A CAÇADA
(As palavras grifadas foram escolhidas para compor a história)
Claudionor Dias da
Costa
No jardim de minha
casa havia muitas borboletas que sempre faziam magnifica dança
frenética em voos cruzados.
Olhei pela janela e
mantive o olhar circunspecto, atento naquela exótica bailarina de cor azul que se destacava naquele bale
telúrico.
Mas, meus
pensamentos românticos e sonhadores se dissolveram consumidos pela ambição de
sacrificar aquele exemplar por conta do dinheiro que poderia
ganhar. Corri para o velho catálogo de espécimes que possuía desde a época de
menino, quando vivia solto pelos campos correndo atrás delas.
Fui como um foguete em
direção à garagem e do alto da prateleira do armário empoeirado encontrei o
velho puçá que guardava, não sei bem por quê. Surgiu agora a oportunidade de
usá-lo com lucro. Melhorar minha conta corrente.!
Que maravilha!
Meu pensamento
ficou fixo no bolo de dinheiro que teria vendendo-a a
um colecionador…. Aquilo parecia um martelo a bater sem
parar na minha cabeça.
Tão afobado e
eufórico, me detive de repente à porta, e minha atenção se dirigiu para um
curió que cantava perto das borboletas, pareciam acompanhar, dançando, seu
canto. Logo afastei aquela boba visão romântica outra vez e pensei cochichando
para mim mesmo:
- Uma
borboleta-azul e branca rara e um passarinho raro como o curió
quanto não valerão…
Cuidadosamente,
tirei os sapatos para não os espantar.
Pé ante pé… muito
devagar… numa distração do bichinho…Pluft, lancei o puçá e consegui pegá-lo
apesar do vento.
Arregalei os olhos,
minha ambição começou a gritar:
— Falta a
borboleta. Não a perca.
Aquele azul
contrastando com o branco parecia refletir a luz do sol, aumentando
minha ansiedade. Após guardar o curió num pequeno aquário, saí em perseguição
daquela raridade azul.
Por incrível que
pareça, foi mais difícil do que o passarinho. Fiquei atrás por um bom tempo
sacudindo o puçá. Várias tentativas, e eu já cansado estava a ponto de
desistir, quando a vi pousar sobre uma flor no jardim. Dei um salto de atleta e
a apanhei. Coloquei-a numa pequena caixa de papelão.
Todo vitorioso e já
pensando quanto arrecadaria com o sucesso da minha caça, ouvi uma voz de criança entrando
pelo portão.
Era minha filha de
treze anos retornando da escola. Olá, papai. Foi logo dizendo e me beijou.
Com olhar
sorrateiro e todo orgulhoso, disse a ela:
— Veja, minha
querida, que tenho duas surpresas para mostrar a você. E ainda ganharemos um
bom dinheirinho com elas.
Levei-a à garagem e
mostrei minhas conquistas.
Quando ela viu,
ficou parada como se não acreditasse.
— Papai, você mesmo
que apanhou?
Olhei de
peito estufado para ela, e sorrindo, confirmei.
— Não acredito…
Aquele pai que vivia me falando sobre amar a natureza e protegê-la teve coragem
de fazer isso?
Desfilou um longo
discurso sobre ecologia, que com certeza aprendeu na escola, mostrou até
aspectos espirituais e direitos que os animais têm idênticos aos do ser humano.
Fiquei mudo,
refletindo sobre o que estava me dizendo, engoli minha ambição desmedida e,
porque não dizer ignorante. Como se diz: “caiu a ficha” e dei “a mão à
palmatória”. Assumi, perante aquela doce e meiga menina que me olhava com seus
olhos da cor de jabuticaba, meu erro.
Depois do perdão
concedido por ela, nos sentamos no banco do jardim e entregando a ela agora
minha vergonhosa caçada, deixei que soltasse o curió e a borboleta.
Ficamos parados
vendo os bichinhos voarem…
Para nossa surpresa
o curió foi ao alto da árvore e próximo ao amontoado de borboletas, agora
comandado pela azul e branca, cantou como que agradecido àquela menina.
Confesso que senti
até um alívio pela lição que aprendi. Não pude deixar de lembrar as
imagens de quando criança quando corria nos campos só pelo prazer de achar que
brincava com as borboletas…
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