UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM
Do Carmo
Hoje, exatamente hoje, está completando
treze dias que este mal-estar começou. Sempre que acordo, abro as janelas de
meu apartamento, porém nunca esse ritual incomodou-me como me perturba agora, pois
lá está ele: o grande dinossauro, meio de ébano e meio de marfim; olha-me,
mostra-me seus dentes bem enfileirados e retorna a costumeira postura: sentado
caprichosamente e com negligência repousa seu vigoroso corpo e lá fica até que
outra vez eu abra as janelas para um outro angustiante dia.
Como estou aposentada, procuro manter um
planejamento diário diversificado, tenho meu dia movimentado e sem rotinas:
ocupo-me muito trabalhando na cozinha, minha tarefa predileta, eu gosto de ser
elogiada com os tão famosos UH!!!! VOVÓ, QUE DELÍCIA! Embora tenha uma excelente ajudante, mais
companheira que serviçal, existem coisas que são feitas, exclusivamente por
mim. Para essas tarefas eu dedico dois dias alternados da semana e os outros
três dias úteis, são para meu deleite – meus cursos de Redação e de Jornalismo
na USP e mais dois na Casa das Rosas – Escrevivendo e Estudo sobre obras de
Machado de Assis, ficando o final da semana para que eu compartilhe com meus
filhos e netos.
Mesmo com toda a azáfama do meu dia a
dia, meu cérebro não tem conseguido se desligar da persistente angustia causado
por essa visão, que não sei dizer, com segurança, se é real ou apenas fruto de
minha imaginação. Mas tenho certeza de que me sinto muito desconfortada e
inibida a comprovar sua legitimidade.
Mas
hoje, exatamente hoje, décimo terceiro dia, acordo com o toque da campainha do
interfone e o porteiro anuncia a presença de um vizinho desejoso em falar
comigo e pergunta-me se o deixa subir. Respondo que sim, porém peço que me
aguarde por alguns minutos, uma vez que preciso
preparar-me para receber o
visitante. Eu estava dormindo quando o interfone tocou. Rapidinho, visto uma
roupa caseira e sem maiores esmeros; então, peço ao porteiro, pelo interfone,
que o faça subir e como é de meu hábito, abro a porta e fico esperando.
Meu Deus! Quem é que sai do elevador? O
dinossauro de ébano e marfim. Sinto uma vertigem, tudo gira ao redor e
lentamente com o mais lindo sorriso já visto, aproxima-se e com voz firme, mas
envolvente, diz:
— O seu dinossauro de ébano e marfim, está aqui.
Com um sobressalto de emoção e coberta de
suor frio, acordo realmente, levanto-me e corro até a janela, e para minha mais
absoluta frustração, o dinossauro de ébano e marfim, não esta ali.
Tudo não passou de uma mentira, ou fruto
de minha imaginação.
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