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quarta-feira, 18 de junho de 2025

SOBRE O CONTO: AMOR — DE CLARICE LISPECTOR! - Dinah Ribeiro de Amorim.

 


SOBRE O CONTO: AMOR — DE CLARICE LISPECTOR!

Dinah Ribeiro de Amorim.

 

 

Clarice Lispector analisa seu personagem Ana como uma psicóloga, visando expor mais os sentimentos diante das cenas banais de acontecimentos cotidianos.

Retrata Ana como uma simples e completa dona de casa, muito preocupada em ser perfeita como esposa e mãe, até determinados momentos do dia, procurando, em presença familiar, estar satisfeita com tudo que faz. Mas, quando fica só, e filhos vão para a escola e marido ao trabalho, se perde, temendo a hora solitária ao ficar em casa, super organizada e limpa, temendo o momento de solidão. Em suma, realiza suas obrigações com prazer exagerado, sem sentir a felicidade que tudo isso deveria lhe proporcionar. Não consegue ficar sozinha e inventa sempre algo para fazer na rua, como uma válvula de escape. Não é completamente feliz, embora sem problemas matrimoniais.

Quando jovem, sentia necessidade de fincar raízes num apoio e isso a maternidade e o casamento lhe trouxeram. Tornou-se tão perfeita que até desenvolve técnicas artísticas com relação ao cumprimento de suas obrigações na casa. Veio, por sorte, nascer mulher e isso o faz com perfeição.

Seu único medo era não ser necessária, as horas em que não dependiam dela, ficar sozinha. Sentia-se feliz ao lado deles, necessitando dela.

Toma um bonde para realizar as compras do dia, não sente ternura nem devoção, mas uma necessidade da família. Seus cunhados iriam jantar em sua casa.

O bonde balança nos trilhos e ela derruba as compras no chão, principalmente os ovos, que se espalham e mancham sua sacola de tricô. Sente-se incapaz de se mover e dá um grito ao ver tanta sujeira, em público. O bonde, dando uma parada, faz Ana percorrer com os olhos, os transeuntes, parando, chocada, com uma cena que a choca e a modifica totalmente. Um homem cego, na calçada, que masca chicles… Esse homem cego, mascando chicles, ora sorrindo, ora não, impressiona tanto pela sua capacidade de existir, num mundo que sempre achou perfeito, que modifica totalmente sua maneira de pensar e vai persegui-la pela tarde toda, talvez pela sua interpretação atual de vida.

O bonde segue seu caminho, ela se defende da sujeira que fez com os ovos, mas não consegue se esquecer do cego na calçada, que lhe fica no pensamento. Sente-o como se não sofresse ou um certo arrependimento por nunca sofrer por um cego.

Como podia existir alguém deficiente tendo ela a sua vida tão perfeita?

Desperta no coração a bondade que, para ela, transforma-se também num inferno. Sentir piedade de um ser não perfeito e forte como ela. Teria que virar-se uma benfeitora, beijar as pessoas doentes nesse mundo. Teria que transformar suas ambições na vida.

Vai pensando em mudanças de que não se sente capaz, quando percebe que passou do ponto de partida. Desce perto do Jardim Botânico, prestes a fechar, já é o escuro aparecendo.

Entrou em crise, verificando com amor as plantas existentes naquele parque tão próximo. Nunca reparara nas flores, bichinhos, através da quase escuridão. Sentiu-se perdida, como se algum lobisomem aparecesse e a possuísse.

Nunca dera atenção a esse lado da vida, era o céu e, ao mesmo tempo, o inferno, com as coisas que poderiam fazer o mal.

E a figura do cego que masca chicles ainda não lhe sai da cabeça.

Aos trancos e barrancos, consegue chegar em casa, um prédio, apartamento no nono andar, esperando as crianças da escola e preparando o jantar.

Ajudada pela criada, na cozinha, enquanto bate com força os bifes. Talvez consiga descontar com alívio a pressão dos seus pensamentos.

O filho, quando chega, corre a abraçá-la, mas foge para o quarto, ao vê-la tão transtornada. Nunca a vira assim.

Durante o jantar, tudo corre normalmente, ela não demonstra as dúvidas que teve durante aquela tarde.

Uma mulher que fazia tudo por obrigação, sua vida era completa e forte, talvez não tão feliz como julgava, quando vê outro lado da vida.

Seu problema foi ter avistado o cego que mascava chicles e que nem pensava, talvez, que existisse. A vida, sem sua vontade, mostra o outro lado da existência.

Finalmente, nos braços do marido carinhoso, esquece momentaneamente os arrependimentos e conflitos que teve.

E a vida volta ao normal de sempre! Será?

 

 

 

 

 

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