LEMBRO-ME AINDA!
Dinah
ribeiro de Amorim
É
como se fosse hoje. Não consigo apagar da memória. Lembro-me ainda daquela
casa, do jardim maravilhoso, de tantas brincadeiras engraçadas! Eu, meus
irmãos, nosso cachorro, dias claros de sol. Papai e mamãe juntos!
Tinha
apenas cinco anos e não entendia muito bem as coisas. Meus irmãos eram mais
velhos e pareciam muito tristes. Mamãe, chorosa, cabeça baixa, mas convicção e
objetividade no olhar.
Papai,
avistei pela fresta da janela, proibida de sair ao jardim, naquele dia. Não era
castigo. Algo muito sério estava acontecendo. Vi-o abrindo o portão, carregando
uma simples maleta, olhando lentamente para a janela do meu quarto, beijando
meus irmãos e saindo em direção ao carro. Ele e mamãe não se falaram nem se
despediram com um beijo, como faziam sempre.
Não
sei por que, alguma intuição infantil, talvez, senti que não mais o veria. Iria
embora para sempre.
Realmente,
nunca mais o vi, nem soube dele. Minha tristeza foi tão grande que, não sei
explicar como: as rosas vermelhas do meu jardim murcharam, parecendo gotas de
sangue que caiam ao chão. As outras flores também se fecharam, como se
estivéssemos num rigoroso inverno, o inverno do meu coração.
Não
brinquei mais! Minhas idas ao jardim, tão felizes antes, limitaram-se a idas e
vindas ao portão, saídas para a escola e, ainda ansiosa, esperar sua volta.
Meu
pai! Nunca soube realmente o que aconteceu. Suas brigas com mamãe, seu choro às
escondidas, suas desculpas às minhas interrogações. Até hoje o espero! Já
adulta, com filhos e netos. Nem sabe a falta que fez!
Suas
brincadeiras comigo, suas histórias engraçadas, nossas corridas pelo jardim,
minha ajuda ao plantio de algumas flores. Sentia-me sua predileta. Única filha
mulher entre quatro irmãos. Queixavam-se, às vezes, dizendo que eu, quando
entrava, parecia um sol em sua vida. Talvez fosse mesmo.
Mamãe
faleceu cedo, após dura vida de trabalho para nosso sustento. Devemos a ela o que somos hoje! Mas, meu pai,
quando o lembro, uma saudade triste, uma dor aguda no peito, uma sensação de
vazio, ainda me invade.
Nunca
mais admirei jardins. Quando viajo, visito vários lugares, observo tudo e
escuto amigos dizendo: “Nossa, que jardim lindo!” “Que flores maravilhosas!”
Passo rápido, procurando outros caminhos, outras histórias, interesso-me por
gente!
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