Confissão de um Cachorro
Hirtis Lazarin
Eu nasci na rua e na rua me
criei. Livre e sem nome, caminhava por todos os cantos. Assustado e
com medo porque tudo era novo pra mim.
Descobri que há gente boa e gente ruim.
Alguns entendem minha fome e me oferecem alguma coisa pra comer. Outros
fazem cara de nojo, batem os pés e me expulsam com gritos. Escuto muito “Sai
daqui, vira-lata”. Não sei o que é “vira-lata”. Só sei que não é
coisa boa.
As crianças me fazem carinho e alisam
meus pelos, longe dos olhos dos pais. Será que elas entendem que não tenho
ninguém e que gosto do carinho e da companhia delas?
Não conheci meu pai, fiquei pouco tempo
com minha mãe e meus irmãos, eu os perdi por aí.
Há muitos cães vivendo na rua.
Afasto-me dos grandes. Tenho medo deles. Olhei-me num pedaço de espelho jogado
no lixo e vi a minha imagem refletida. Sou pequeno, magro e pelos bem curtos.
Não gostei do que vi e até senti pena de mim.
Um cachorro sem raça, sem nome e de
porte franzino. Acho que eu me daria o nome de “Fragilidade”. Sei que é uma
palavra bonita e comprida bem diferente de mim, mas sou livre e escolho o
nome que eu quiser.
Ontem abriguei-me num ponto de ônibus,
um cantinho acolhedor. Alguém me chutou. Não sei o porquê. Acordei sangrando e
fugi.
Hoje está chovendo, estou molhado e com
muito frio. Procuro um abrigo.
Não sei explicar bem o que é ser de
raça, mas se for lutar pela sobrevivência, sou de raça desde que eu nasci.
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