O PRESENTE DIFERENTE!
Dinah
Ribeiro de Amorim
Eric
gosta de brincar até tarde da noite, na rua. Escondem-se em casas abandonadas e
tentam achar uns aos outros.
Procuram
provocar medo, soltam gritos e urros, mas nada temem. Caem na gargalhada.
Em
noite de brincadeira, Eric entra sozinho, numa casa escura e vazia e, de
repente, ela se ilumina fortemente, como se o esperasse.
Assustado,
fecha os olhos com a claridade. Quando os abre, percebe um ser estranho, meio
homem, meio bicho, que lhe joga uma varinha, avisando-lhe que é mágica e poderosa.
A varinha obedece a tudo o que ele mandar, mas só para o bem. Se ordenar algo
mal, acabará o podê-la.
O
menino, segurando-a, não tem tempo de perguntar nada, o ser estranho desaparece
e a casa escurece.
Com
a varinha na mão, Eric pensa em voltar para casa, fugir dos amigos. E, de
repente, ele está em seu quarto, fazendo lição.
Sente
fome, lembra-se que ainda não jantou. A melhor macarronada lhe aparece à
frente.
Come
depressa e desce à sala, onde estão o pai, a mãe e o irmão Lucas, com quem
briga constantemente. É mais velho e não se dão nada bem.
Lucas
assiste na televisão um jogo que Eric detesta e a um sinal seu, com a varinha,
o canal muda e aparece o seu filme predileto.
Todos
o olham, muito espantados, e querem saber tudo sobre essa varinha.
Eric
é obrigado a contar a verdade, um ser estranho, numa casa estranha, deu-lhe
essa varinha para fazer o bem.
A
mãe, encantada, já a quer emprestada para levar ao hospital, de manhã, onde
trabalha como voluntária.
O
pai, também a quer para solucionar alguns problemas dos empregados da firma,
que estão com dificuldades.
Lucas,
o irmão, enciumado, quer emprestar a varinha para ganhar brigas com colegas da
escola.
Eric
responde que a varinha só funciona com ele, e para fazer o bem. Não poderá
emprestá-la a ninguém e, muito menos, para fazer o mal.
No
dia seguinte, o menino vai para a escola e repara, pela primeira vez, no
coleguinha que manca de uma perna. A professora o chama até a lousa.
Silenciosamente,
pede à varinha, escondida dentro da mala, que o livre dessa aflição.
Imediatamente,
quando o menino se vira, volta curado e andando normalmente, até a carteira.
Todos
o aplaudem, achando que o novo tratamento que faz curou sua perna.
Eric
sente uma estranha alegria com esse gesto e milagre da varinha mágica. Quanta
coisa boa poderá fazer com ela!
Sai
pelas ruas meio aturdido, rindo sozinho, espantando os transeuntes.
Avista
na esquina um velhinho que, sentado no chão, pede esmolas com o chapéu. Parece
cansado, desiludido e tristonho, aguardando a hora de morrer. Solicita à
varinha mágica que o anime, solucione os problemas de sua vida, embora continue
idoso, sem poder alterar a ordem dos anos.
A
varinha demora um pouco a se manifestar e Eric pensa que não há mais solução
para ele, mas percebe que é uma varinha pensante. Olha o rosto do idoso e o percebe corado,
luminoso, demonstra alegria. Dentro do seu chapéu surgem inúmeras notas
valiosas em dinheiro, para garantir uma velhice mais tranquila.
Mais
adiante, uma senhora aflita, deseja atravessar a rua com um bebê no carrinho e,
o semáforo está quebrado. A indecisão da mulher se manifesta em suas idas e
voltas, sem coragem de ir. Eric deseja ajudá-la e, imediatamente, o farol se
acende, para os carros e ela atravessa sossegada.
O
menino sente novamente aquela sensação de felicidade nunca sentida antes, o
prazer em desejar o bem. Segura a varinha contra o peito e a aperta,
carinhosamente. Por que será que foi o escolhido para merecê-la? Não sabe.
Volta
para casa e encontra a mãe à porta, de saída ao hospital. Vendo-o tão radiante,
lembra-se da varinha mágica e convida o filho para ir com ela. Quem sabe farão
coisas muito úteis, nesse dia.
A
primeira visita que fazem, é uma idosa que caiu e fraturou quase todos os ossos
da face. No momento, sofre dores horríveis.
Eric,
ao vê-la, impressiona-se muito, acostumado somente a brincar com os amigos.
