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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O PASSADO VOLTA DE REPENTE! - Dinah Ribeiro de Amorim

 




O PASSADO VOLTA DE REPENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Margarida caminha, vagarosamente, pelas campinas verdejantes. Consegue chegar ao vale. Senta-se com esforço e estica o corpo, relaxando-se ao sol. Borboletas coloridas esvoaçam à sua frente, com tonalidades especiais. O perfume de flores paira no ar.

Fecha os olhos e pensa, conseguiu chegar ao final.

Anos de turbulência e esforço, vontades sufocadas, sentimentos de fracassos e esperanças, mas, objetivos alcançados, comprou a moradia na aldeia campestre.

Velha, cansada, de movimentos fracos e lentos, menor disposição que antes, mas ainda feliz. É sua, agora, a casa sonhada. O passado é vencido pelo presente.

Dona por direito, nela nasceu; foi expulsa logo cedo, em companhia da mãe, aos cinco anos.

Guardou a lembrança saudosa daquele local, daquelas paisagens verdes, dos folguedos e sonhos de criança, na esperança de um dia voltar.

Voltou, afinal.

O tempo presente é a realização do sonho, a concretização final da atribulação, do trabalho feito.

Pena que sua mãe não o alcançou. Não viveu a tempo.

Pensa na mãe e a vontade aperta, sente saudade, lembra o passado.

A moça bonita, cabelos louros ao vento, puxando-a pela mão, a mala grande na outra, andando apressada em direção ao trem. Iam para a capital, em busca de trabalho.

O patrão, seu pai, o dono da casa e dono delas, também, mandou-as embora. Não era casado e considerava a mãe uma simples amante ou governante da casa. Foram dispensadas a pedido de um amor atual, moça que considerou noiva, com quem pretendia casar.

Margarida, em menina, não entendeu a situação, no momento, só percebeu, triste, que estavam deixando a casa, o único lugar que conhecia, o homem que chamava de pai, em busca do estranho, do desconhecido, que lhe causava medo e decepção.

Um futuro incerto as aguardava e passaram mesmo por muitas incertezas.

A mãe, moça e bonita, mas sem instrução, só conseguiu trabalhos à custa da aparência física, numa época em que a mulher só era considerada do lar ou fora dele, empregada de algum estranho.

O difícil era manter a filha junto a ela e a menina viu-se colocada num internato de freiras para órfãos ou indigentes, mas com estudo. Foi difícil separar-se da mãe e sentiu-se magoada, com isso, por muitos anos. Não entendia o porquê?

Recebia suas visitas semanais, que rareavam, às vezes, quando ela conhecia alguém mais especial, e viajava por uns tempos.

Os anos se passaram e Margarida, mocinha, saiu do orfanato, com emprego fixo de babá, numa casa de família. Os primeiros anos de escola, completou. Lembra com saudade de algumas irmãs que a ajudaram e foram carinhosas com ela. Davam-lhe bons conselhos.

Maias tarde, ela e a mãe conseguiram morar juntas.

Como babá, juntou um pouco de dinheiro e, auxiliada pela mãe, que resolveu empenhar-se em costurar, frequentou uma escola à noite, para completar os estudos.

Com o tempo, seus sentimentos íntimos, suas revoltas, transformam-se em sonhos e ambições.

Vontade de viver melhor, dar à mãe uma vida boa, já se queixava das vistas, vieram à sua cabeça e começa a pensar grande, auxiliada por leituras e exemplos aprendidos.

Vem a vontade de cursar uma faculdade, prestando vestibular para jornalismo.

Torna-se brilhante jornalista, empregada numa revista de grande popularidade local, a revista CLÁUDIA.

Seu nome começa a aparecer e é convidada para grandes entrevistas e realizações sociais.

Seus artigos, relacionados à vivência infantil e familiar, são muito apreciados e começam a ser procurados para dar cursos sobre isso.

A vida de Margarida se transforma novamente. Passa a ser uma pessoa conhecida, de grande popularidade, inteligente e bondosa, professora de ensinamentos. Uma filósofa, praticamente.

Com isso, adquire uma razoável situação econômica, podendo realizar, em grande parte uma modificação para melhor em suas vidas.

Após alguns anos, a mãe, cansada e mais velha, adoece, recebendo de Margarida muita atenção. Sua visão também fica comprometida, tendo o auxílio de uma enfermeira, uma bengala para caminhar em casa e um cão guia para ir às consultas médicas. Auxílios às pessoas com dificuldades visuais.

Preocupada com a mãe, sua única família e a pessoa que mais amava, Margarida dedicou-se totalmente a ela. Esqueceu-se de sua profissão e sonhos.

Queria realizar os sonhos de sua mãe e perguntava-lhe sempre o que tinha vontade.

Espantou-se um dia, um pouco antes dela falecer, quando lhe respondeu querer voltar a ver a casa onde moraram, no campo.

Sua mãe ainda sentia saudades de seu pai, e tinha o mesmo sonho que ela, ter a casa em que nasceu.

Começou a preocupar-se com isso, querer sondar a situação, não do pai, mas da casa.

Colocou corretoras locais para averiguarem quem ainda era o dono da mansão campestre? Curiosa, soube que estava à venda, sem nenhum interessado e a moradora local, uma viúva, em situação difícil.

Volta para dar a notícia à mãe e encontra-a, no hospital, levada às pressas. Problema de coração.

A mãe de Margarida falece, não recebendo a notícia sobre a casa.

Muito triste, a filha, em consideração à mãe, esquece o assunto, passando alguns anos dedicada ao seu trabalho. As lembranças permanecem escondidas em seu coração amargurado, só deixando aflorar os sentimentos presentes.

Leva alguns anos na profissão que escolheu e sente-se bem com isso, aliviando a dor do falecimento da mãe e tentando alegra-se com o presente atual que a vida lhe oferecia!

Um dia, lendo um jornal mais antigo, vê um anúncio que lhe chama a atenção: leilão municipal no interior! Aos interessados, segue-se a data e mais informações.

Descobre que a sua primeira casa, seu sonho antigo e de sua mãe, faz parte desse leilão.

Sonda melhor a respeito e vai assisti-lo no dia certo.

Tem, na noite anterior, um sonho com a mãe, sentindo-se feliz.

Antes do leilão, vai até a casa para verificar seu estado. O terreno, ainda bom, chama-lhe a atenção, mas a casa, em si, necessita de reforma.

Conversa com moradores locais e fica sabendo que o antigo dono faleceu cedo, deixando a esposa como herdeira. Não tinham filhos.

A esposa viúva, sem tino algum sobre negócios no campo, plantação e criação, levou tudo à falência, falecendo também pobre e desgostosa.

Conclusão: propriedade do município, estando à venda.

Consegue ganhar a causa. Compra novamente sua casa de nascimento. Volta a ser a proprietária, embora adulta e já com idade avançada.

Inicia uma reforma, reconstrói o que era viável e lhe traria retorno financeiro e volta, feliz, em sua primeira moradia.

Seu passado torna-se, novamente, o presente e o futuro em sua vida.

Apreciamos uma Margarida feliz!

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