O
REI DA TAPIOCA
Henrique Schnaider
Juarez nasceu dentro de um lar pobre e totalmente
desestruturado. A mãe Rita era carinhosa, dava atenção em tempo integral ao
filho, enchendo-o de mimos e carinhos. Dizia “ por pior que seja a situação na
vida, sempre mantenha o bom humor e a alegria de viver”.
O pai Antunes, bêbado inveterado, não parava em
emprego nenhum. Vivia no boteco do Cabeção, pendurando a conta que só crescia.
Lá pelas tantas, cambaleando chegava em casa, e do nada arrumava motivos para
agredir a família.
O que mais irritava a Antunes é que apesar de ele
infernizar a mulher e o filho, os dois continuavam a sorrir não perdendo o bom
humor. Isso acabava por desconcertar ao pai que tratava de ir dormir.
Juarez às vezes ficava triste devido à miséria e à
vida infeliz que levavam., ele e os pais. Mas, logo lembrava dos conselhos da
mãe, um bálsamo na vida do pobre menino. Devido à vida de humilhação, o
objetivo dele era de um dia ser rico. Este sentimento agora crescia, um bolo
bem-feito com a ajuda do fermento.
A família, para não passar fome, vivia de doações.
Rita aceitava de bom grado tudo que recebia. As roupas e sapatos que Juarez
usava, eram números bem acima do dele. Quando ia para a escola muito malvestido,
os colegas não o perdoavam e caçoavam dele, inclusive lhe apelidaram de Patatí
(palhaço famoso pelo sapato enorme que usava).
Apesar das tantas agruras, Juarez
vivia demonstrando seu bom astral. Aos 15 anos começou a trabalhar, além
de estudar. Ajudava em casa, e conseguia juntar uns caraminguás, para poder
comprar roupas e sapatos usados, mas que eram seu número. Assim, a aparência
melhorou.
Trabalhou no mesmo emprego dos 15 aos 18 anos,
sempre ajudando em casa, onde as coisas iam de mal a pior. O pai de tanto
beber, acabou morrendo de cirrose hepática. Juarez, agora mais do que nunca, além
de manter e ajudar a mãe, poupava um pouco de dinheiro para realizar o sonho de
fabricar e vender tapiocas. “Vou ficar muito rico com esse negócio! ”.
Finalmente, com um bom dinheiro guardado, largou o
emprego e começou em casa, com a ajuda da mãe, a fazer e vender tapioca. Era um
empreendimento modesto ainda, mas Juarez estruturou muito bem sua carteira de
clientes.
Dessa forma o negócio progrediu, e se ampliou
a tal ponto que Juarez ficou conhecido como o rei da tapioca. Chegou a ter 50
empregados.
Acabou conhecendo o luxo e a riqueza, mas sempre
mantendo o lema de sua mãe já falecida, do bom astral, alegria e sempre com um
sorriso no rosto. Casou-se e a felicidade se completou com a chegada dos 3
filhos, mas parece que os bons tempos não duraram para sempre.
Juarez acabou metendo os pés pelas mãos em maus
negócios nos quais foi sempre aconselhado por um vigarista que lhe deu um golpe
enorme e Juarez perdeu tudo. Voltando à miséria, ele e a família. Apesar do
desastre financeiro, o agora empresário falido, não esqueceu o lema de sua mãe
e não perdeu o sorriso e a esperança de superar as dificuldades.
Dessa forma aquele menino que tanto sofreu na
infância, mas que aprendeu, que sempre haveria uma forma de conseguir
ultrapassar, tudo de ruim que a vida lhe proporcionasse. Agora já um homem na
casa dos 50 anos de idade, outra vez na miséria e sentado numa cadeira de
balanço, na varanda da casa onde estavam morando de favor, fechou os olhos,
lembrou da querida mãe, já tão distante em outro mundo, e de suas sábias
palavras de incentivo. Sorriu com a certeza de que bons tempos viriam de novo.
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