Aperta, emocionado, sua varinha, que o acode rápido, colocando os ossos do
rosto machucado, no lugar.
Dra.
Ângela, a médica que a socorre, já planejava a sua cirurgia e, ao vê-la, quase
desmaia de susto. Pergunta o que aconteceu. A mãe de Eric, emocionada,
responde-lhe: “Vontade de Deus, doutora! Essa senhora é muito fervorosa! ” E
saem depressa dali.
No
quarto ao lado, um menino, bastante magro e carequinha, aguarda tristonho uma
sessão de terapia. Tem câncer na medula, essa doença miserável que ataca também
as crianças. A mãe de Eric, Dona Paula, costuma contar-lhe histórias
engraçadas, infantis, para alegrá-lo um pouco. Leva também revistinhas em
quadrinhos, com vários desenhos bonitos, fazendo com que se distraia e esqueça,
por momentos, a doença.
Eric,
também ao vê-lo, pensa, tristonho: “Quantos problemas em um hospital, sem a
gente saber. Precisei de uma varinha mágica para conhecer tanta gente
necessitada”.
Ao
senti-lo, a varinha, além de mágica, pensante, é também sensível, capta os seus
sentimentos; transforma aquele quarto numa sala de brinquedos, como um pequeno
parque, com carrossel e tudo, tirando aquela criança da dor e fazendo-a viver
horas felizes. Quando a enfermeira chega para atendê-lo, leva muito tempo para
tirá-lo dali e levá-lo à químio. Quando volta, avisa aos pais que o médico que
o atende irá lhe dar alta por uns tempos. Teve grande melhora.
Dona
Paula e Eric saem dali cansados, mas felizes também, encaminham-se para casa. A
mãe não se esquece de que tem que esconder muito essa varinha, cuidar dela para
não ser roubada ou perder.
O
filho responde, calmo: “Só funciona comigo, mãe, não sei o porquê, e também
para o bem! Com outra pessoa, se transforma numa varinha qualquer! ”
Os
dois chegam em casa e encontram o pai, preocupado com a demora, já adiantando o
almoço, e Lucas, o irmão rebelde, enraivecido com a demora em comer. “A mãe,
agora, só se preocupa com Eric e sua varinha!”
Após
o almoço, Eric, cansado após tantas emoções, vai para o quarto e adormece um
pouco. Pelo jeito, sua vida se transformou e há muito trabalho pela frente.
Encontra, na mãe, poderosa aliada. Sente-se grato por isso.
Adormece
e sonha. Aparece-lhe, em sonho, um lindo anjo branco, brilhante, de asas azuis.
Sussurra-lhe, suavemente, para não se descuidar da varinha, atrai o ciúme e a
atenção dos outros, que não desejam usá-la para o bem, mas para o mal, e ela,
roubada, perde seu poder.
Lucas,
entrando no quarto, vê o irmão dormindo profundamente. Instintivamente, sua
primeira ação é verificar onde Eric esconde a tal varinha mágica. Observa-o
bem. Verifica que está dentro de sua jaqueta escolar. Com delicadeza, a apanha,
a examina bem e dúvida dos seus poderes. Resolve testá-la no quintal.
A
primeira coisa que vê é o gato da vizinha revirando o lixo de sua casa.
Enraivecido, quer chutá-lo para longe, mas lembra da varinha e ordena-lhe que
mande o gato embora. A varinha não o obedece.
Ainda
com muita raiva, Lucas acredita que é uma falsidade que o irmão inventou e,
bastante bravo, joga a varinha mágica dentro da lixeira.
O
lixeiro passa nessa hora e a leva embora. Acaba-se assim o poder maravilhoso
que seu irmão estava realizando.
Quando
Eric acorda, alertado pelo anjo, a primeira coisa que fez foi procurar sua
varinha. Não a encontra mais. Desesperado, procura a mãe para saber se a pegou.
“Não, ela responde. Nem a vi!”
O
menino anda pela casa toda e, nada, não a vê mais. Desconfia do irmão, mas este
disfarça logo e vai saindo.
Desesperado,
volta à noite na casa abandonada, escura, e nada acontece.
Acabou-se
o sonho de curar todos e fazer somente o bem. Que tristeza sente durante dias,
até que sua sábia mãe o aconselha a continuar ajudando outras pessoas,
principalmente no hospital, mesmo sem a varinha mágica. Quem sabe foi a vontade
e um chamamento que teve de Deus.
Eric
torna-se um grande voluntário no auxílio aos sofredores dessa vida.
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