Hirtis Lazarin
Em Oldtown, pequena cidade do oeste americano,
acontecia a primeira exposição de gado leiteiro. Agitada e festiva; há
tempos não se via tanta gente. Balões coloridos foram amarrados por
todos os cantos.
As ruas estreitas de terra batida congestionavam-se com
carroças puxadas por parelhas de cavalos. Do solo, levantavam-se nuvens
de poeira que provocavam acessos de tosse intermináveis.
O ferreiro coçava a cabeça. Não daria conta de
tanto trabalho. E as ferraduras em estoque não seriam suficientes.
Perdia-se a chance de faturar um pouquinho mais...
Cowboys, vestidos de jeans, lenço no pescoço, chapéu
e botas, exibiam-se às mocinhas casadoiras que se escondiam atrás de
risinhos tímidos e marotos. Eram jovens fortes e valentes que dominavam,
acrobaticamente, o laço e o gado.
No "saloon", agitado e barulhento, a
música alta misturava-se ao vozerio grave e alterado dos homens. Mulheres
jovens, exuberantes e pouca roupa ofereciam "moonshine" aos mais afoitos.
Rose nasceu em Oldtown. Cresceu, praticamente,
no colo do avô, atenta e encantada com as histórias que ele lhe contava.
A sua família foi uma das primeiras a chegar ali, no oeste americano,
lado esquerdo do rio Mississipi. Terra inóspita e selvagem que se
fazia tremer com o estouro de manadas de bisões que se perdiam nas planícies
sem fim.
O trabalho incansável, a persistência e a esperança
nunca faltaram a essas famílias desbravadoras. E foram esses
exemplos que moldaram a personalidade da menina Rose.
Seu pai, Joe, era proprietário da única loja que
abastecia os moradores, agricultores e rancheiros. Vendia um pouco de
tudo.
Depois de um dia exaustivo e cheio que começou às
06:00 da manhã, pai e filha fechavam o estabelecimento. Rajadas de
tiros ininterruptos vinham de todos os lados. Era gente
correndo e caindo, gente gritando, crianças escondendo-se debaixo de carroças
estacionadas, mocinhas tropeçando na barra dos vestidos,, cavalos relinchando e bois berrando.
Uma confusão jamais vista. Joe, não se sabe como nem porquê, foi
atingido na cabeça. Despencou na calçada e, em segundos, morreu ali mesmo,
sangrando...
Nunca se viu tanta gente reunida num funeral.
O tempo corria e as investigações não
caminhavam. Um homem trabalhador e de família tradicional teve o cérebro
perfurado por um tiro perdido e certeiro de colt. O culpado tinha que ser encontrado.
Enquanto isso, a família
Goldstein desmoronava. O filho mais velho perdia-se na bebida, a mãe
tresloucada andava sem rumo falando sozinha. Rose, corroída pelo
ódio que virou sede de vingança, encheu-se de valentia. Atirava com tiro
rápido e certeiro e dominava o cavalo no galope. Ofereceu ajuda ao
xerife: "Mulher não se mete nisso." A moça insistiu...
insistiu..., mas não teve jeito. A rejeição jamais seria aceita e
provocou um revés na vida de Rose. Uma pistoleira convicta nascia ali.
Há anos e anos que Oldtown não ouvia mais falar
naquela moça. Seu nome caiu no esquecimento até que o capelão da
cidade recebeu mensagem do governador do Estado de Arkansas:
"Acabamos de
enterrar o corpo da justiceira Rose Goldstein, que, friamente, matava muitos
contra a lei, mas sempre protegendo os mais fracos.
The thorny Rose (a
Rosa espinhosa) são as inscrições na sua tumba fria e escura."
Cemitério de Arlington - em Suntown (Arkansas)
"No velho Oeste, ela nasceu e entre
bravos se criou. Seu nome em lenda se tornou..."
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