AS MENINAS DA CASA VERDE!
Dinah Ribeiro de Amorim
José Arouche de Toledo Rendon foi uma
das principais figuras do início do império brasileiro. Militar, participou de
diversas batalhas, tornando-se, mais tarde, o primeiro diretor da Faculdade de
Direito de São Paulo, repassando o seu salário para as obras da Santa Casa de
Misericórdia.
Possuía um sítio de janelas verdes, que
ficou conhecido pelo nome de Sítio das Meninas da Casa Verde, suas sete irmãs:
Joaquina, Caetana, Gertrudes, Pulquéria, Maria Rosa, Ana Teresa e Reuduzinda.
Costumava levá-las ao sítio todo final de semana, e, embora solteiras, chamavam
muita atenção pela beleza e formosura que apresentavam.
Esse lugar passou a atrair quem passava,
não só pelas famosas irmãs, mas também por ser o primeiro exportador brasileiro
de café.
Com o tempo, o povo acostumou-se e
adotou o que achou mais importante: As Meninas da Casa Verde.
Sempre juntas, cabisbaixas, muito
recatadas, eram elegantes, bonitas, mas simples, aparentemente.
Joaquina, a mais velha, muito enérgica,
brigava por qualquer motivo que a desagradasse. Exigia obediência e disciplina,
chegando a ataques de fúria, caso não a obedecessem. Nunca pensou em namoro ou
casamento, nem permitia que suas irmãs casassem. Morreu solteira.
Caetana, meio distraída, meio sonhadora,
vivia imaginando histórias e como não sabia vivenciá-las, fugia um pouco da
realidade, cantava e dançava sozinha, sendo motivo de risadas. Também morreu
solteira.
Gertrudes, a do meio, era muito séria,
estudiosa, gostava de ler sobre Ciências, curiosa sobre a vida humana,
demorando horas a observar um inseto ou formiguinha. Se pudesse, seria uma
ótima médica, profissão ainda não permitida às mulheres. Não se relacionava bem
com as irmãs, nem com as pessoas jovens como ela, ficou solteira.
Pulquéria, a mais bonita, a mais
simpática, era muito agradável e ambicionava viver bem na sociedade, procurava
um marido rico, libertar-se das irmãs, o que não aconteceu pela indisposição do
irmão com quem ela escolheu. O sonho não se concretizou.
Ana Teresa, a nervosinha, choramingava à
toa, não podia ouvir um comentário ou história triste, que soluçava ou
desmaiava, dando trabalho sério à família. Necessitava de médico, às vezes. Dependia
muito da atenção das irmãs.
Reuduzinda, a penúltima delas, como o
próprio nome indica, reduzia ou diminuía tudo que encontrava. Gostava de
plantas, mas podava-as tanto que nunca chegavam a crescer. Com as roupas, vivia
cortando barra dos vestidos ou das saias, queria diminuir o tamanho. Já era uma
precursora dos modelos modernos que viriam, gostava de moda e de criar
novidades. Não era apreciada pelas ideias.
Maria Rosa, a caçula delas, a mais
engraçadinha de todas, bonita, gentil, delicada, vivia sorrindo e brincando com
todos. Era dócil e via beleza, em tudo o que encontrava. Amava a vida, a
natureza e as irmãs. Apaixonada por cavalos, costumava cavalgar horas, pelas
manhãs, quando iam ao sítio, nos finais de semana.
Todos gostavam dela e, quando a viam,
diminuíam o passo, desejosos de um olhar ou de um sorriso. Ela retribuía sempre
com gentilezas.
Seu irmão, preocupado com a segurança,
contrata um rapaz para servi-la, durante as cavalgadas, temia que sofresse
alguma agressão ou queda. Rapaz de origem humilde, filho de uma antiga serviçal
da casa, completou seus estudos em Portugal, auxiliado por um médico do
imperador, impressionado com a inteligência e aparência dele. Chamava-se Walter
e era muito educado, elegante e bom servidor. Prefere voltar às origens.
Encanta-se de imediato com Maria Rosa, e
procura tratá-la com amabilidade e respeito sem igual.
A jovem, ao vê-lo, também simpatiza com
sua gentileza e distinção, diferente dos outros servidores do sítio. Travam logo
grande amizade.
