A
história de Mariluce.
Dinah Ribeiro de Amorim
Mariluce era uma mulher
gananciosa e arrogante, vivia esbanjando a pequena herança deixada pelos pais.
De festas em festas, lojas e lojas, namoros escandalosos, sua futilidade era
tanta que chegava a ser desprezível, aos olhos de algumas famílias
conservadoras.
Tratava seus empregados com
severidade, estupidez, considerando-os inferiores e medíocres. Não se importava
com problemas alheios, com dores ou tristezas quando as ouvia, interessando-se
somente por pessoas ricas, de cargos importantes, que lhe trouxessem alguma
vantagem.
Como pessoas assim, existem
muitas no mundo, sentia-se rodeada de amigos e interesseiros, como ela.
Citada em rodas festivas,
comemorações, exposições importantes e em cada assunto frívolo e inútil, lá
estava ela, muito bem acompanhada.
Mulher bonita atraía olhares
cobiçosos, embora transmitisse uma certa frieza. Cativava inicialmente muita
gente, vivia intensamente vários romances, não durando muito esses
relacionamentos. Trocava-os com muita facilidade. Não se prendia a ninguém.
Demonstrava a todos uma
felicidade que, intimamente, não sentia. Algo faltava para preencher esse
coração vazio e amargo. Só não sabia o que.
Os anos foram passando, a
maturidade chegando, o dinheiro acabando, a velhice aparecendo.
A saúde, começando a dar
sinais de preocupações, desgastada por excessos, levou-a ao médico.
Aconselhada a uma vida mais
calma e saudável, procurar lugares sossegados e algum trabalho voluntário, porém
negou-se a seguir tais conselhos,
continuando na mesma de sempre.
“médicos, bolas, só falam
besteiras!”
Como seu gênio não mudou, ao
contrário, só piorou com os problemas da idade, os amigos desapareceram, a
solidão chegou, os empregados saíram à procura de melhor emprego, ela ficou só.
Sozinha na casa que restou,
sem alguém para servi-la nos momentos
difíceis e socorrer quando necessitasse.
Começou então a pensar na
vida passada e no que fizera.
Olhava pela vidraça a casa
em frente, vizinhos que mal cumprimentava, porque eram simples e pobres,
reparando agora, com inveja, em como eram mais felizes. Alegres, cheios de
filhos e netos, festejando, brincando, entrando e saindo. A mais velha, que
deveria ser a avó da turma, tomando sol na varanda, em cadeira de balanço ou
com um crochezinho nas mãos, parecia estar bem e feliz. Sempre rodeada por
trepadeiras e as lindas rosas do seu jardim. Transmitia paz, sossego,
prosperidade.
Uma vez, viera até sua
porta, trazendo-lhe um bolo, manifestando amizade. Negara-se a abri-la,
considerando-a humilde e mal vestida demais, para ser sua amiga. Como se
arrependia agora! Amaria provar aquele bolo e conhecê-la, nos tempos atuais.
Não sabia cozinhar nada e nem pensava em comer fora. O dinheiro mal dava para
suas despesas. Fez investimentos errados, aconselhada por falsos amigos e,
perdeu quase tudo, restando-lhe pouco para sobreviver.
Uma casa velha, um
jardim abandonado, mato crescendo, sem flores, no lugar das lindas begônias,
plantadas por sua mãe. Haviam murchado junto com ela.
A vida muda de repente e Mariluce
nunca se preparou para nada. Restou-lhe
vender a casa e ir para um asilo.
Arrependida, pensou, pela
primeira vez, na existência de Deus.
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