A Borboleta Azul
Adelaide
Dittmers
Borboletas
coloridas voejavam pelo jardim banhado pelo sol da manhã. Aproximei-me da janela para inspirar o ar
puro e perfumado das flores. Na roseira,
uma exótica borboleta-azul e preta me chamou a atenção. Majestosa em suas cores e na forma delicada.
— Não
acredito! Gritei. Uma morpho azul!
“Vale
muito dinheiro! ”, pensei. Há muito
tempo catalogava as diversas espécies de borboletas, que apareciam no jardim. E
essa era muito rara.
Coloquei
na mesa xícara de café, e corri como um foguete até um pequeno depósito, que
ficava ao lado da casa. Precisava do puçá.
Caí, ao tropeçar em uma pedra, mas me levantei rápido. Precisava pegar aquela borboleta. Não podia perder a oportunidade de vendê-la.
A
porta do compartimento estava fechada por uma corrente presa a um cadeado. A chave estava escondida em um pequeno nicho
ao lado da porta. Com a mão trêmula,
tentei agarrá-la, que com a minha pressa, caiu no chão. Nervoso, soltei um
palavrão. Olhei para a roseira. A
borboleta ainda estava lá.
Desajeitadamente, abri a porta.
De
jeito nenhum, podia perder o bolo de dinheiro, que essa caça me daria.
Ao
tentar alcançar o puçá, inadvertidamente puxei com força um martelo, que
atingiu meu pé. Gritei de dor. Mesmo
assim, peguei o puçá e mancando, fui em direção ao meu objetivo, andando bem
devagar para não espantá-la.
Nesse
momento, ela voou para um arbusto próximo.
Lentamente, tentei me aproximar, mas estaquei encantado com o canto de
um curió, que no galho baixo de uma mangueira.
Estava com sorte, o curió também valia muito dinheiro.
A
indecisão tomou conta de mim. O que
deveria caçar, a borboleta ou o pássaro?
Distraído, pisei em uma poça de lama, afundando meus sapatos. Livrei-me
deles e decidi pegar primeiro o curió.
De
repente, uma lufada de vento balançou os galhos da árvore. Fiquei azul de medo de que o pássaro voasse,
mas fui mais rápido do que ele e, zapt, prendi aquele belo espécime. O curió tentava desesperadamente se livrar
de sua minúscula prisão.
Corri
até a casa, onde, com muito cuidado, o coloquei em uma velha gaiola, há muito
não usada.
Voltei
ao jardim. Tinha que encontrar a
borboleta. As notas de dinheiro voavam
em círculo em torno da minha cabeça.
Espantado, vi o filho do empregado, uma criança de sete anos, vindo em minha
direção, segurando a cobiçada borboleta pelas asas.
O menino,
com um sorriso triunfante, disse:
— O senhor
gosta muito de borboletas e esta é linda! Estendeu, então,
sua mãozinha para me entregá-la.
Um rubor
coloriu meu rosto. Fiquei com muita
vergonha de só considerar ganhar dinheiro, quando o menino só pensou
em me deixar feliz com seu presente.
O sol
iluminava o jardim com seus raios generosos.
Dentro de mim outro sol aqueceu meu coração e algo
no meu íntimo sacudiu minha consciência.
Sorri para
a criança:
—
Realmente ela é linda e... merece ser livre.
Soltei-a
com cuidado e ela voou soberana, confundindo-se com o azul do céu.
Virei-me
e olhei para o pobre curió, encolhido na gaiola com os olhinhos fechados. Abri a portinhola. Peguei-o com delicadeza e o soltei. Bateu as asinhas vigorosamente. O vento suave o abraçou e o levou...
O
menino bateu palmas.
Sentindo
a alegria da criança, disse:
— Nada
vale mais do que a satisfação de admirar os pequenos seres enfeitarem a
natureza. E abaixei a cabeça ao pensar
que quase fui vencido pela minha ganância.
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