Um mapa científico de previsões
Suzana da Cunha
Lima
Toda minha
família gosta de cartomantes, videntes, horóscopos, qualquer coisa que remeta
ao imponderável, à fantasia e ao não conhecido.
Não pautamos
nossa vida por estas previsões, mas é
claro que prestamos muita atenção às
coisas boas: você vai fazer uma viagem, vão lhe pagar aquela dívida, seu chefe
a admira, logo vem uma promoção e, por último e mais desejado, seu amor vai
retornar.
As situações
tratadas são sempre situações de vida, que ocorrem praticamente com qualquer um
e todo bom vidente nos presenteia com uma quota razoável de fatos positivos. E
com isso emitimos uma boa energia positiva, levando o Universo a conspirar com
a gente.
Claro, a tal
viagem pode ser ali, para Ubatuba, a dívida se referir ao adiantamento para
conserto do carro de uma amiga, meu chefe pode estar me admirando por razões
que nada tem a ver com competência e a promoção fazer parte do meu plano de
carreira. Não importa, notícia boa nos
deixa alegre e geralmente flutuamos de
felicidade diante da possibilidade de um
antigo amor nos querer de volta, mesmo que ele tenha sido um bom malandro.
O importante
nestas consultas, é sairmos alegres e com a certeza que o mundo é um lugar
bacana para se viver.
Fui a muitos
desses profissionais e guardo boas recordações, algumas até hilárias, destes encontros. Só para constar, o último era um psicólogo
formado, homem sério, de uns quarenta anos, de pouco riso e nenhuma interação
com seus consulentes. Mas tinha fama de alta porcentagem de acertos e resolvi
experimentar. Levei uma fita para gravar a consulta e toda vez que o
interrompia para perguntar algo, ele parava de gravar, meio aborrecido e
respondia bem secamente. Claro que não
gostei, mas o homem era bem recomendado, eu já estava lá e tinha pago, então
resolvi ficar até o fim.
Ele teve
notáveis acertos sobre minha infância e
mocidade, meu temperamento e até de meu casamento. Ou eu sou um livro aberto,
ou minha vida é muito comum, ou eu “ajeitava” sua fala às minhas experiências
passadas, para não perder o crédito e continuar acreditando. No final, preparou um mapa chinês ou japonês,
não me lembro, me informando que aquela hora de falação estava toda ali. Qualquer um que soubesse interpretar o mapa,
diria sempre as mesmas coisas. Era científico.
Mas o que me
chamou a atenção, na verdade, foram duas
coisas que ele asseverou que iam acontecer comigo:
- 1) Que eu, quando
estivesse com cinquenta, sessenta anos, ia ter um “boom” na vida, ia ser
reconhecida e admirada internacionalmente. Estou esperando este “boom” até
agora e já passei um bocado dos sessenta.
2) - Outra coisa
que soaria mal para pessoas impressionáveis:
lá pelos meus oitenta e dois anos, (com esta precisão), ele não via mais
sinais de vida no meu mapa.
Esta previsão vou ter que aguardar para
conferir. Ainda falta um pouquinho.
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