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quarta-feira, 16 de abril de 2025

AS TRAGÉDIAS DAS GUERRAS! - Dinah Ribeiro de Amorim


AS TRAGÉDIAS DAS GUERRAS!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Edward era gerente da estação de trens, em Vassenovitch, uma povoação pobre, perto de Varsóvia, na Polônia.

Pessoa calma, bonachona, realizava seu serviço com simpatia e amabilidade, sempre disposta a um dedo de prosa nas horas fora do expediente. Contava piadas e dava gostosas gargalhadas, amassando o uniforme e coçando os cabelos, apertados no chapéu. Parecia querer tirá-lo da cabeça o tempo todo.

Com o início do ano 1940, o país foi ameaçado de entrar em guerra, invadido pela Alemanha, que pretendia dominar o mundo europeu, com a imposição do Nazismo.

Essa situação foi preocupando o sentimento polonês e mudando o otimismo dos seus trabalhadores.

Edward, casado e com três filhos, preocupa-se com a situação e trabalha, agora, incansavelmente, auxiliando os que querem sair da pequena cidade em busca de abrigo em lugares melhores, talvez até sair do país. Ajuda-os em alojamentos e passagens gratuitas, quando possível, para o uso dos trens.

Com agravamento da situação, o trabalho aumenta, tornando-se um grande auxiliar, na cidade, aos defensores dos poloneses. Começa a fazer parte da resistência.

Os trens que passam pela cidade chegam abarrotados de gente. Idosos, famílias com crianças, malas, pacotes, todos foragidos da dominação alemã.

A preocupação torna-se tão grande que só quem passou por essas situações graves pode sentir e comentar.

Os inimigos, cada vez mais perto, começam a investigar os passageiros dos trens, querendo evitar fugas indesejáveis, de cidadãos que se opunham a eles. Necessitavam deles também como apoio, mesmo inimigos. Queriam convertê-los.

Edward conseguia, com dificuldades, falsificar identidades, fotos, itinerários, tudo que fizesse as viagens de trem parecerem normais, até os bilhetes gratuitos ele distribuía.

Mesmo quando eram examinados, as viagens de trens não despertavam a desconfiança de que eram fugitivos.

Sua habilidade tornou-se conhecida entre seus concidadãos e o trabalho teve sucesso, mesmo com o aumento da guerra.

Antecipando que os inimigos chegariam também a invadi-los, cismou, como precaução, de enviar esposa e filhos para uma fazenda, em região oposta, na Lituânia, aos parentes da mulher, que se dedicavam à extração do âmbar, ao norte da Polônia.

Preparou-os bem, arranjou registros de trabalho, disfarçou itinerário, trocou bilhetes, fez tudo de acordo para viajar e fugir com sucesso. Continuaria na sua cidade, trabalhando pelos seus. O coração desprendido e alegre de outrora modificou-se, tornou-se astuto e desconfiado, a serviço dos poloneses.

A polícia alemã invade também a sua cidade e começa a observar e controlar melhor as viagens de trem.

Suspeitavam que poloneses estavam fugindo do país e, para impedi-los, fiscalizam agora os viajantes.

Percebem que muitos cidadãos já foram embora e os trens continuam cheios, a desconfiança aumenta.

Edward, sabedor de todas as notícias, fica sabendo que, para evitar as fugas, os soldados alemães colocam bombas nos trilhos dos trens, evitando, assim, esse aumento de viagens.

Justamente, quando é avisado, o trem com sua família partia. Recebe a incumbência, da parte da resistência, de desativar as bombas nos trilhos.

O homem, em desespero, chama os companheiros e começam a estudar como iriam realizar esse serviço.

Seus cabelos caem, tornando-o careca. Rugas estranhas e precoces rodeiam, agora, seus olhos, preocupados e tristes. Nas mãos, enquanto planeja com os amigos essa atividade secreta, um leve tremor atrapalha seu trabalho em desenhar ou segurar o marcador de itinerários.

