Pedro navegando por novas experiências, desta vez o MICROCONTO.
A IDENTIDADE DO MORIBUNDO
Havia
um homem morto no meu quintal. A pancada esplendorosa de tal fenômeno
defrontou-me com farpas viscerais. Essas, cuja alma grita com a introdução.
A
vida, do nada, decidiu girar e girar e cada poro revelar, mostrando o corpo nu
que vem ao mundo na fragilidade de um bebê.
O
vento, o odor, eu. Tantos elementos que tornaram a recepção do olhar do defunto
um copo de sofreguidão a se tomar.
Há
nele o arrepio dos séculos e a rigidez dos corpos que obtiveram a santa
segregação pelo fardo da hostilidade que reside no peito e na boca de cada
homem.
Ao
observá-lo, analiso também minha própria vida, que de nada pode consigo mesma.
Não
tive a noiva ideal. Essa, preferiu meu primo.
Não
conquistei minha vaga. Foi dada a um incompetente que nem um relatório tinha
habilidade de produzir.
Não
fui bom filho. Meus pais afirmavam que meu irmão era melhor. Em síntese,
“falhei em tudo”.
É
por esse motivo que nada me afasta do morto, pois ele não passa do rio cuja
água cristalina reflete meu próprio eu.
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