BALEIA!
(fluxo de
pensamento)
Dinah Ribeiro de Amorim
— Fora, Baleia! Não tem
comida para você.
Saio andando de cabeça
baixa, orelhas murchas, caminho pelo chão batido e seco, até me cansar...
Sinto, de repente, a
terra macia, uma água se aproxima, permaneço quieto e parado. O local se enche
de água. Fico boiando nessa água limpa e cheirosa, sinto-me bem, alivia o meu
cansaço.
Meu corpo se transforma,
ao invés de patas, tenho nadadeiras que parecem asas. Mergulho e nado nessa
água gostosa, que alivia o calor de fora e me distrai da fome. Olho ao redor,
vejo que me olham, curiosos, alguns peixinhos...
Meu nome é Baleia, mas
nunca pensei que era um peixe. E peixe grande!
Abro a boca e vários,
pequenos, me saciam a fome. Os maiores, peixes grandes como eu, fogem,
assustados.
Que delícia de vida estou
levando. Sem sede, sem fome, sem excesso de calor, longe daquela terra seca e
miserável que tinha.
De repente, um latido
forte, caio numa cachoeira. Esforço-me para sair dela. Abro os olhos. Percebo
que dormi.
Volto ao chão de terra,
ao calor do tempo, à fome que sentia.
Não sou peixe, mas o cão
Baleia, moro com retirantes desse sertão maldito; expulsam-me quando a família
consegue um naco de carne; mal dá para todos.
Triste e solitário
continuo a caminhar...Talvez ache algum bichinho apetitoso nesse deserto
sofredor...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.