Edward perdeu totalmente o gênio brincalhão e as risadas gostosas, é agora um homem extremamente nervoso e enérgico, que, com dedo em riste, dirige-se aos companheiros. O ódio e a raiva o dominam e o medo do perigo faz suar o uniforme antigamente tão limpo.

Sente-se culpado por enviar a família tão longe e como evitar, agora, a explosão das bombas? Não havia imaginado que a maldade inimiga chegasse a tanto. Mas chegou e logo iria além.

Planeja com os companheiros saírem à noite, às escondidas, para percorrerem as viagens pelos trilhos, antecipando cada parada em uma estação.

O difícil seria desativar cada bomba localizada, sem muita experiência com armamentos e utensílios de guerras. Mal haviam feito um breve serviço militar. Essa guerra estúpida pegou-os desprevenidos. Era um povo pacífico, calmo, sem grandes ambições.

Aparece na pequena cidade Leonard, um polonês que vivia na Alemanha, tendo ido estudar arquitetura. Com o início da mudança política, desiste de tudo e volta ao seu país, preocupado com a família e achando que teria paz. Percebendo a preocupação local e a extensão do movimento, inscreve-se também na Resistência.

Leonard, como todo jovem, na Alemanha, teve um treinamento mais rigoroso no exército, como preparação futura. Era uma obrigação de cada estudante. Seu entendimento de armas e bombas ajudou muito os poloneses. Logo é chamado por Edward para auxiliá-los no que estão pretendendo. Participa com eles dos movimentos noturnos e tenta reconhecer como desativar cada bomba encontrada.

O novo amigo da Resistência havia estudado sobre bombas utilizadas nas guerras ocorridas na história, mas esse tipo de bomba que poderiam colocar nos trilhos dos trens, não lançadas, seriam as semelhantes aos terrenos minados, que explodem ao toque, de difícil localização noturna.

Teriam que usar algo ou alguém para percorrer o caminho com eles e causar a explosão. Assim mesmo, o trilho ficaria inutilizado e impediria a passagem de novos trens.

Edward pensa seriamente no assunto e estuda a possibilidade de avisarem os maquinistas para o desvio dos lugares perigosos. Teriam que modificar o caminho dos trilhos com urgência, e isso levaria tempo.

Sua primeira medida urgente foi o cancelamento de qualquer viagem por trem que saísse de sua cidade.

Isso causou espanto aos moradores e despertou a curiosidade e a malícia da polícia alemã já habitada.

Trabalhavam os resistentes continuamente, em surdina, avisando a população de que haviam tido problemas com um trem que descarrilhou, por excesso de peso.

Felizmente, Edward recebe notícias de que sua família conseguiu chegar bem à Lituânia, por meio de outro cidadão polonês que volta à pátria, para ajudá-los. Sente-se aliviado e anima-se ao trabalho noturno, com maior esforço.

Esse trabalho incansável e quase inútil vai progredindo, sem perceberem que a polícia alemã, perspicaz e sabedora do que fazem, deixa-os continuar e fingem não perceber.

Após uns quatro meses de desvio dos trilhos, anunciam o retorno de uma nova viagem. Vendem passagens a pessoas desesperadas para sair dali.

O próprio Edward, confiante, embarca, também, para reunir-se aos seus. Despede-se dos amigos e tenta sonhar com uma nova vida.

Nem bem o trem percorre o novo trilho, há alguns quilômetros da cidade natal, são atingidos por uma forte explosão que danifica e incendeia o caminho, fazendo-os parar e tentar escapar do fogaréu apavorante.

Alguns se salvam e correm, outros não, foi uma bomba chamada fósforo branco, que explodiu, mas não destinada a matá-los, só destruir o caminho.

Edward, ajuda-os enquanto pode, logo sentindo forte dor no peito e asfixia. O esforço com o trabalho, o sentimento de tristeza pelo fracasso, a tragédia dessa guerra ensandecida, o leva a cair pela mata e não levantar mais.

Mais um que falece durante as tragédias das guerras!

 


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