Com o tempo, essa amizade se transforma
em atração e amor, sendo as cavalgadas de Maria Rosa e Walter, mais demoradas e
diárias.
As irmãs começam a notar o rosto
afogueado, as demoras, as distrações dela, ao chegar dos passeios; inicia-se o
cochicho entre elas, as intrigas, principalmente com Joaquina, que teima em
saber o que está acontecendo.
Insiste em acompanhar Maria Rosa, quando
sai a cavalgar e, embora disfarcem, logo percebe que existe um namoro entre os
dois. Na primeira oportunidade, corre a levantar as suspeitas ao irmão,
praticamente o chefe da casa e da família.
José Arouche, intrigado, chama Walter no
escritório e manda Joaquina trancar Maria Rosa, no quarto.
Sentada na cama, a jovem esconde o rosto
no lenço e chora, tristemente, sem entender a razão da atitude deles. Afinal, é
moça solteira, em idade certa para namoros e casamentos, e gostou de Walter,
indicado pelo próprio irmão para protegê-la. Qual é o problema?
_ Com que então, Sr. Walter, anda de
conversinhas com minha irmã, durante as cavalgadas? Pergunta José Arouche. “E
qual é o assunto tão importante, além da montaria, para demorarem tanto?”
Walter, cabisbaixo e envergonhado,
responde que sempre foi muito respeitoso com Dona Maria Rosa, mas, realmente,
não conseguiu dominar o coração. Além dos cuidados normais, começou a sentir
grande amor por ela e estava disposto a desistir de sua vida no sítio, se isso
o desagradasse. Sabia que havia uma grande diferença social entre eles, que
esse amor era impossível de acontecer, gostaria de casar-se com ela, mas
aguardava o desfecho que o patrão daria ao caso.
José Arouche, surpreso com a sinceridade
do rapaz, meio sem jeito, afinal também foi jovem e, muitas vezes, apaixonado,
lembrou que Walter foi indicação de Dr. Gomide, médico do imperador, e
recém-formado em Contabilidade, no Império. Resolve pensar melhor no assunto e
consultar Maria Rosa. Afinal, sete irmãs solteiras e só ele responsável pelo
futuro delas.
Walter, esperançoso, sai da sala com ar
sorridente e é visto pelas irmãs, escondidas, que correm a fofocar no quarto de
Maria Rosa.
Esta, ao saber o final da conversa,
aguarda o irmão, temerosa.
Joaquina, revoltada, vai buscá-la e a
introduz no escritório do irmão, que a recebe sisudo e preocupado. Decidir o
futuro da irmã caçula.
José Arouche percebe os olhos vermelhos
da irmã chorosa e já adivinha a resposta que irá obter.
_Gosta desse moço, Maria Rosa? Ele a ama
e quer meu consentimento para noivarem. Percebe que é filho de empregados,
embora esteja em situação melhor que os pais? Apresenta dignidade e estudos,
mas não é do nosso nível, nem o que imaginei para você. Está disposta a
enfrentar a situação?
A moça, espantada, sorri para o irmão e
responde rápido:
_Também o amo. Serei feliz com ele.
Diante disso, José Arouche permite que o
casal namore, noive e se case, observando os costumes tradicionais para que
isso aconteça.
Responde à irmã caçula, tão cativante,
também a sua preferida:
_Sejam felizes!
O casal, feliz, prepara-se para o
casamento. Uma elegante e agradável festa de noivado é feita no sítio, com a
presença dos vários tipos de convidados, camponeses e fidalgos, para aceitação
e modificação dos preconceitos.
Walter tem que ir a Portugal, a mando do
Cartório Civil, para legalização do Diploma e atualização de documentos.
Despede-se de Maria Rosa, triste, e promete voltar o mais breve possível.
Dirige-se a Santos para o embarque do primeiro navio que sai em direção à
Europa.
Acontece forte tempestade durante a
navegação e o navio naufraga. Poucos tripulantes se salvam. Infelizmente,
Walter não foi um deles.
Maria Rosa acaba vivendo no sítio, junto
às outras irmãs, desolada e triste.
É, as sete meninas da Casa Verde morrem
mesmo solteiras...
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