Top Model Escolar
Rejane Martins
Havia acabado de completar sete anos e logo
iniciaria minha vida acadêmica. Estava muito ansiosa, contava os dias para as
aulas começarem, afinal aquela vidinha de parquinho infantil já fazia parte do
meu passado.
Enfim o tão esperado dia chegou, acordei cedo mal
consegui engolir o café da manhã, cumpri todas as etapas de higiene, que aquele
dia pareceram mais enfadonhas que o normal, fui colocar meu uniforme novinho.
Camisa branca tão alva que até feria os olhos,
fechada com uma gravata preta no colarinho, saia pregueada no tom azul escuro,
meias brancas de tamanho três quartos e sapatos preto modelo colegial.
A descrição das vestimentas parece mais um lugar
comum, mas as minhas tinha um diferencial. Meu tio, um alfaiate de profissão,
foi incumbido de sua confecção, e não se deu de rogado, ele abriu quatro
casinhas no cós da saia, e na blusa pregou quatro botões de madrepérola em
forma de meia-lua colados sobre um apoio prateado que tinha o diâmetro pouco
maior e isto conferia ao conjunto anel fino e delicado fazendo toda a diferença.
Duvido que alguém estaria tão bem vestida quanto eu
na escola. Minha camisa jamais sairia de dentro da saia, teria toda aquela
elegância mesmo depois do intervalo quando todos nós brincaremos de corrida,
pique esconde, pula corda. Poderia estar até suja mas continuaria elegante.
Iniciou-se a aula inaugural de minha vida,
lembro-me da professora, seu nome? Dona Leonor, com certeza ela teceria algum
comentário sobre minha roupa, afinal ela parecia uma pessoa descolada e muito
antenada com a tendência da época. Mas que nada, fiquei sentada na carteira o
período escolar inteiro, ninguém notou meus preciosos botões.
Ai
Meu Deus que frustração, isto então é a vida escolar um monte de crianças sentadas
uma atrás de outras caladas com a única missão de ouvir o conteúdo que
precisava aprender coisa chata demais ninguém olha para ninguém assim como perceberiam
o modelo original que eu desfilei a manhã inteira sem receber um elogiozinho
sequer as outras meninas todas desmilinguidas e eu inteirona chiquérrima se bem
que havia meninas muito bonitas nem precisavam de roupa bonita fazer o que né
eu que precisava me valer de qualquer coisa para chamar a atenção sou mesmo
feia gorda demais cabelo todo rebelde eu bem que podia nascer um pouco mais
bonitinha eu merecia isto e não era só isso era uma criança muito chata calada
sem graça morria de vergonha de me expor não era nem alegre nem simpática
parecia um bicho do mato.
De repente o sinal avisando o final do período soou
e eu voltei para a casa meio frustrada, meio decepcionada, mas como sempre não
comentei com ninguém não suporia a gozação de meus irmãos.
Dia seguinte iniciava-se a rotina na preparação
para a escola desta vez sem ansiedades nem expectativas. Chego ao portão da
escola e a diretora estava lá nos recepcionando, para minha surpresa ela se
encantou com a solução dada ao meu uniforme assim ele não se desestruturaria
durante o dia.
Sorri vitoriosa, mas assim que passei pelo portão o
elogio não surtiu o efeito que eu imaginava que teria, esqueci-o imediatamente,
sentei na minha carteira e ouvi o conteúdo escolar até a hora de ir para casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.