O diário proibido
Christianne Vieira
Valéria entrou em casa feito
um tufão, estava muito atrasada, e ainda tinha muitas trabalho para entregar.
A agência de publicidade tinha
enxugado o quadro de funcionários, e os que ficaram agora acumulavam funções. Melhor é ter emprego, pensava todos os dias, e paciência, tinha que correr mais.
Sempre foi uma mulher ativa,
acumulava um milhão de atividades em um único dia, agora, mãe de dois meninos,
e trabalhando dobrado, parecia uma formiga atômica.
Deixava os meninos bem cedo
na escola, e iniciava uma agenda, que só iria ser encerrada, após colocá-los na
cama, lá pelas nove da noite.
Sobrava um tempinho para ela
conversar com seu marido, antes de se jogar , um zumbi, na cama.
Arrumou uma nova empregada,
e explicou várias vezes a rotina, mesmo assim não conseguia encontrar nada.
Precisava achar uma caixa que trouxe da casa dos seus pais, da época da
faculdade.
Depois de revirar, alguns
armários, encontrou a caixa, com a tampa entreaberta, o que lhe pareceu muito
estranho, e para a sua surpresa, seu diário da adolescência, estava, aberto.
Poderia perder alguns
minutos, abriu-o e começou a ler. Nas primeiras páginas, bateu o
maior pânico, esse diário era do seu pior ano, onde sua rebeldia fez com que tivesse
feito coisas terríveis, caso alguém soubesse, seria a maior vergonha. Pensava
que ele tinha sido jogado fora, justo esse, o pior, estava ali na sua frente. Naquele
ano, seus amigos foram a turma do
fundão, o terror da escola, seu rendimento escolar fora péssimo, seu
namoradinho, uma tranqueira, e provavelmente tudo que escrevera naquelas páginas,
lhe dariam enxaqueca. Gastou muitos anos de terapia, para esquecê-lo.
Era casada com Artur, um
homem muito sério e tradicional, ele nem sequer poderia sonhar, que a mãe de
seus filhos fora capaz de fazer tudo aquilo.
Mas, quem poderia ter o
encontrado o diário antes dela? Só poderia
ter sido ele, ou a Nete.
Artur estava viajando a
trabalho durante a semana toda, não seria bom conversar sobre isso à distância. Toda vez que
ela tinha algum assunto delicado para tratar com seu marido, procurava uma boa
hora para fazê-lo. Definitivamente essa semana não teria esse momento.
Teria que se livrar daquele diário.
Primeiro, rasgou suas
primeiras páginas, onde tinham seus dados pessoais, picou em vários pedaços, em
seguida folheou, e as que considerou
serem piores, arrancou, e picou também.
Achou melhor levar o que sobrara para um lixo distante de casa, colocou dentro
de uma sacola preta, lacrou com fita crepe, e jogou no porta-malas de seu carro.
Sua semana foi intensa, e passou
rapidamente. Quando chegou a sexta feira, seu marido pediu que ela o buscasse
no aeroporto, estava com saudades.
Qual foi a sua surpresa
quando abriu o porta-malas para guardar a mala, e encontrou o pacote, ela olhou
para ele, desconcertada, e disse que mais tarde conversariam.
Artur achou a atitude
estranha, mas estava cansado da viagem, e concordou em esperar.
Enquanto isso Valeria
pensava como poderia explicar, que fizera tantas coisas erradas, no seu passado.
Ela o amava demais, não queria carregar marcas de um passado sem juízo.
Tinham um combinado, deveriam
ser honestos e sinceros, um com o outro,
naquelas páginas, um mundo distante de sua vida atual, como se relatasse os
dias de uma estranha. No dia seguinte, encontrou um momento bem calmo, sentou
no sofá ao lado de Artur , e lhe contou, omitindo várias partes, que aquele era
seu diário, que encontrara e ela havia escondido, para que os meninos não o
lessem.
Ele a ouviu, calmamente, a abraçou e disse não se
importar com esse assunto, recomendou que ela o jogasse fora. Valéria respirou
aliviada, talvez seus segredos continuassem seguros e distantes, mas a dúvida, de
quem o lera permaneceria para sempre. Por mais que tentasse, sabia que não poderia
fugir daquelas páginas.
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