazismo.
Essa situação foi
preocupando o sentimento polonês e mudando o otimismo dos seus trabalhadores.
Edward, casado e com três
filhos, preocupa-se com a situação e trabalha, agora, incansavelmente,
auxiliando os que querem sair da pequena cidade em busca de abrigo em lugares
melhores, talvez até sair do país. Ajuda-os em alojamentos e passagens gratuitas,
quando possível, para o uso dos trens.
Com agravamento da
situação, o trabalho aumenta, tornando-se um grande auxiliar, na cidade, aos defensores
dos poloneses. Começa a fazer parte da resistência.
Os trens que passam pela
cidade chegam abarrotados de gente. Idosos, famílias com crianças, malas,
pacotes, todos foragidos da dominação alemã.
A preocupação torna-se
tão grande que só quem passou por essas situações graves pode sentir e
comentar.
Os inimigos, cada vez
mais perto, começam a investigar os passageiros dos trens, querendo evitar
fugas indesejáveis, de cidadãos que se opunham a eles. Necessitavam deles
também como apoio, mesmo inimigos. Queriam convertê-los.
Edward conseguia, com
dificuldades, falsificar identidades, fotos, itinerários, tudo que fizesse as
viagens de trem parecerem normais, até os bilhetes gratuitos ele distribuía.
Mesmo quando eram
examinados, as viagens de trens não despertavam a desconfiança de que eram
fugitivos.
Sua habilidade tornou-se
conhecida entre seus concidadãos e o trabalho teve sucesso, mesmo com o aumento
da guerra.
Antecipando que os
inimigos chegariam também a invadi-los, cismou, como precaução, de enviar
esposa e filhos para uma fazenda, em região oposta, na Lituânia, aos parentes
da mulher, que se dedicavam à extração do âmbar, ao norte da Polônia.
Preparou-os bem, arranjou
registros de trabalho, disfarçou itinerário, trocou bilhetes, fez tudo de
acordo para viajar e fugir com sucesso. Continuaria na sua cidade, trabalhando
pelos seus. O coração desprendido e alegre de outrora modificou-se, tornou-se
astuto e desconfiado, a serviço dos poloneses.
A polícia alemã invade
também a sua cidade e começa a observar e controlar melhor as viagens de trem.
Suspeitavam que poloneses
estavam fugindo do país e, para impedi-los, fiscalizam agora os viajantes.
Percebem que muitos
cidadãos já foram embora e os trens continuam cheios, a desconfiança aumenta.
Edward, sabedor de todas
as notícias, fica sabendo que, para evitar as fugas, os soldados alemães
colocam bombas nos trilhos dos trens, evitando, assim, esse aumento de viagens.
Justamente, quando é
avisado, o trem com sua família partia. Recebe a incumbência, da parte da
resistência, de desativar as bombas nos trilhos.
O homem, em desespero,
chama os companheiros e começam a estudar como iriam realizar esse serviço.
Seus cabelos caem,
tornando-o careca. Rugas estranhas e precoces rodeiam, agora, seus olhos,
preocupados e tristes. Nas mãos, enquanto planeja com os amigos essa atividade
secreta, um leve tremor atrapalha seu trabalho em desenhar ou segurar o
marcador de itinerários.
Edward perdeu totalmente
o gênio brincalhão e as risadas gostosas, é agora um homem extremamente nervoso
e enérgico, que, com dedo em riste, dirige-se aos companheiros. O ódio e a
raiva o dominam e o medo do perigo faz suar o uniforme antigamente tão limpo.
Sente-se culpado por
enviar a família tão longe e como evitar, agora, a explosão das bombas? Não
havia imaginado que a maldade inimiga chegasse a tanto. Mas chegou e logo iria
além.
Planeja com os
companheiros saírem à noite, às escondidas, para percorrerem as viagens pelos
trilhos, antecipando cada parada em uma estação.
O difícil seria desativar
cada bomba localizada, sem muita experiência com armamentos e utensílios de
guerras. Mal haviam feito um breve serviço militar. Essa guerra estúpida
pegou-os desprevenidos. Era um povo pacífico, calmo, sem grandes ambições.
Aparece na pequena cidade
Leonard, um polonês que vivia na Alemanha, tendo ido estudar arquitetura. Com o
início da mudança política, desiste de tudo e volta ao seu país, preocupado com
a família e achando que teria paz. Percebendo a preocupação local e a extensão
do movimento, inscreve-se também na Resistência.
Leonard, como todo jovem,
na Alemanha, teve um treinamento mais rigoroso no exército, como preparação
futura. Era uma obrigação de cada estudante. Seu entendimento de armas e bombas
ajudou muito os poloneses. Logo é chamado por Edward para auxiliá-los no que
estão pretendendo. Participa com eles dos movimentos noturnos e tenta
reconhecer como desativar cada bomba encontrada.
O novo amigo da
Resistência havia estudado sobre bombas utilizadas nas guerras ocorridas na
história, mas esse tipo de bomba que poderiam colocar nos trilhos dos trens,
não lançadas, seriam as semelhantes aos terrenos minados, que explodem ao
toque, de difícil localização noturna.
Teriam que usar algo ou
alguém para percorrer o caminho com eles e causar a explosão. Assim mesmo, o
trilho ficaria inutilizado e impediria a passagem de novos trens.
Edward pensa seriamente
no assunto e estuda a possibilidade de avisarem os maquinistas para o desvio
dos lugares perigosos. Teriam que modificar o caminho dos trilhos com urgência,
e isso levaria tempo.
Sua primeira medida
urgente foi o cancelamento de qualquer viagem por trem que saísse de sua
cidade.
Isso causou espanto aos
moradores e despertou a curiosidade e a malícia da polícia alemã já habitada.
Trabalhavam os
resistentes continuamente, em surdina, avisando a população de que haviam tido
problemas com um trem que descarrilhou, por excesso de peso.
Felizmente, Edward recebe
notícias de que sua família conseguiu chegar bem à Lituânia, por meio de outro
cidadão polonês que volta à pátria, para ajudá-los. Sente-se aliviado e
anima-se ao trabalho noturno, com maior esforço.
Esse trabalho incansável
e quase inútil vai progredindo, sem perceberem que a polícia alemã, perspicaz e
sabedora do que fazem, deixa-os continuar e fingem não perceber.
Após uns quatro meses de
desvio dos trilhos, anunciam o retorno de uma nova viagem. Vendem passagens a
pessoas desesperadas para sair dali.
O próprio Edward,
confiante, embarca, também, para reunir-se aos seus. Despede-se dos amigos e
tenta sonhar com uma nova vida.
Nem bem o trem percorre o
novo trilho, há alguns quilômetros da cidade natal, são atingidos por uma forte
explosão que danifica e incendeia o caminho, fazendo-os parar e tentar escapar
do fogaréu apavorante.
Alguns se salvam e
correm, outros não, foi uma bomba chamada fósforo branco, que explodiu, mas não
destinada a matá-los, só destruir o caminho.
Edward, ajuda-os enquanto
pode, logo sentindo forte dor no peito e asfixia. O esforço com o trabalho, o
sentimento de tristeza pelo fracasso, a tragédia dessa guerra ensandecida, o
leva a cair pela mata e não levantar mais.
Mais um que falece
durante as tragédias das guerras!
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