Helena
Christianne Vieira
Helena estava lendo um romance
meloso. A cada página, um pote de mel era despejado em seu coração. O dia
estava escuro, a neblina enchia o ar de melancolia e solidão. Sentia arrepios
cada vez que seu personagem favorito se declarava para a protagonista. Parecia
ouvir aquela voz carregada de carinho,
em cada palavra. O coração aos saltos, batia descompassado, e a pele alva,
clara como neve, se enrubescia, queimava. Sentia tanta emoção naquelas linhas,
como se as declarações fossem para ela.
De tempos em tempos tomava fôlego
e um pouco de água, para voltar à realidade.
Tinha que voltar a realidade, sua vida não era um romance.
Foi até a cozinha. A casa de
repente estava escura e a luz tênue da
noite, tomava conta do ambiente. Nem reparara que o tempo havia passado,
naquele entardecer quieto. Foi acendendo todos os cômodos, e chegando na sala ouviu
um grito.
Alguém, pedia socorro. Atônita,
foi lentamente até a grande janela da sala. Se escondeu atrás da cortina, o coração aos saltos, a alertava
de um perigo iminente. Por trás do tecido empoeirado, olhava a rua quieta.
Do outro lado da rua, uma
janela se abriu. Helena viu um vulto. Um homem de olhar sorrateiro se
esgueirara na penumbra. Assustada, desiquilibrou-se. Em pânico, arrepios subiam-lhe
a coluna. Sentia o corpo mole, mas a mente trabalhava a mil por hora na tentativa de entender
o que vira. Ouviu passos, no corredor.
Eles pareciam se aproximar, rapidamente.
Um toc toc toc na porta, tirou-a
dos devaneios. Tinha que ser corajosa, enfrentar o perigo. Uma voz metálica,
chamou pelo seu nome. Tudo ruiu naquele instante.
Helena sentiu corpo gelar. A
passos lentos se aproximou da porta e no olho mágico, tentou reconhecer o
estranho que a chamava.
Na tentativa de controlar
suas emoções, respirou lentamente, tentando fingir confiança, e abriu a porta.
Ali estava Otavio, seu
grande amigo, que voltara do Japāo e foi visitá-la de surpresa. Por estar
gripado, ela não reconhecera a voz.
Feliz e surpresa, ela se
jogou no seu abraço , estava segura.
Junto dele não correria
perigo. Pediu que entrasse logo, o dia já fora repleto de surpresas.
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